Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Casos de depressão e ansiedade aumentaram na pandemia; mulheres e jovens são os mais afetados https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/13/casos-de-depressao-e-ansiedade-aumentaram-na-pandemia-mulheres-e-jovens-sao-os-mais-afetados/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/13/casos-de-depressao-e-ansiedade-aumentaram-na-pandemia-mulheres-e-jovens-sao-os-mais-afetados/#respond Wed, 13 Oct 2021 10:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/b041f4c7c75675befd388ee3cc41c09df78a841d6ad8114d098c8f63567accf0_61051536d4e63-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1224 Uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet, na sexta-feira (8), mostra que os casos de depressão aumentaram 28% e os de ansiedade 26% no mundo todo durante a pandemia da Covid-19. As mulheres e os jovens entre 20 e 24 anos foram os mais afetados.

O estudo é liderado por Damian Santomauro, da Escola de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Queensland, na Austrália, e envolveu mais 65 pesquisadores. A equipe internacional se baseou em 48 relatórios, publicados entre 1º de janeiro de 2020 e 29 de janeiro de 2021, que incluíam dados sobre a prevalência de transtornos depressivos ou de ansiedade em 204 países e territórios diferentes antes e durante a pandemia.

O grupo também analisou como essas mudanças na prevalência foram associadas aos marcadores do impacto da pandemia, como a mobilidade humana e a taxa de infecção diária.

“Este é, até onde sabemos, o primeiro estudo a identificar e analisar sistematicamente os dados da pesquisa de saúde mental da população e quantificar o impacto resultante da pandemia da Covid-19 na prevalência desses dois transtornos por localização, idade e sexo em 2020”, escreveram os autores.

A equipe encabeçada por Santomauro estima que ocorreram 246 milhões de casos de transtorno depressivo maior e 374 milhões de casos de transtornos de ansiedade em todo o mundo em 2020 –o aumento do primeiro foi 28% e o do segundo 26% maior do que o esperado se a pandemia não tivesse existido.

Cerca de dois terços (66,67%) desses casos extras de transtorno depressivo e 68% dos casos de ansiedade ocorreram entre mulheres. Os jovens foram mais afetados do que os adultos mais velhos, com casos extras em pessoas entre 20 e 24 anos.

“As responsabilidades adicionais de cuidar da família devido ao fechamento de escolas ou doenças de familiares têm maior probabilidade de recair sobre as mulheres. Elas têm maior probabilidade de sofrer desvantagens financeiras durante a pandemia devido a salários mais baixos, menos economias e empregos menos seguros do que os homens”, observaram os autores. “As mulheres também são mais propensas a serem vítimas de violência doméstica, cuja prevalência aumentou durante o confinamento.”

“Também estimamos uma mudança maior na prevalência de transtorno depressivo maior e transtornos de ansiedade entre grupos mais jovens do que entre grupos de idade mais avançada. A Unesco declarou a Covid-19 como a interrupção mais severa da educação global na história, estimando que 1,6 bilhão de alunos em mais de 190 países ficaram totalmente ou parcialmente fora da escola em 2020. Com o fechamento de escolas e restrições sociais mais amplas, os jovens foram impedidos de se reunir em espaços físicos, afetando sua capacidade de aprender e de interação com os pares. Além disso, os jovens têm maior probabilidade de ficar desempregados durante e após as crises econômicas do que as pessoas mais velhas”, relata o estudo.

A pesquisa conclui que “a pandemia gerou uma urgência cada vez maior para fortalecer os sistemas de saúde mental na maioria dos países. As estratégias de mitigação podem incorporar maneiras de promover o bem-estar mental e direcionar os determinantes de saúde mental precária e intervenções para tratar pessoas com transtorno mental. Não tomar medidas para lidar com o fardo do transtorno depressivo maior e dos transtornos de ansiedade não deve ser uma opção”.

O levantamento foi financiado pelo Queensland Health, Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica e pela Fundação Bill e Melinda Gates.

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MeToo Brasil lança canal de suporte psicológico para vítimas de violência sexual usando Uber https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/14/metoo-brasil-lanca-canal-de-suporte-psicologico-para-vitimas-de-violencia-sexual-usando-uber/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/14/metoo-brasil-lanca-canal-de-suporte-psicologico-para-vitimas-de-violencia-sexual-usando-uber/#respond Wed, 15 Sep 2021 00:21:06 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/uber-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1052 O MeToo Brasil, movimento que acolhe vítimas de abuso sexual, lança um canal de suporte psicológico para pessoas de todos os gêneros, sejam usuários, motoristas ou entregadores, que tenham passado por esse tipo de violência em viagens ou entregas usando Uber. A iniciativa é patrocinada pelo próprio aplicativo.

As denúncias serão direcionadas ao canal do MeToo após a pessoa reportar o fato no aplicativo da Uber.

A assistência psicológica consiste em até quatro sessões de uma hora cada, que serão conduzidas por psicólogas especializadas e buscam escutar o relato de forma empática e sem julgamento. O objetivo é dar um primeiro acolhimento e auxiliar a vítima para que ela se sinta segura e apoiada ao enfrentar o trauma vivido. Os atendimentos serão sigilosos e a Uber não terá acesso a nenhuma informação após o encaminhamento para o MeToo.

O MeToo dá apoio psicológico, jurídico e assistencial junto às voluntárias da organização. Lançado no Brasil há um ano, o movimento já recebeu 151 relatos de violência sexual, entre os quais 68 mulheres que receberam apoio e foram encaminhadas à rede de proteção do Estado. Do total de denúncias recebidas, 55% eram casos de violência doméstica.

“No Brasil, a violência sexual se dá majoritariamente no ambiente doméstico, mas sabemos que existe muita violência no espaço público, como no transporte. A subnotificação é o maior problema: as vítimas têm muito medo, sentem culpa e a maioria não consegue falar sobre o que aconteceu”, explica Marina Ganzarolli, advogada e idealizadora do MeToo Brasil.

