Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Artrite reumatoide gera sintomas de depressão e ansiedade em pacientes https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/21/artrite-reumatoide-gera-sintomas-de-depressao-e-ansiedade-em-pacientes/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/21/artrite-reumatoide-gera-sintomas-de-depressao-e-ansiedade-em-pacientes/#respond Thu, 21 Oct 2021 09:00:32 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/2a8868e6d3cbfea78145745b353a50f0e3d817e87cd3c32052ef65a19557101b_5adbddc69dfc6-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1252 Dificuldade de locomoção, perda de autonomia para as tarefas do dia a dia e vida social mais restrita. Essas são as principais mudanças que a artrite reumatoide provocou na vida dos pacientes ouvidos em uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos a pedido da Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson.

A artrite reumatoide é uma doença autoimune, crônica e progressiva que afeta as articulações, podendo provocar desgaste ósseo, limitações físicas, dor e fadiga. A prevalência é de duas a três vezes maior nas mulheres.

Um dos mitos em relação à artrite é que ela seria uma enfermidade exclusiva dos idosos. Os primeiros sintomas costumam se manifestar entre os 30 e os 40 anos, em plena idade produtiva, ameaçando a realização das atividades diárias e a vida profissional e social do paciente.

O levantamento feito pelo Instituto Ipsos ouviu 144 pessoas com diferentes doenças autoimunes, em escutas online com 30 minutos de duração, entre o fim de 2020 e o início de 2021.

A maioria (54%) do total de entrevistados com artrite reumatoide relatou uma peregrinação por quatro ou mais médicos até que a doença fosse corretamente identificada. Mais de um a cada cinco pacientes (21%) não foi diagnosticado por um reumatologista.

“Em geral, existe um desconhecimento sobre os sintomas da artrite reumatoide. É importante saber reconhecer os sinais de possíveis alterações nas articulações e ter em mente que o reumatologista é o profissional mais indicado para investigar esse quadro, iniciando o tratamento o quanto antes”, afirma Dawton Torigoe, chefe de reumatologia da Santa Casa de São Paulo.

Os principais sintomas são dor, inchaço e aumento da temperatura nas articulações, rigidez matinal, nódulos de tecido sob a pele dos braços (nódulos reumatoides), fadiga, febre e perda de peso.

Por ser uma doença incapacitante, que causa dor e que costuma demorar para ser diagnosticada e tratada, a artrite pode causar sintomas de depressão e de ansiedade nos pacientes. Na pesquisa do Instituto Ipsos, 13% relataram ter depressão, desânimo e dano psicológico.

Diferentes fatores mencionados pelos pacientes, como o afastamento das atividades sociais, a interrupção das práticas esportivas e o abalo na vida profissional, podem impactar na saúde mental dessas pessoas.

Os dados corroboram com os achados científicos que reforçam a ligação entre a enfermidade e quadros depressivos. Estudos revelam que a prevalência de transtornos depressivos em portadores da doença varia entre 13% e 47%, de acordo com o tamanho e as características das populações analisadas.

Torigoe revela que dos 900 pacientes com artrite reumatoide que atende na Santa Casa, 5% fazem acompanhamento psiquiátrico.

Alguns trabalhos apontam que a depressão teria um efeito direto sobre as citocinas, substâncias que estimulam o processo inflamatório relacionado à artrite reumatoide. “Especialmente neste contexto pandêmico, já permeado por fatores estressores para grande parte das pessoas, estimular o cuidado multidisciplinar do paciente reumático, com grande atenção à saúde mental, é muito importante. Vale destacar que o transtorno mental também pode interferir na adesão ao tratamento, agravando o quadro”, explica Torigoe.

Além do reumatologista, os pacientes que têm depressão e ansiedade devem procurar tratamento psicológico ou psiquiátrico. O médico observa também que o exercício físico e a fisioterapia (quando há um comprometimento maior das articulações) melhoram não apenas os sintomas da artrite, mas também a saúde mental dessas pessoas.

“Estamos falando de uma doença crônica e progressiva. Sem tratamento, a artrite reumatoide pode limitar a realização de atividades básicas do dia a dia, como escovar os dentes ou pentear os cabelos”, exemplifica Torigoe.

Embora não exista cura para a doença, ela pode ser tratada com as chamadas DMARDs (drogas antirreumáticas modificadoras de doença), anti-inflamatórios e imunossupressores.

