Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sensação de exclusão pode acarretar problemas de saúde mental a pessoas com deficiência, afirma psicólogo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/sensacao-de-exclusao-pode-acarretar-problemas-de-saude-mental-a-pessoas-com-deficiencia-afirma-psicologo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/sensacao-de-exclusao-pode-acarretar-problemas-de-saude-mental-a-pessoas-com-deficiencia-afirma-psicologo/#respond Fri, 29 Oct 2021 10:00:16 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/e4e8662cab9df8da66bb422602fdbf413b019b470d0c0ada7cec9f2971b32054_5e1cc3d6932c2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1276 A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada em agosto deste ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que 17,3 milhões de brasileiros com dois anos ou mais tinham alguma deficiência em 2019. O número equivale a 8,4% da população nessa faixa etária.

Segundo o IBGE, apenas 28,3% das pessoas com deficiência e em idade de trabalhar (14 anos ou mais) estavam na força de trabalho nessa época. Entre as pessoas sem deficiência, o percentual era superior, de 66,3%.

A força de trabalho é o conceito que reúne tanto os profissionais empregados (ou ocupados) quanto os desempregados (ou desocupados, que seguem em busca de novas vagas).

Para o psicólogo Flavio Vaz de Oliveira, fundador da plataforma Buscoterapia, a sensação de exclusão pode acarretar problemas à saúde mental das pessoas com deficiência.

“O sentimento de não pertencimento facilita o aumento de estresse, surgimento de ansiedade e de sintomas depressivos“, observa Flavio.

Além da menor participação no mercado de trabalho, uma das formas de exclusão das pessoas com deficiência é a falta de acessibilidade nas cidades, tanto em locais públicos como privados.

“A realidade é que nossas cidades são malconservadas, ruas esburacadas, calçadas quebradas. Para uma pessoa que não tem deficiência já é um desafio conseguir andar tranquilamente sem ter de olhar para o chão e não tropeçar. Pense, então, na dificuldade de uma pessoa com mobilidade reduzida. A falta de acessibilidade prejudica a qualidade de vida dessas pessoas. Imagine uma pessoa com deficiência visual ou um cadeirante desviando de buracos na calçada para andar, é uma missão quase impossível”, afirma.

A acessibilidade vai além de somente ter rampas de acesso ou caixas preferenciais. Ela tem de ser realizada inclusive na forma de atendimento às pessoas com deficiência. Esse é o trabalho da Inclue, uma startup fundada por duas pessoas com deficiência, Sonny Pólito e Rodrigo Piris. Devido a experiências ruins de consumo no varejo, eles decidiram lançar uma ferramenta de treinamento e um aplicativo para o público PCD (pessoas com deficiência) e também pessoas acima dos 60 anos, que podem ter mobilidade reduzida.

“Acessibilidade é um direito de todos os cidadãos. E as marcas não estão preparadas para atender as pessoas com deficiência e idosos e ainda não oferecem a elas uma boa experiência de compra. Isso faz com que tenham muitos obstáculos para consumir e pouco acesso ao varejo”, diz Pólito.

“O atendimento ajuda as pessoas com deficiência, por exemplo, a pegar os produtos que precisam, passar no caixa, acompanhar até o carro”, ressalta Piris.

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Infodemia: excesso de informação causa dificuldade de concentração e falta de memória https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/08/12/infodemia-excesso-de-informacao-causa-dificuldade-de-concentracao-e-falta-de-memoria/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/08/12/infodemia-excesso-de-informacao-causa-dificuldade-de-concentracao-e-falta-de-memoria/#respond Thu, 12 Aug 2021 10:00:26 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/22e8c929858a3f8a442d8c8ebf3b990b6e2909b191249d510fbb428282aaad15_6113cac65b538-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=957 De vídeos engraçadinhos nas redes sociais a reportagens publicadas em jornais, nunca o ser humano foi tão bombardeado por informações. Afinal, o celular com acesso à internet está em nossas mãos o tempo todo.

Apesar de o fenômeno não ser tão recente, acabou se agravando desde o surgimento da pandemia da Covid-19. Além da necessidade de se informar sobre a doença, o isolamento social acabou levando as pessoas a pesquisarem na internet como fazer receitas culinárias e resolver pequenas reformas em casa, por exemplo.