“Sabemos dos desafios que ainda existem no enfrentamento à violência contra a mulher e seguimos investindo em ferramentas e projetos de combate a essas condutas. Mas acreditamos muito na importância de denunciar casos de assédio, violência e qualquer comportamento que tenha feito a pessoa se sentir desconfortável. Depois de revisar nosso processo de atendimento e, com a ajuda da deFEMde [Rede Feminista de Juristas], treinar nossos agentes e elaborar respostas mais empáticas, estamos dando mais um passo para oferecer um acolhimento mais completo” afirma Celeste Lazzerini, gerente de operações para segurança na América Latina da Uber.

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Mulheres negras e periféricas recebem apoio psicológico em projeto do Instituto Cactus e da Casa de Marias https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/08/09/mulheres-negras-e-perifericas-recebem-apoio-psicologico-em-projeto-do-instituto-cactus-e-da-casa-de-marias/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/08/09/mulheres-negras-e-perifericas-recebem-apoio-psicologico-em-projeto-do-instituto-cactus-e-da-casa-de-marias/#respond Mon, 09 Aug 2021 22:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/assedio-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=948 O Instituto Cactus e a Casa de Marias oferecem acolhimento psicológico emergencial gratuito a mulheres negras, indígenas e periféricas. O projeto, que inicia os atendimentos nesta quarta (11), disponibiliza assistência de saúde mental a grupos em situação de vulnerabilidade.

Realizada de forma remota, a iniciativa viabiliza um espaço de escuta conduzido por uma equipe de psicoterapeutas para mulheres de todo o país que precisam de cuidados psicológicos.

A ação dedica atenção especial às questões que envolvem classe, gênero, raça e território. Para participar, é preciso preencher um formulário e entrar em contato pelo WhatsApp (11) 95851-3330.

Os encontros virtuais acontecem às quartas, às 9h. As inscrições são abertas às segundas-feiras.

“Nosso espaço nasceu para ser mesmo uma casa, para criar raízes, para ser oásis em tempos difíceis. A Casa de Marias é, acima de tudo, um espaço de resistência. E, por isso, a nossa missão é cuidar, escutar e acolher. Promover processos terapêuticos e curativos não só dentro dos nossos consultórios, mas fora deles também”, reforça Ana Carolina Barros Silva, coordenadora geral da Casa de Marias.

A Casa de Marias é um espaço de acolhimento e apoio psicológico para mulheres em sofrimento mental ou que necessitam de cuidados específicos, composta por um corpo clínico de mulheres, em sua maioria, negras e periféricas.

Já o Instituto Cactus é uma organização sem fins lucrativos que trabalha para a prevenção e a promoção da saúde mental no Brasil por meio da geração de conhecimento e evidências, identificação e multiplicação de boas práticas, incidência em políticas públicas, articulação de ecossistemas e conscientização da sociedade sobre o tema.

O objetivo da parceria do Cactus e da Casa de Marias com esse projeto é chamar a atenção para a necessidade de pensar em projetos de saúde mental segmentadas, realizar o acolhimento de mulheres em situação de vulnerabilidade e, ainda, gerar insumos para validar o quanto este tipo de escuta emergencial, principalmente a feita em grupos de apoio em um formato inovador, como uma modalidade que pode ser institucionalizada e replicada em contextos de urgência.

“Enquanto houver preconceitos e vieses subjetivos não combatidos e desmistificados, o atendimento à saúde mental feminina, especialmente de mulheres negras e periféricas, sempre será insuficiente e enviesado. Por isso, é necessário termos políticas mais focadas nos problemas de saúde mental da mulher, tanto individual quanto estruturalmente, assim como o fortalecimento de outras instituições e projetos de acolhimento que possam reforçar o olhar intersetorial da saúde mental”, afirma Maria Fernanda Resende Quartiero, diretora-presidente do Instituto Cactus.

Segundo o Instituto Cactus, para além de fatores sociais, de empregabilidade, de recursos e disponibilidade financeira, agendas dos filhos, da casa e falta de perspectivas, as mulheres podem vivenciar diversos transtornos mentais associados ao esgotamento emocional.

A crise provocada pela pandemia de Covid-19 agravou muito esse cenário. Com a perda da renda e o aumento da desigualdade, os efeitos da crise socioeconômica na saúde mental são ainda piores para as pessoas em situação de vulnerabilidade.

Com o isolamento social, a disparidade de gênero, a violência doméstica e a sobrecarga das mulheres aumentaram ao mesmo tempo em que as redes de suporte diminuíram, uma vez que muitas vítimas ficaram confinadas com seus agressores sem possibilidade de ajuda externa. Todos esses fatores favorecem a prevalência de doenças mentais nas mulheres, por isso precisamos cuidar desse público com ainda mais urgência.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera a determinação do gênero na diferença que mulheres e homens têm sobre o poder e o controle dos determinantes socioeconômicos em suas vidas, posição social e forma de tratamento na sociedade. Além disso, enfatiza que o gênero determina diferentes suscetibilidades e exposições a riscos específicos para a saúde mental.

O projeto é coordenado pelas psicólogas Camila Generoso, Deisy Pessoa, Eneida de Paula e Lucila Xavier.

Acolhimento Instituto Cactus e da Casa de Marias
Inscrição clique aqui
Contato WhatsApp (11) 95851-3330 ou email contato@casademarias.com

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Exaustão e incompreensão são principais queixas das mulheres, diz psicanalista Manuela Xavier https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/exaustao-e-incompreensao-sao-principais-queixas-das-mulheres-diz-psicanalista-manuela-xavier/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/exaustao-e-incompreensao-sao-principais-queixas-das-mulheres-diz-psicanalista-manuela-xavier/#respond Mon, 08 Mar 2021 10:00:31 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/manu-1-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=701 Manuela Xavier, 32, quer abrir os olhos das mulheres. Formada em psicologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense), mestre e doutora pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), ela atua como psicanalista em seu consultório em Copacabana, na zona sul do Rio, e tem mais de 300 mil seguidores no Instagram.