Esse excesso de informação recebeu um nome: infodemia. Segundo a ABL (Academia Brasileira de Letras), é a “denominação dada ao volume excessivo de informações, muitas delas imprecisas ou falsas (desinformação), sobre determinado assunto (como a pandemia, por exemplo), que se multiplicam e se propagam de forma rápida e incontrolável, o que dificulta o acesso a orientações e fontes confiáveis, causando confusão, desorientação e inúmeros prejuízos à vida das pessoas”.

Para a OMS (Organização Mundial da Saúde),  a infodemia é um excesso de informações, algumas precisas e outras não, tornando difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa.

Além de misturar dados verdadeiros com fake news, esse fluxo enorme de notícias acaba gerando cansaço mental. Entre os sintomas estão dificuldade de concentração, falta de memória e irritabilidade.

“O excesso de informações afeta não apenas a concentração, mas também capacidades como a memória. Assim como a maioria das habilidades que podem ser treinadas e aprimoradas, a atenção e a concentração também podem ser fortalecidas”, afirma Patrícia Lessa, diretora pedagógica do Método Supera, uma rede de escolas de ginástica para o cérebro.

A primeira medida a ser tomara é diminuir a exposição a tanta informação. Por exemplo, procure se informar em sites de notícias confiáveis e evite ler textos sensacionalistas enviados por aplicativos de mensagens. Também é importante diminuir o tempo gasto vendo vídeos e posts em redes sociais.

É possível filtrar os estímulos tecnológicos entendendo a relevância do que o nosso cérebro consome, sem ser intoxicado pelas mensagens.

Lessa explica que também é necessário exercitar a mente com outras atividades, além de rolar o feed nos aplicativos de redes sociais. “Precisamos entender que quando exercitamos o cérebro com novidades e desafios, as conexões entre neurônios se modificam, algumas ficam mais fortes, outras mais fracas, dependendo do uso. E essa mudança, com a experiência que é justamente a base do aprendizado, faz com que o cérebro responda de uma maneira diferente da próxima vez que for usado. Isso é possível graças ao conceito de neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro se modificar de acordo com estímulos, já comprovado pela neurociência”, diz.

Alguns exercícios simples para estimular o cérebro são fazer palavras cruzadas, fazer contas usando lápis e papel, jogar xadrez e tentar escrever com a mão não dominante, por exemplo.

Veja dicas para evitar a infodemia
• Estabeleça horários para acessar as redes sociais

• Priorize o que é mais importante: você tem mesmo que ver tudo o que acontece na vida de todos os seus amigos e de quem você segue nas redes sociais? Reserve um tempo específico para isso

• Evite os extremos: se o excesso de informações é ruim, o contrário também não é bom. A alienação completa pode ter consequências individuais e coletivas. Busque sempre o equilíbrio

• Entenda o que é relevante. Quem nunca deixou de seguir alguém porque o conteúdo das postagens não fazia mais sentido? Crie filtros para identificar se acompanhar alguém é bom para você ou não

• Imagine um carro que está andando, mas freia a toda hora. Quando estamos fazendo uma tarefa, mas paramos para checar as redes sociais a todo momento, interrompemos nosso pensamento e dificultamos a formação de memória

• Treine a sua atenção: melhorar a atenção significa melhorar sua memória. A atenção é a porta de entrada para as informações que são captadas pelos vários sentidos do nosso corpo. Quando isto acontece, as informações que recebemos chegam ao cérebro e são selecionadas conforme a prioridade que serão processadas

• Mantenha o senso crítico: o que estou aprendendo vendo isso? Nossa vida é um constante aprendizado e, sim, na internet aprendemos muitas coisas boas. Mas se um conteúdo causa mal-estar, questione o quanto você está crescendo com o que você vê todos os dias