Na rede social, Manuela compartilha informações sobre como as mulheres podem identificar sinais de violência e sair de um relacionamento abusivo. Para ilustrar situações de abuso, a psicanalista costuma comentar casos de pessoas famosas e, além de mais seguidores, também ganha haters na internet.

Nos primeiros dias de exibição do BBB21 (Big Brother Brasil), reality show da Rede Globo, por exemplo, ela analisou o comportamento do Fiuk na casa e se tornou alvo de fãs do cantor.

Polêmicas à parte, Manuela conta que seu objetivo é transmitir conhecimento sobre a causa feminista. “As mulheres não precisam frequentar a universidade para saber o que é patriarcado“, afirma.

Em março do ano passado, atenta em relação a como o isolamento social poderia ter impacto na violência doméstica, ela criou os coletivos Escuta Ética, com psicólogas que atendem voluntariamente mulheres em situação de vulnerabilidade, e Nós Seguras, com advogadas que prestam apoio jurídico gratuito em situações de violência.

Com 12 anos de experiência em clínica, Manuela revela que as mulheres ainda ficam constrangidas ao falar sobre um relacionamento abusivo porque se sentem culpadas. “Muitas mulheres têm vergonha porque entendem que isso é uma culpabilização individual. Que aquela violência que elas estão sofrendo é culpa delas. E que elas estão fazendo por merecer aquilo. Elas não entendem que é uma violência coletiva e estrutural”, diz.

A psicanalista observa que as principais queixas das mulheres em consultório são exaustão e incompreensão. “Eu diria que a exaustão acontece porque existe uma sobrecarga enorme sobre as mulheres. E a incompreensão porque elas sentem que ninguém entende o que elas dizem, já que elas são sempre tachadas de loucas, exageradas, dramáticas.”

Por que você decidiu trabalhar com pacientes mulheres e com temas relacionados ao feminismo? 
Foi pela própria clínica. Atendo clinicamente há 12 anos e a demanda na clínica é majoritariamente feminina. É um exercício para pensar: se as mulheres procuram mais a clínica é por que esse é um espaço exclusivo para mulheres? Não, não é só para mulheres. Mas por que as mulheres trazem mais esse sofrimento? Há muitas mulheres sofrendo e muitas mulheres procurando recursos. E os homens? Como estão lidando com o sofrimento deles? Acho que essa é uma questão. Então fui fazendo essa constatação de que a clínica é um espaço que as mulheres se sentem convocadas a ocupar. Tanto porque elas são maioria nos cursos de psicologia quanto porque são maioria na clínica também. As mulheres estão convocadas a pensar seus sofrimentos.

E porque, escutando as histórias das mulheres, percebi que certos sofrimentos não são individuais. Muitos sofrimentos que as mulheres levam ao consultório são sofrimentos coletivos. Não é possível que elas estão tendo os mesmo problemas individualmente. Todas são muito parecidas? Ou é um sistema que produz sofrimentos muito específicos nas mulheres?

Fui entendo que a clínica é majoritariamente feminina, os cursos de psicologia são majoritariamente femininos, as dores das mulheres são, de forma coletiva, muito parecidos. Então existe um sistema de opressão que causa esse sofrimento nas mulheres. Foi a partir daí que me aprofundei nesse tema, no feminismo, e nesse tipo de sofrimento que atravessa todas nós.

Com as redes sociais estimulando debates como o que é um relacionamento abusivo e os tipos de agressão contra as mulheres (física, sexual, psicológica, patrimonial e moral), você acha que as mulheres estão ficando mais atentas e tendo maior facilidade para sair de –ou até mesmo evitar– um relacionamento abusivo nos últimos anos? 
Sim, acho que as mulheres têm mais facilidade para identificar um relacionamento abusivo atualmente. Como esse tema tem sido massivamente falado, elas têm mais facilidade para identificar, porque hoje em dia é mais difícil você cair no golpe do cara que é ciumentão, do cara que é valentão. Você já consegue sacar que tem um perigo.

Apesar de ainda existir uma contracorrente que valoriza muito esses aspectos da virilidade. A gente identifica em certas músicas, por exemplo. No sertanejo, algumas têm refrões do tipo: “Vai namorar comigo, sim! Não quero nem saber, você vai ser minha, sim”. Então existe ainda uma contracorrente cultural que reforça os estereótipos de masculinidade, de virilidade, de violência.

Mas existe um outro ponto também que é o fato de a violência ir se remasterizando. Ela vai se atualizando. A gente vai identificando os sinais, os padrões de violência, mas os homens, os agressores, vão percebendo no que as mulheres já não caem mais. Então tem que mudar a violência. Não que haja uma reunião entre os homens e eles decidem o que vão fazer: “Nossa, vamos mudar nossa tática”. Não é isso, claro. Mas os abusos vão ocorrendo de outras formas. E nós vamos ter que ficar cada mais atentas aos sinais.

Antigamente, por exemplo, a gente achava que violência era só o cara bater. Depois a gente entendeu que xingar também é violento, que o cara segurar o nosso dinheiro também é violento, que fazer tortura psicológica também é violento. A gente entendeu também que o cara ignorar e tratar com frieza é violento. Então hoje as mulheres estão mais atentas e conseguem identificar esses sinais de abuso.

E também, por causa das grandes denúncias que se tornam públicas, as mulheres tomam força para conseguir sair de um relacionamento assim. Porque entendem que aquela violência que elas vivem não é culpa delas e isso dá força para elas saírem. Elas entendem que isso é uma coisa estrutural. Mas acho que também existem outras violências sendo atualizadas que a gente vai precisar fazer o esforço de mapear, que a gente ainda não sacou muito bem.

O que as mulheres de 2021 têm de vantagem em relação às mulheres do período pré-internet e redes sociais? Hoje elas têm uma orientação melhor sobre como agir e para quem denunciar uma agressão, por exemplo? 
A informação e o trabalho que o movimento feminista vem fazendo, desde as sufragistas, e agora com essa nova onda de feminismo que se espalha pela internet, que a gente dissemina informação. Hoje meninas de 14 anos já estão ligadas no que é patriarcado, já falam sofre dar mais poder às mulheres. Isso se dá pela informação que circula. Hoje em dia é mais fácil a gente ter esse acesso.

As mulheres não precisam frequentar a universidade para saber o que é patriarcado, porque está aí na internet, está na música. Hoje a gente tem várias cantoras feministas, tem documentários feministas, está nos veículos de informação. Porque já se entendeu que certas coisas não vão passar mais, que a gente vem fazendo uma pressão.

Acho que a vantagem que as mulheres têm atualmente é graças aos avanços do movimento feminista e pela própria internet, por onde a comunicação circula. A notícia de que uma mulher que sofre violência lá no sertão de Pernambuco chega ao Brasil inteiro. Ou uma brasileira for agredida na Suécia, isso chega no Brasil inteiro também. Essa informação circula de uma forma muito potente.

E hoje temos outras narrativas. Com a internet, a gente tem uma democracia maior das narrativas. A informação não está mais só no Jornal Nacional. Temos jornalistas independentes, temos outras mídias independentes e de livre acesso. Com isso, temos a ascensão de outras vozes. Essa é uma vantagem.

Também há a orientação de coletivos que estão presentes nas redes sociais e orientam como agir, mostrando os lugares que a mulher deve procurar em caso de violência. Também temos a delegacia da mulher, que é  conquista.

As mulheres ainda têm vergonha de falar sobre um relacionamento abusivo?
Sim. Por mais que haja o conhecimento, não vai ser hoje, não vai ser daqui a dez ou 50 anos que a gente vai mudar uma ideia implantada com séculos de opressão.

Muitas mulheres têm vergonha porque entendem que isso é uma culpabilização individual. Que aquela violência que elas estão sofrendo é culpa delas. E que elas estão fazendo por merecer aquilo. Elas não falam porque elas se sentem culpadas. Elas não entendem que é uma violência coletiva e estrutural.

Ninguém tem vergonha de dizer que foi assaltado, que caiu em algum lugar, porque quando você é assaltado ou quando você leva um tombo, você entende que não foi culpa sua. Mas quando você é violentada pelo seu parceiro, você tem vergonha de dizer porque acha que a pessoa para quem você vai contar não vai acreditar em você.

Isso acontece porque os abusadores sabem parecer muito legais, eles sabem ser muito convincentes. A mulher que vive a violência sabe que o cara é um agressor, mas ela sabe também que as pessoas com quem esse casal podem não acreditar nisso. Geralmente, as pessoas acham que esse cara é legal, é um cara inteligente, um cara articulado, um cara apaixonado, um cara cuidadoso. Faz parte da dinâmica do relacionamento abusivo o cara fazer essa cena para os outros. Esse, inclusive, é um dos sinais: o cara está fazendo muita declaração pública de amor? Desconfie desse lado.

Quais são as principais queixas que aos mulheres levam ao consultório? Existe uma queixa principal da mulher do século 21?
No geral, as queixas giram em torno de exaustão, cansaço e incompreensão. Esses são os sentimentos. Há muitas queixas de solidão, relacionamento também é uma queixa muito comum. Mas posso dizer que são abusos em geral. Abusos familiares que recaem sobre as mulheres, abusos de trabalho que recaem sobre as mulheres, com os assédios de trabalho e abusos nas relações.

Eu diria que a exaustão acontece porque existe uma sobrecarga enorme sobre as mulheres. E a incompreensão porque elas sentem que ninguém entende o que elas dizem, já que elas são sempre tachadas de loucas, exageradas, dramáticas.

Esses sintomas são comuns porque, nas narrativas dessas mulheres, essas queixas de abusos, abusos familiares, recaem de uma forma muito mais radical sobre as mulheres do que sobre os homens. Abusos nas relações de trabalho também, porque as mulheres são muito assediadas e abusadas no trabalho.

Se tem uma queixa da mulher do século 21 acho que é a dificuldade de se expressar. Elas são tachadas de raivosas quando expressam o que estão sentindo. É uma nova tática de silenciamento. É assim: você pode falar tudo, mas fala tudo para eu dizer que você está errada. É essa deslegitimação na denúncia.

A gente já ganhou o direito de falar, mas a gente ainda não ganhou o direito de ser ouvida. Porque é muito diferente. A gente ganhou o direito de falar, sim, não nego, mas a gente ainda não ganhou o direito de ser ouvida. A gente ainda é tachada de doida, dramática, chata. Acho que essa é uma queixa geral da mulher do século 21.

Vai demorar quantas décadas para a mulher ser respeitada e valorizada de igual para igual com um homem no ambiente de trabalho e na sociedade?
Não acho que vai demorar décadas, mas séculos. Porque o patriarcado é um sistema de poder e de forças muito poderoso e a gente vai precisar de muito tempo de representatividade, de disputa de narrativa, de redistribuição de renda, de outra implementação de políticas. No trabalho e na sociedade, a gente vai precisar de séculos de luta para conseguir sobreviver de uma forma mais digna, mais humana.

Qual é o seu objetivo com as informações que você compartilha nas redes sociais e com os cursos como a leitura dirigida do livro “O mito da beleza”, da escritora Naomi Wolf?
Meu objetivo é abrir os olhos das mulheres. Estou comprometida com o despertar das mulheres, com a emancipação das mulheres, para que as mulheres não se sintam sozinhas.

Em março do ano passado, eu já sabia que a pandemia impactaria ainda mais as mulheres e criei um coletivo de psicólogas, o Escuta Ética, com profissionais que atendem voluntariamente e gratuitamente outras mulheres em situação de vulnerabilidade e de violência. E também formei um coletivo de advogadas, o Nós Seguras, com profissionais que prestam assessoria e apoio jurídico gratuito a mulheres em situação de violência.