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Cientistas pesquisam caminho mais rápido para tratar depressão com moduladores epigenéticos https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/21/cientistas-pesquisam-caminho-mais-rapido-para-tratar-depressao-com-moduladores-epigeneticos/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/21/cientistas-pesquisam-caminho-mais-rapido-para-tratar-depressao-com-moduladores-epigeneticos/#respond Mon, 21 Dec 2020 10:00:05 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/0ab1ee479d28c04474e104eacb38f3f41678e492f6af70e00ec09075aab3a5d0_5ae0189100bd2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=516 Karina Ninni | Agência FAPESP – Há grandes desafios no tratamento da depressão. Entre eles, há o fato de que quase 50% dos pacientes não respondem bem às drogas disponíveis e o tempo que as medicações convencionais demoram para começar a fazer efeito. Um grupo ligado à USP (Universidade de São Paulo) resolveu abordar o segundo problema, apontando um caminho para tratamentos que tivessem resultado mais rápido sobre a depressão, já que os efeitos das drogas convencionais levam de três a cinco semanas para serem observados. Os pesquisadores usaram moduladores epigenéticos –no caso, drogas que integram um sistema complexo que controla a ativação e o desligamento dos genes– para tentar “apagar” as consequências do estresse e as marcas epigenéticas por ele induzidas.

A exposição ao estresse é um fator-chave no desencadeamento de processos depressivos. Altera determinados marcadores epigenéticos no cérebro e provoca alterações em genes relacionados à neuroplasticidade (capacidade do cérebro de se modificar em relação às experiências). E isso ocorre porque o estresse aumenta a metilação de DNA nesses genes (adição de radicais metila à molécula). A metilação é um mecanismo, em geral, repressor: faz a cromatina existente no núcleo celular ficar condensada, impede os fatores de transcrição de ler a informação e o gene não é transcrito. A maioria dos antidepressivos existentes no mercado atua reduzindo esse processo de metilação do DNA.

A equipe da professora Sâmia Regiane Lourenço Joca, ligada ao Departamento de Ciências Biomoleculares da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), e à Universidade de Aarhus, na Dinamarca, resolveu investigar com mais acurácia uma das proteínas do sistema nervoso chamada BDNF (brain-derived neurotrophic fator), uma neurotrofina com efeito já bem documentado na regulação da plasticidade dos neurônios. “O estresse diminui a expressão de BDNF e, conforme já demonstrado na literatura, se a sinalização por BDNF é bloqueada, o efeito do antidepressivo não acontece. Por isso, fomos direto ao ponto”, explica Joca.

O grupo trabalhou com a seguinte hipótese: o estresse aumentaria a metilação do gene para BDNF, o que diminuiria sua expressão, e essa redução estaria relacionada ao comportamento depressivo. “Então, pensamos: se administrássemos um modulador genético que inibe a metilação do DNA, esse processo não aconteceria, os níveis de BDNF ficariam normais e haveria efeito antidepressivo. Se o efeito antidepressivo está relacionado à normalização desse perfil de metilação –assim, as drogas convencionais demoram para funcionar porque leva tempo para eliminar as alterações provocadas pelo estresse–, imaginamos que, ao fazer uma modulação direta desses mecanismos epigenéticos, o efeito apareceria rapidamente. E foi exatamente isso o que observamos.”

Os resultados estão no artigo “Modulation of DNA Methylation and Gene Expression in Rodent Cortical Neuroplasticity Pathways Exerts Rapid Antidepressant – Like Effects”, publicado na revista Molecular Neurobiology em outubro.

Apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o estudo coordenado por Joca tem a bolsista Amanda Juliana Sales como primeira autora. Outros dois orientandos de Joca, Izaque S. Maciel e Angélica C. D. R. Suavinha, são coautores do artigo.

“Testamos duas drogas, uma delas usada para tratamento do câncer (gliomas) e outra totalmente experimental. Importante ressaltar que não são drogas com as quais se possa tratar a depressão, porque, se elas diminuem a metilação de DNA de forma irrestrita, irão aumentar a expressão de vários genes, não só do gene de nosso interesse. Portanto, existirão efeitos adversos. Não se trata aqui de abrir perspectivas de novos antidepressivos, mas o resultado do estudo aponta um caminho interessante para novas abordagens de tratamento”, esclarece Joca.

Desamparo aprendido 
Para testar a hipótese de um efeito mais rápido dos moduladores epigenéticos, foi necessário usar –e validar– um modelo em que as distinções entre tratamento crônico e agudo ficassem bem evidentes. Assim, os cientistas inicialmente validaram, com estudos em ratos, o modelo de depressão induzida por estresse e tratamento com drogas convencionais, conhecido como modelo de “desamparo aprendido”. Os animais são expostos a um estresse inescapável e, sete dias depois, são colocados novamente nessa situação, mas desta vez há uma maneira de escapar ou evitar o estresse (movendo-se para o lado oposto da caixa em que se encontram). Os resultados dos testes comportamentais mostraram maior número de falhas no aprendizado dessa informação nos animais estressados, quando comparado aos não estressados, conforme esperado. Esse comportamento foi atenuado pelo tratamento crônico com antidepressivos convencionais e pelo tratamento agudo com moduladores epigenéticos.