Quero que no meu perfil, com o meu trabalho, as mulheres sintam que elas têm lugar, sintam que elas têm acolhimento e apoio, e que elas tenham informação e conhecimento.

Que as mulheres que não tiveram oportunidade de frequentar uma universidade, que não tiveram oportunidade de ler livros com o da Naomi Wolf, os da Simone de Beauvoir, os da Angela Davis, os da Lélia Gonzalez, que essas mulheres possam ali ter as informações sobre essa estrutura que nos oprime.

Nós ficamos muito alienadas e relação a essas opressões porque a sociedade nos oferece substratos de alienação. É um programa de TV, é a fofoca dos famosos. E o meu trabalho é muito sobre ocupar esse lugar, como: A fofoca do famoso diz o que sobre a sua vida? A fofoca do famoso guarda uma lógica de opressão que atua na sua vida também, mulher, sabia?

O meu papel é ir traduzindo todas as informações que chegam nas músicas, nos filmes, na novela, na página de fofoca e como que isso dá sinais e denuncia a nossa engrenagem da opressão. O meu objetivo é mostrar para as mulheres como que funciona o sistema para que elas não se sintam sozinhas.

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Isolar quem é ‘diferente demais’ faz parte do estigma associado às doenças mentais, explica psiquiatra https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/09/isolar-quem-e-diferente-demais-faz-parte-do-estigma-associado-as-doencas-mentais-explica-psiquiatra/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/09/isolar-quem-e-diferente-demais-faz-parte-do-estigma-associado-as-doencas-mentais-explica-psiquiatra/#respond Tue, 09 Feb 2021 10:00:29 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/juqueri-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=631 O estigma associado às doenças mentais foi tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano. A preocupação sobre os cuidados com a saúde mental cresceu desde o início da pandemia da Covid-19.

Uma pesquisa divulgada em julho de 2020, realizada por cientistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), mostrou que mais da metade da população adulta do estado de São Paulo afirmou sentir ansiedade ou nervosismo com frequência desde o começo da quarentena.

Apesar disso, falar sobre transtornos mentais ainda é um tabu. “Muitas vezes, o paciente não busca ajuda por vergonha ou medo de que a sociedade o exclua ou o desvalorize”, conta a psiquiatra Jéssica Martani.

No passado, explica a médica, as pessoas que eram consideradas “diferentes demais” ou que “incomodavam demais”, como as que tinham ideias contrárias à Igreja ou ao governo, eram isoladas e encarceradas.

Esse estigma se perpetua até os dias de hoje, quando os sofrimentos psíquicos são ridicularizados ou minimizados com comentários como “depressão é falta de Deus” ou “falta de lavar louça”, observa Jéssica.

De onde vem esse estigma associado aos transtornos mentais? 
O estigma está condicionado a um conjunto de fatores históricos e um conjunto de dogmas cumulativamente passados de geração para geração. A partir daí, criam-se crenças tão enraizadas que os preconceitos começam a passar despercebidos, começam a se tornar­ normais e se entrelaçar em nossas mentes, passando por fim a virar uma verdade indubitável.

Esses preconceitos fazem, então, parte do cotidiano, das falas e dos pensamentos, ditando a cultura de uma sociedade.

O estigma e o preconceito em relação aos pacientes psiquiátricos surgiram há muito tempo. Na história da psiquiatria, eram colocados em encarceramento todas as pessoas que eram consideradas “diferentes demais” ou que “incomodavam demais”, como, por exemplo, pessoas que iam contra as leis, contra o governo. Na época da Inquisição, os que tinham condutas consideradas libertinas e contrarias aos dogmas da Igreja Católica eram perseguidos, torturados e encarcerados.

Por muito tempo a doença psiquiátrica foi associada a questões místicos-religiosas, como possessão demoníaca. Mais uma vez, essas pessoas deveriam ser encarcerados, punidos e eliminados de todo e qualquer direito de cidadão. Como ainda não havia estudos e nem medicamentos, a única maneira de lidar com os pacientes era trancá-los excluí-los e, infelizmente, esquecê-los.

Foi apenas durante o Iluminismo, no século 18, que o médico francês Philippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, começou a falar sobre os direitos dessas pessoas de serem cuidadas de maneira digna, sem a necessidade de atos violentos e com melhores condições de vida.

Porém, tal conceito não foi aceito e difundido tão rapidamente e, por muito tempo ainda, os doentes psiquiátricos continuaram a viver sob as piores formas de tratamento.

No Brasil, a situação não foi diferente. Um dos pontos históricos importantes aconteceu na época da ditadura militar, em que também pessoas consideradas subversivas eram internadas em manicômios, recebendo eletroconvulsoterapia de maneira errada, sem indicação e como forma de punição.

É claro que todos esses eventos deixaram marcas até os dias atuais. Muitas pessoas não buscam ajuda por terem medo do psiquiatra, medo dos tratamentos, medo de ser internado.

Também não buscam ajuda, afinal, não são loucos, não são indignos de estar em sociedade, não merecem sentir na pele os preconceitos enraizados suas próprias mentes.

Pacientes com doenças psiquiátricas são muitas vezes considerados preguiçosos, perigosos, indignos de confiança, indignos de fazer grandes realizações, são desacreditados, vitimas dignas de pena. E esta aí o triste estigma de séculos de história que, muitas vezes, é reafirmado por meio dos veículos de comunicação.

Não é incomum observarmos a grande barreira que as pessoas colocam ao ficar perto de um paciente psiquiátrico internado, até mesmo medo de olhar nos olhos. Não é incomum a repulsa, o desconforto.

Essa questão do afastamento da sociedade ainda é muito forte? 
Sim, o afastamento é uma forma de preconceito e muito retrocede todo o esforço que estamos fazendo para combater o estigma associado às doenças mentais.

Precisamos espalhar informações para que as pessoas saibam nomear cada síndrome, e não tratar tais doenças de forma pejorativa. Em vez de ajudar, tratar doença mental como brincadeira só diminui e exclui ainda mais o individuo, desvalorizando a doença, tratando como piada algo de extrema importância e seriedade.

E, pior do que isso, aumentando o preconceito e dificultando as pessoas que precisam a buscarem ajuda, aceitarem o seu diagnóstico e se tratarem. Muitas vezes, o paciente não busca ajuda por vergonha ou medo de que a sociedade o exclua ou o desvalorize.

Existiu algum momento na história em que a saúde mental começou debatida mais seriamente? Ou esse momento está acontecendo agora, no contexto da pandemia da Covid-19 e do isolamento social? 
Temos alguns marcos e algumas pessoas que foram essenciais para questionar as práticas com as quais os pacientes eram submetidos, como com Philippe Pinel, no século 18, quando começou a se falar sobre tratar os pacientes de forma mais humanizada.

Também temos Dorothea Dix, uma ativista que viveu no século 19, nos Estados Unidos, que lutou por melhorias e contra o tratamento cruel e sem estrutura, por melhores condições nos locais onde estavam os doentes psiquiátricos.

Enfim, não podemos esquecer dos psicanalista Freud e Jung, no início do século 20, entre outros grandes nomes que transformaram e construíram praticas e tratamentos.

No Brasil, foi na década de 1980 que se iniciou a reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial. Todos esses processos culminaram no surgimento dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), residências terapêuticas e centros de convivência que buscam a reintegração do paciente na sociedade, e não a sua exclusão.

Nos últimos anos, as possibilidades de comunicação se multiplicaram e hoje qualquer pessoa pode falar sobre saúde mental. Essa liberdade abriu espaço para mídias sociais, rádios em formato digital, podcasts, ebooks, enfim, observo um aumento de informações sobre saúde mental e essas mídias se unindo.

Atualmente, pessoas famosas e influenciadores conversam e falam mais abertamente sobre seus casos depressão, ansiedade, bipolaridade. Isso é incrível para diminuir o estigma. Pois doença psiquiátrica não é coisa de louco, basta ser humano para sofrer de um transtorno.

Além da pandemia da Covid-19, é possível notar também uma pandemia de doenças psíquicas como TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), depressão, síndrome do pânico, alcoolismo, vício em jogos. Sentimos diariamente agora a importância da saúde mental, e essa necessidade aumentou muito a discussão sobre o tema.

Mesmo com a ampliação do debate sobre saúde mental, muitas pessoas ainda sentem vergonha e até medo de serem demitidas ao comentar algum transtorno mental no ambiente de trabalho 
Infelizmente, ainda vejo muito preconceito e incompreensão no ambiente de trabalho. Os pacientes costumam se sentir diminuídos, muitos têm a impressão de estarem sendo julgados ou até mesmo têm a impressão que as pessoas reagem como se eles estivessem mentindo para não trabalhar.

Além da tristeza e do momento difícil que estão passando, ainda precisam se deparar com a falta de empatia dos colegas de profissão.

Muitos têm vergonha de mostrar um atestado médico com o CID (Classificação Internacional de Doenças) que represente uma doença psiquiátrica. Têm medo de que, com isso, possam ser prejudicados em seus trabalhos, bem como prejudicar sua ascensão a outros cargos.

Ainda mais nos dias de hoje, a “era da produtividade” em que quanto mais se trabalha, mais digno e honroso você é. Os pacientes têm vergonha de se ausentar do trabalho, mesmo com indicação médica. E, quando se afastam, muitos têm sentimento de culpa e iniciam dilemas e inseguranças sobre sua autoimagem como profissionais.

Que linha deve seguir o debate na sociedade para diminuir o estigma em relação às doenças mentais?
Não há outra maneira que não seja a informação. É preciso falar abertamente que não há problema em buscar ajuda, que psiquiatra e psicólogo não são “coisas de louco”e sim que tudo isso é coisa de gente saudável.

É explicar que depressão não é frescura, não é preguiça, não é mimimi. Assim como também não é falta de Deus, não é falta de lavar louça, entre outros absurdos que a gente ouve.

É dar o exemplo respeitando quem tem doenças mentais. Não julgar, não brincar com os termos médicos, não utilizá-los de forma pejorativa.

É ouvir quem está precisando de ajuda e olhar nos olhos do paciente psiquiátrico que se encontra com prognostico mais grave. Olhar sem medo, olhar como uma pessoa igual a você, porque, sim, pode acontecer com qualquer pessoa, poderia ser seu filho, sua mãe, poderia ser você.

É debater e informar para que a empatia não seja desenvolvida somente à custa de viver na pele essa mesma situação.

 

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BBB traz à tona debate sobre abuso psicológico; especialista explica esse tipo de relacionamento https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/02/bbb-traz-a-tona-debate-sobre-abuso-psicologico-especialista-explica-esse-tipo-de-relacionamento/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/02/bbb-traz-a-tona-debate-sobre-abuso-psicologico-especialista-explica-esse-tipo-de-relacionamento/#respond Tue, 02 Feb 2021 18:16:32 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/lu2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=598 O comportamento dos participantes do Big Brother Brasil,  reality show da Rede Globo, trouxe à tona o debate sobre abuso psicológico.

A conduta é caracterizada pelo exercício de poder do abusador sobre o abusado de uma maneira perversa, com ameaças, humilhação e desqualificação do outro, explica a psicóloga Ana Gabriela Andriani.

“O abuso psicológico pode ocorrer em diversos tipos de ambientes e relacionamentos, como no trabalho, em relações amorosas, no âmbito familiar e mesmo entre amigos”, diz Andriani.

Leia a entrevista com a psicóloga.

O que é o abuso psicológico? 
O abuso psicológico ocorre em uma relação caraterizada pelo exercício de poder do abusador sobre o abusado de uma maneira perversa, ou seja, com diversos tipos de ameaça, como a ameaça de rejeição, a ameaça de ser demitido –quando ocorre no ambiente de trabalho– ameaça de perder o amor, além de controle, domínio, exploração afetiva, humilhação e uma desqualificação do outro.