“É a esse comportamento que chamamos de desamparo aprendido. Algo semelhante acontece no estado depressivo em humanos: a sensação de que não há nada que a pessoa possa fazer para melhorar determinada situação. É um modelo validado. Quando são tratados continuamente com antidepressivos, os animais voltam ao normal e, em termos de comportamento, assemelham-se a animais não estressados. Mas isso só acontece se eles foram tratados repetidamente, que é o que se observa em humanos em estado depressivo também: a pessoa tem de tomar o remédio continuamente; não há efeito agudo com uma única dose.”

O grupo também usou um teste de nado forçado para estressar os animais e observou seu comportamento 24 horas depois. A redução do estresse do nado forçado também é feita por meio do uso de antidepressivos. Estabelecido que o modelo funcionava, em outra rodada de experimentos os cientistas deram aos animais estressados apenas uma injeção dos moduladores epigenéticos. E eles promoveram efeito antidepressivo.

Contraprova 
Como moduladores, a equipe testou dois fármacos diferentes (5-AzaD e RG108) que têm o mesmo mecanismo: inibem a enzima responsável pela metilação de DNA. “Os dois fármacos não são quimicamente relacionados. Queríamos evitar a possibilidade de que um mecanismo inespecífico de uma das drogas fosse responsável pelo efeito. Trabalhamos com drogas completamente diferentes e obtivemos o mesmo resultado. Fizemos a medição em dois momentos: em um dos grupos, logo depois do estresse inescapável; e, no outro, antes do teste do desamparo. Vimos efeito antidepressivo rápido nas duas circunstâncias”, resume Joca.

O grupo, então, escolheu uma das drogas, a 5-AzaD, para realizar uma análise molecular. Trata-se de um processo que fornece um perfil de metilação do gene de interesse para a pesquisa. “Vimos que o estresse realmente aumentou a metilação do gene que codifica a BDNF e a TrkB, outra proteína do sistema nervoso, e isso foi discretamente atenuado pelos nossos tratamentos.”

Como o resultado molecular foi bastante sutil, os cientistas montaram uma nova contraprova. “Em outro modelo, reproduzimos os mesmos resultados do nado forçado e injetamos a droga sistemicamente, mas também demos um inibidor de sinalização de BDNF no córtex, e vimos que o efeito antidepressivo não ocorria”.

O artigo publicado pelos pesquisadores é a continuação de um trabalho que já vem sendo feito por sua equipe há anos. “Em 2010 publicamos um artigo mostrando que essas drogas tinham efeito antidepressivo; um pouco depois, publicamos outro artigo mostrando que o antidepressivo regula a metilação de DNA. E, agora, o interessante neste trabalho é que mostramos que, com uma intervenção aguda, temos esse efeito antidepressivo. É a primeira vez que se demonstra que moduladores epigenéticos têm efeito antidepressivo rápido.”

Amanda Juliana Sales segue nos estudos de pós-doutorado com bolsa da Fapesp, associada ao grupo do professor Francisco Silveira Guimarães, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

O artigo “Modulation of DNA Methylation and Gene Expression in Rodent Cortical Neuroplasticity Pathways Exerts Rapid Antidepressant – Like Effects” pode acessado em pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33025509.

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Falar sobre agressão faz parte do processo de cura, diz psicóloga do projeto Justiceiras https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/falar-sobre-agressao-faz-parte-do-processo-de-cura-diz-psicologa-do-projeto-justiceiras/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/09/28/falar-sobre-agressao-faz-parte-do-processo-de-cura-diz-psicologa-do-projeto-justiceiras/#respond Mon, 28 Sep 2020 10:00:01 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/eac3ec76adf961d5da3b21cb717d84b6e16ef3627ecde2d8db3f17b3925496d2_5af68d369760f-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=362 Os episódios são cada vez mais comuns. Uma mulher que sofreu violência ou esteve em um relacionamento abusivo decide desabafar e contar sua história em uma rede social.

A partir desse relato, as reações costumam variar desde apoio por parte de amigos e seguidores (no caso de pessoas famosas), identificação de outras mulheres que também foram vítimas de agressão a questionamentos como “por que se expor tanto?” ou “por que tocar nesse assunto em público?”.

“Falar sobre uma agressão faz parte do processo de conscientização e de cura”, afirma Kátia Rosa, psicóloga e líder nacional da área de psicologia do projeto Justiceiras.

Conforme a mulher conta a sua história, repete o que aconteceu com ela, seja pessoalmente, para amigos e familiares, ou publicamente, em redes sociais, ela vai tomando consciência da violência que sofreu.

“Dizer que essa mulher está querendo chamar a atenção ou está fazendo isso porque ainda é apaixonada pelo cara é uma forma de desqualificar a fala dela. A mulher tem o direito à fala pública. Quando ela é julgada por isso está sofrendo mais uma agressão”, diz.

A psicóloga explica que o processo de fala e escuta é muito importante porque, ao mesmo tempo em que é curativo para quem se pronuncia, também é esclarecedor para quem vai se informar por meio desse relato e perceber que também é uma vítima de violência.

“Às vezes, a mulher percebe que o relacionamento dela não está bom, mas não sabe que aquilo é uma forma de violência”, observa Kátia.

Isso acontece porque não é apenas a agressão física que é considerada violência contra a mulher. De acordo com o artigo 7º da Lei Maria da Penha (lei nº 11.340/2006), são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral.

“A violência psicológica é a mais frequente, responsável por 85% dos casos que chegam até nós”, diz. A Lei Maria da Penha classifica como violência psicológica qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima (leia mais no fim do texto).

Para ampliar a voz dessas mulheres, o projeto Justiceiras lançou, em 31 de agosto, a campanha #MeTooBrasil, inspirada no movimento Me Too, que expôs abusos praticados no setor audiovisual de Hollywood e que resultou na condenação do produtor Harvey Weinstein a 23 anos de prisão por agressão sexual e estupro.

Com o slogan “O silêncio acabou”, o objetivo da versão brasileira é dar visibilidade aos relatos e oferecer suporte jurídico, psicológico, assistencial e médico a mulheres vítimas de violência doméstica. A campanha é uma extensão do projeto Justiceiras, idealizado pela promotora de Justiça Gabriela Manssur, que surgiu em março com o aumento dos casos de agressão durante a pandemia da Covid-19.

Os relatos, tanto por meio de canais como o site #MeTooBrasil ou por redes sociais, são o primeiro passo para a mulher buscar ajuda e fazer uma denúncia formal, conta a psicóloga.

No entanto, é preciso tomar alguns cuidados ao contar a história publicamente para não sofrer um processo por crime contra honra (calúnia, difamação e injúria), explica Luciana Terra, advogada e líder nacional da área jurídica do projeto Justiceiras.

“Para evitar medidas judiciais, a mulher deve falar como a protagonista. Não identificar o homem com nome completo ou marcá-lo no post, por exemplo”, diz.

Mas contar em detalhes como se deu a agressão é importante, pois assim outras mulheres que foram vítimas do mesmo agressor podem reconhecê-lo.

“Eles atuam sempre de forma igual, às vezes nem é preciso falar o nome”, observa a advogada. “E denúncias de mais mulheres acumulam provas robustas, as vítimas têm o mesmo relato.”

Exemplos disso são as denúncias que levaram às condenações do ex-médico Roger Abdelmassih e do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus.

Luciana destaca que, de acordo com o STJ (Superior Tribunal de Justiça), o depoimento da vítima tem valor de prova, já que muitas vezes esses crimes não têm testemunhas, pois acontecem entre quatro paredes.

Formas de violência contra a mulher, de acordo com o artigo 7º da Lei Maria da Penha

1- Violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal

2 – Violência psicológica, entendida como qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação

3 – Violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos

4 – Violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades

5 – Violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria

Procure ajuda
Central de Atendimento à Mulher: 180
Projeto Justiceiras: justiceiras.org.br
Me Too Brasil: site metoobrasil.org.br e WhatsApp (11) 99636-1212

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Além de causar estresse, excesso de barulho prejudica aprendizado, diz neurocientista https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/08/14/alem-de-irritar-excesso-de-barulho-prejudica-capacidade-de-aprendizado-explica-neurocientista/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/08/14/alem-de-irritar-excesso-de-barulho-prejudica-capacidade-de-aprendizado-explica-neurocientista/#respond Fri, 14 Aug 2020 10:00:44 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/protetor-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=289 Furadeira no vizinho, cachorro latindo alto, bebê chorando. Às vezes, nem dentro de casa é possível ficar longe de barulhos que irritam.