Essa situação pode ocorrer em vários ambientes e diferentes relacionamentos, como em uma relação amorosa, numa amizade, entre pais e filhos e no trabalho.

Nesse cenário de abuso, o abusado tem que se submeter ao domínio do outro e sempre fica com a sensação de que nunca o que tem para dar ao abusador é suficiente, é sempre pouco.

No trabalho, esse jogo de dominação ocorre quando o funcionário sente a necessidade de atender todas as demandas do chefe e se sente incapaz, duvidando da sua própria competência. Nesse caso, o abuso pode ser caracterizado por assédio moral e o profissional pode sofrer de burnout.

É importante a gente destacar os perfis de pessoas que se envolvem nessa relação de abuso. O abusador tem um perfil narcisista, que é uma pessoa que tem necessidade de receber admiração e reconhecimento. O abusador narcisista vai agir de forma para atender seus desejos. Ele não se coloca no lugar do outro, não tem empatia, não sente culpa. Pelo contrário, para ele o outro que é culpado pelos erros na relação.

O extremo desse perfil é o psicopata, que é um transtorno de personalidade. No caso do psicopata, ele nunca vai reconhecer seus erros, nunca vai achar que está errado. Se algum dia ele procurar ajuda de um psicólogo, por exemplo, vai ser por pressão e para entender a situação em que se encontra e dominá-la melhor. Ele não reconhece que está errado nunca.

Mas a psicopatia é o extremo desse perfil. Nem todo narcisista é um psicopata, embora os dois sejam abusadores. O narcisista, em algum momento, pode reconhecer seus erros e buscar ajuda de um terapeuta sinceramente, com o objetivo de mudar. Geralmente, o abusador narcisista foi vítima de algum tipo de abuso na infância ou em outros relacionamentos e desenvolve essa maneira de ser relacionar com os outros.

De qualquer forma, o abusador não aceita o diferente, só vale a opinião dele. Ele precisa se sentir único. Quando ele entra na relação, não se demonstra agressivo logo de cara. No início é sedutor e acaba se tornando uma referência para o abusado.

Já o abusado costuma ter uma personalidade mais insegura e, num primeiro momento, sente-se protegido e valorizado pelo abusador. Ao logo do relacionamento –porque, é importante dizer, os relacionamentos abusivos costumam ser longos–, a vida da vítima vai girando ao redor do seu abusador. Ela vai perdendo sua personalidade, pois faz e obedece tudo o que o abusador manda.

Mesmo antes de entrar no relacionamento abusivo, a vítima já costuma ter uma personalidade mais frágil emocionalmente, é insegura, vulnerável e muitas vezes solitária. É uma pessoa que nunca teve um relacionamento anterior, então não tem parâmetro do que é um relacionamento saudável. Ou também é alguém que já sofreu abuso na infância e reconhece a humilhação e a cobrança como amor.

Os abusos psicológicos podem ser explícitos, com xingamentos e humilhações, ou podem acontecer de forma velada, com o silêncio como uma forma de punição ou uma ironia mais sutil, por exemplo.

Quais são as consequências do abuso para a vítima? 
Essa pessoa vai ficando cada vez mais solitária, vai abrindo mão das outras relações para se dedicar somente ao abusador. Ela vai desenvolvendo um sentimento de inferioridade e fica cada vez mais insegura e dependente do outro.

A autoestima é muito abalada e ela sente uma dificuldade muito grande de sair desse relacionamento. E até mesmo de reconhecer esse relacionamento como abusivo. Por isso, essas relações costumam ser duradoras. E quanto mais longo é o relacionamento, mais a vítima vai perdendo sua personalidade.

E também é importante frisar que é o relacionamento abusivo é de dependência mútua. Como na dialética do senhor e do escravo de Friedrich Hegel, a existência de um depende da existência do outro.

O abuso pode gerar depressão e transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico. Também é possível que, com a depressão, ocorram doenças psicossomáticas, que são aquelas causadas por problemas emocionais do indivíduo. Podem ser dores musculares, enxaquecas e fibromialgia, por exemplo.

Como sair dessa relação de abuso?
Isso costuma acontecer quando a vítima já desenvolveu sintomas de depressão e ansiedade e vai buscar ajuda de um profissional de saúde mental. Ela vai pela depressão e, na terapia, se dá conta de que está em um relacionamento abusivo.

O abusado começa a perceber o sofrimento dele e que está perdendo sua identidade, que não age mais como agia antigamente, que não vê mais alegria nas coisas que via antes.

Às vezes, a vítima está se sentindo muito angustiada e começa a se abrir com amigos e familiares e é alertada de que está em um relacionamento abusivo.

O resgate da autoestima da vítima será trabalhado na terapia.

O abusador também deve procurar ajuda psicológica. Ele pode reconhecer seus erros e aprender que há outras formas de se relacionar com as pessoas. É comum que esse abusador seja uma pessoa de autoestima muito baixa e que também foi vítima de abuso em algum momento da vida.

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Dano causado por assédio sexual na saúde mental da mulher é tema de live da ABP https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/dano-causado-por-assedio-sexual-na-saude-mental-da-mulher-e-tema-de-live-da-abp/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/dano-causado-por-assedio-sexual-na-saude-mental-da-mulher-e-tema-de-live-da-abp/#respond Mon, 11 Jan 2021 10:00:49 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/assedio-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=559 Depressão, transtornos de ansiedade e estresse pós-traumático são alguns dos distúrbios psicológicos que podem afetar as mulheres vítimas de violência doméstica e assédio sexual.

O tema será debatido no programa ABPTV, da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), nesta terça-feira (12), a partir da 20h30. A live será transmitida pelo site da ABP e pelos canais da associação no YouTube, no Facebook e no Instagram.