O som alto, acima de 80 decibéis –o equivalente ao ruído de uma motocicleta ou ao de um despertador alto–, além de prejudicar a audição, se for contínuo, pode causar estresse e prejudicar o aprendizado, explica a neurocientista Thaís Gameiro, doutora pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e sócia da empresa Nêmesis.

A barulheira constante também pode afetar o desempenho das funções cognitivas e executivas, como planejamento e tomada de decisão, conta Thaís.

Como não é possível controlar o mundo ao nosso redor, a neurocientista dá dicas para driblar os ruídos constantes e relaxar, como meditar, ouvir músicas instrumentais e buscar fazer intervalos de minutos de silêncio durante o dia –nem que seja com a ajuda de tampões de ouvido.

“Precisamos de momentos em que não fazemos nada, momentos contemplativos em que apenas deixamos a mente fluir livremente. São nesses momentos que criamos novas conexões e permitimos que novos rumos e ideias apareçam”, diz.

Leia abaixo a entrevista com a neurologista.

Como o excesso de barulho afeta o nosso cérebro?
Ruídos constantes presentes em nosso ambiente, normalmente aqueles percebidos como desagradáveis pelas pessoas, acabam disparando uma resposta de estresse em nosso cérebro, produzindo hormônios, como o cortisol [liberado em situações de perigo e nervosismo] , que, em excesso, prejudicam nossa capacidade de concentração, aprendizado e retenção das informações.

Além disso, alguns estudos mostram também que a resposta de estresse provocada por ruídos considerados desagradáveis pode reduzir a quantidade de dopamina [neurotransmissor relacionado à sensação de prazer]  no córtex pré-frontal do cérebro, região importante para o desempenho eficiente de nossas funções cognitivas e executivas, como aprendizado, planejamento e tomada de decisão.

Quais tipos de barulho costumam ser os mais irritantes quando estamos trabalhando em home office ou quando estamos tentando relaxar? Existe algum tipo de frequência ou decibéis que desconcentra ou irrita mais? 
Em geral, qualquer ruído acima de 80 decibéis, como o de uma furadeira ou o de um cachorro latindo alto, será percebido como desagradável pelo nosso cérebro, gerando desconforto e dificultando nossa concentração, por serem estímulos salientes.

Os ruídos prejudicam a nossa conexão com o momento presente?
Os ruídos acabam atuando como fontes de distração e prejudicam nossa capacidade de concentração (manutenção do foco), seja em aspectos do meio externo como também em aspectos internos, como pensamentos, emoções e anseios.

De maneira geral, as pessoas são menos treinadas em observar aspectos mais introspectivos, exigindo uma capacidade ainda maior de manter a atenção em elementos internos. A meditação, por exemplo, é uma prática que ajuda a desenvolver esta habilidade de concentração, favorecendo inclusive o autoconhecimento e a possibilidade de estarmos mais conectados com nós mesmos.

Há alguma frequência musical que ajuda a relaxar e “esvaziar” a mente de barulhos irritantes? Buscando no Google, por exemplo, vemos indicações de playlists com sons na frequência 432 Hz para relaxar. Como a frequência age no nosso cérebro e nos ajuda a relaxar?
As músicas e sons considerados relaxantes são aqueles com baixa frequência e que permitem que o cérebro entre em um padrão de ativação associado a estados de maior relaxamento. Os sons externos influenciam o padrão de ativação do cérebro, estimulando a predominância de ondas específicas, como a onda Alfa, associada a estados de maior relaxamento.

Em geral, músicas instrumentais com notas harmônicas e sons de natureza, por exemplo, reúnem características que estimulam a ativação da onda Alfa no cérebro, provocando estados de relaxamento. No entanto, não existe apenas uma frequência específica capaz de provocar tais estados de relaxamento. Diversos sons podem provocar tais respostas, desde que sejam considerados de baixa frequência. Existem poucas evidências científicas atualmente que mostrem que a frequência de 432 Hz seja de fato superior a outras de natureza similar.

Quais são os benefícios dos momentos de silêncio?
É importante lembrar que os sons são estímulos sensoriais processados pelo nosso cérebro, assim como os gostos, cheiros e as imagens a que somos expostos a todo momento. Nosso cérebro tem uma capacidade limitada de processar todos esses estímulos que chegam a todo instante e, por isso, ele precisa priorizar aqueles que serão processados com maior precisão.

Quando, de alguma forma, conseguimos reduzir uma dessas fontes de estímulos, como é o caso do silêncio –no qual os estímulos auditivos estão praticamente ausentes–, oferecemos ao nosso cérebro a oportunidade de prestar atenção e processar outras informações, inclusive emoções e pensamentos que acabam ficando abafados pelo excesso de informação que chega a todo momento.

Especialmente para os indivíduos que vivem nas grandes cidades, momentos de silêncio são raridade. Por isso, o silêncio pode trazer uma sensação de relaxamento, aliviando o estresse e aumentando o bem-estar.

Para quem está irritado com o excesso de barulho e quer relaxar por uns 10 minutinhos em casa, é melhor usar tampões de ouvido e buscar o silêncio total ou colocar os fones de ouvido e ouvir uma playlist numa frequência relaxante? 
Ambas as estratégias podem ser eficientes, dependendo da preferência do indivíduo. O importante aqui é encontrar aquela que promova em você a resposta mais relaxante. A música tem apresentado benefícios consistentes na literatura científica e seus efeitos positivos no cérebro são conhecidos, mas algumas pessoas podem não se sentir relaxadas utilizando essa estratégia. Por isso, é importante experimentar.

O uso excessivo de eletrônicos tem feito com que as pessoas desfrutem menos o silêncio?
Certamente, a tecnologia pode tornar os momentos de silêncio ainda mais raros. Mas, principalmente, o uso excessivo dos eletrônicos faz com que não tenhamos praticamente nenhum momento livre de informações a serem processadas. Não apenas o silêncio é menos desfrutado, mas qualquer possibilidade de deixar o cérebro entrar no estágio conhecido como “ócio criativo”.

Precisamos de momentos em que não fazemos nada, momentos contemplativos em que apenas deixamos a mente fluir livremente. São nesses momentos que criamos novas conexões e permitimos que novos rumos e ideias apareçam. Mas se estamos conectados o tempo todo, essa possibilidade se torna cada vez mais remota.

Na rotina diária, quais interferências sonoras causam mais dano à produtividade?
Em geral, qualquer som identificado como desagradável pode trazer danos, aqueles muito altos, repetitivos, muito graves ou muito agudos, acabam sendo mais difíceis de tolerar. E, ao contrário do que pode parecer o senso comum, o cérebro não se adapta a esses ruídos e o estresse provocado pela exposição constante pode ser sustentado, gerando sintomas físicos e malefícios à saúde, além de prejudicarem nossa performance.

O que o excesso de barulho pode causar na nossa saúde, além do estresse causado pela irritação? Dor de cabeça, tensão muscular, insônia? 
Na verdade, os efeitos físicos e respostas corporais como tensão, dor de cabeça e irritação, são reflexo da resposta de estresse desencadeada pelos ruídos desagradáveis. Quanto maior a intensidade dessa resposta, mais intensos podem ser os efeitos no corpo.

Ficar algum tempo em silêncio é uma forma de fazer um “detox” na mente”? Por quê? Quantos minutos são necessários?
Essas recomendações acabam variando muito de pessoa para pessoa. Ter ao menos um momento do dia em que você fica livre de qualquer estímulo, sem fazer nada –o ócio–, por pelo menos 10 a 15 minutos, seria bastante saudável, permitindo um “break” e um momento de relaxamento.

Como incluir alguns momentos de silêncio na rotina?
Procure identificar em qual horário do dia sua rotina é mais calma e livre de imprevistos. Defina um horário para fazer essa pausa, encontre um lugar confortável em que você esteja seguro, possa fechar os olhos e se desconectar de todos os estímulos sonoros, o máximo possível.

Se preciso, use um fone ou tampões de ouvidos. Se para sua rotina 10 minutos é muito, procure fazer intervalos de 3 a 5 minutos por duas ou três vezes ao dia. O importante é insistir e perceber como você se sentirá com a prática, pois ao notar mudanças positivas será mais fácil manter o novo hábito.

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