Participam do evento as psiquiatras Alcina Barros e Lisieux Telles. As médicas vão explicar de que forma o assédio sexual afeta a saúde mental das vítimas e como buscar ajuda e tratamento. Os participantes podem enviar perguntas durante a transmissão.

O assédio sexual é tipificado como crime pelo Código Penal Brasileiro. Em dezembro de 2020, o Ministério Público do Trabalho (MPT) informou que o número de denúncias desse tipo aumentou 64,7% em cinco anos. Em 2015, foram 289 relatos de abusos ocorridos em ambiente profissional. Em 2019, o total chegou a 476.

No mesmo período, o órgão recebeu ao todo 1.835 denúncias de assédio sexual no trabalho, das quais cerca de mil tiveram sequência com a abertura de inquéritos civis para apuração do assunto, 66 se desdobraram em ações civis públicas e 226 foram resolvidas com termos de ajustamento de conduta (TACs).

Assédio sexual e saúde mental da mulher
Quando nesta terça (12), a partir das 20h30
Onde no site da ABP e pelos canais da associação no YouTube, no Facebook e no Instagram (@abpbrasil)

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Falar sobre agressão faz parte do processo de cura, diz psicóloga do projeto Justiceiras https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/falar-sobre-agressao-faz-parte-do-processo-de-cura-diz-psicologa-do-projeto-justiceiras/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/falar-sobre-agressao-faz-parte-do-processo-de-cura-diz-psicologa-do-projeto-justiceiras/#respond Mon, 28 Sep 2020 10:00:01 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/eac3ec76adf961d5da3b21cb717d84b6e16ef3627ecde2d8db3f17b3925496d2_5af68d369760f-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=362 Os episódios são cada vez mais comuns. Uma mulher que sofreu violência ou esteve em um relacionamento abusivo decide desabafar e contar sua história em uma rede social.

A partir desse relato, as reações costumam variar desde apoio por parte de amigos e seguidores (no caso de pessoas famosas), identificação de outras mulheres que também foram vítimas de agressão a questionamentos como “por que se expor tanto?” ou “por que tocar nesse assunto em público?”.

“Falar sobre uma agressão faz parte do processo de conscientização e de cura”, afirma Kátia Rosa, psicóloga e líder nacional da área de psicologia do projeto Justiceiras.

Conforme a mulher conta a sua história, repete o que aconteceu com ela, seja pessoalmente, para amigos e familiares, ou publicamente, em redes sociais, ela vai tomando consciência da violência que sofreu.

“Dizer que essa mulher está querendo chamar a atenção ou está fazendo isso porque ainda é apaixonada pelo cara é uma forma de desqualificar a fala dela. A mulher tem o direito à fala pública. Quando ela é julgada por isso está sofrendo mais uma agressão”, diz.

A psicóloga explica que o processo de fala e escuta é muito importante porque, ao mesmo tempo em que é curativo para quem se pronuncia, também é esclarecedor para quem vai se informar por meio desse relato e perceber que também é uma vítima de violência.

“Às vezes, a mulher percebe que o relacionamento dela não está bom, mas não sabe que aquilo é uma forma de violência”, observa Kátia.

Isso acontece porque não é apenas a agressão física que é considerada violência contra a mulher. De acordo com o artigo 7º da Lei Maria da Penha (lei nº 11.340/2006), são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

“A violência psicológica é a mais frequente, responsável por 85% dos casos que chegam até nós”, diz. A Lei Maria da Penha classifica como violência psicológica qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima (leia mais no fim do texto).

Para ampliar a voz dessas mulheres, o projeto Justiceiras lançou, em 31 de agosto, a campanha #MeTooBrasil, inspirada no movimento Me Too, que expôs abusos praticados no setor audiovisual de Hollywood e que resultou na condenação do produtor Harvey Weinstein a 23 anos de prisão por agressão sexual e estupro.

Com o slogan “O silêncio acabou”, o objetivo da versão brasileira é dar visibilidade aos relatos e oferecer suporte jurídico, psicológico, assistencial e médico a mulheres vítimas de violência doméstica. A campanha é uma extensão do projeto Justiceiras, idealizado pela promotora de Justiça Gabriela Manssur, que surgiu em março com o aumento dos casos de agressão durante a pandemia da Covid-19.

Os relatos, tanto por meio de canais como o site #MeTooBrasil ou por redes sociais, são o primeiro passo para a mulher buscar ajuda e fazer uma denúncia formal, conta a psicóloga.

No entanto, é preciso tomar alguns cuidados ao contar a história publicamente para não sofrer um processo por crime contra honra (calúnia, difamação e injúria), explica Luciana Terra, advogada e líder nacional da área jurídica do projeto Justiceiras.

“Para evitar medidas judiciais, a mulher deve falar como a protagonista. Não identificar o homem com nome completo ou marcá-lo no post, por exemplo”, diz.

Mas contar em detalhes como se deu a agressão é importante, pois assim outras mulheres que foram vítimas do mesmo agressor podem reconhecê-lo.

“Eles atuam sempre de forma igual, às vezes nem é preciso falar o nome”, observa a advogada. “E denúncias de mais mulheres acumulam provas robustas, as vítimas têm o mesmo relato.”

Exemplos disso são as denúncias que levaram às condenações do ex-médico Roger Abdelmassih e do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus.

Luciana destaca que, de acordo com o STJ (Superior Tribunal de Justiça), o depoimento da vítima tem valor de prova, já que muitas vezes esses crimes não têm testemunhas, pois acontecem entre quatro paredes.

Formas de violência contra a mulher, de acordo com o artigo 7º da Lei Maria da Penha

1- Violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal

2 – Violência psicológica, entendida como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação

3 – Violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos

4 – Violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

5 – Violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria

Procure ajuda
Central de Atendimento à Mulher: 180
Projeto Justiceiras: justiceiras.org.br
Me Too Brasil: site metoobrasil.org.br e WhatsApp (11) 99636-1212

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