Pessoas que foram diagnosticadas com artrite reumatoide relataram

  • Dificuldade de locomoção – 75%
  • Perda de autonomia para as tarefas do dia a dia – 50%
  • Parou de sair, ir a festas, ficou mais em casa – 38%
  • Parou de praticar atividade física – 29%
  • Impacto no trabalho (redução de horas, mudança de função) – 29%
  • Parou de trabalhar, aposentou-se – 21%
  • Teve depressão, desânimo, dano psicológico – 13%
  • A vida mudou totalmente – 13%
  • Abandonou os estudos ou foi prejudicado nos estudos – 13%
  • Foi demitido – 8%
  • Aprendeu a conviver com dor – 4%
  • Mudança ou melhoria no hábito alimentar – 4%
  • Outros – 29%

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É possível ter um transtorno psicológico e viver bem, diz psicóloga Ana Gabriela Andriani https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/10/e-possivel-ter-um-transtorno-psicologico-e-viver-bem-diz-psicologa-ana-gabriela-andriani/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/10/e-possivel-ter-um-transtorno-psicologico-e-viver-bem-diz-psicologa-ana-gabriela-andriani/#respond Sun, 10 Oct 2021 10:00:18 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/WhatsApp-Image-2021-10-09-at-12.42.10-300x215.jpeg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1208 O que é ter saúde mental? Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), a saúde mental é um estado de equilíbrio psíquico, físico e que envolve questões sociais. Não é definida apenas pela ausência de uma doença.

A psicóloga Ana Gabriela Andriani concorda com esse conceito. “É possível ter um transtorno ou um distúrbio de personalidade e ter uma vida equilibrada. Considerando que uma vida equilibrada não significa uma vida sem momentos de desestabilização, de tristeza e de desorganização”, observa.

Andriani ressalta que todos nós, tendo ou não um diagnóstico de transtorno mental, sofremos oscilações emocionais ao longo da vida. Para evitar as crises, quando for necessário, é preciso buscar tratamento medicamentoso com um psiquiatra e fazer psicoterapia.

Ela explica que a terapia é um caminho para o autoconhecimento. “É um trabalho em que a pessoa vai poder se conhecer melhor, entender o que está sentindo, o que se passa com ela e qual é o sentido disso que está acontecendo com ela, de onde veio isso. E aí ela vai conseguir elaborar e pensar também como reagir.”

Neste domingo (10) é celebrado do Dia Mundial da Saúde Mental. A data foi criada em 1992 por iniciativa da Federação Mundial para Saúde Mental com o objetivo de educar e conscientizar a população sobre a importância do tema e diminuir o estigma social.

Na entrevista a seguir, a psicóloga fala sobre a ideia que temos a respeito do que é uma mente sã e sobre os impactos culturais e históricos no psicológico da sociedade.

A depressão já foi chamada de “mal do século”. Atualmente, o burnout tem sido associado à geração millennial (pessoas nascidas entre 1980 e 1995). Como você vê essa relação entre transtornos e gerações? 
Sem dúvida existe uma correlação entre o momento social e histórico e os transtornos psíquicos que são produzidos ali. Porque os transtornos psíquicos são constituídos a partir das condições de vida das pessoas, da cultura da sociedade e do que acontece ali em termos sociais. Então, por exemplo, na época do Sigmund Freud (1856-1939), que era uma época de grande repressão sexual, o transtorno mais comum, ao qual ele de dedicou a estudar, era a histeria. Em períodos pós-guerra, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), surgiam neuroses de guerra, que são caracterizadas por depressão e por grandes traumas. Hoje, num momento que a gente tem uma cultura que valoriza muito a aceleração e a alta performance, a gente vê crises de ansiedade, burnout e crises de pânico como sendo os transtornos mais vigentes.

Agora, para a gente conseguir elaborar, simbolizar o está vivendo, a gente precisa se conhecer. Saúde psíquica também tem a ver com autoconhecimento. Porque o autoconhecimento amplia a nossa capacidade de pensar sobre nós mesmos e sobre o mundo, sobre as nossas relações, sobre tudo que a gente está vivendo.

Receber um diagnóstico de transtorno psicológico pode ser um baque para algumas pessoas. É possível continuar tendo uma vida feliz e equilibrada mesmo convivendo com um transtorno e tendo que tomar medicações para o resto da vida? 
Sim, é possível ter um transtorno ou um distúrbio de personalidade e ter uma vida equilibrada. Considerando que uma vida equilibrada não significa uma vida sem momentos de desestabilização, de tristeza e de desorganização.

É importante considerar que a gente vai oscilar emocionalmente ao longo da vida. Em quem tem um transtorno ou um distúrbio de personalidade também vai sofrer oscilações. Mas é possível evitar uma crise expandida ou mesmo viver crises com o uso de medicamentos receitados por um psiquiatra. Mas não só isso. Também por meio da realização de uma psicoterapia, que é um trabalho em que a pessoa vai poder se conhecer melhor, entender o que está sentindo, o que se passa com ela e qual é o sentido disso que está acontecendo com ela, de onde veio isso. E aí ela vai conseguir elaborar e pensar também como reagir.

É importante dizer que o remédio sozinho não vai dar conta de tornar uma pessoa mais saudável. Ele é muito importante porque traz uma estabilidade, mas é o trabalho de psicoterapia que vai propiciar à pessoa se conhecer melhor, expandir sua capacidade de pensar sobre ela mesma, sobre o que está vivendo, e é isso que vai poder transformá-la.

Com a pandemia da Covid-19, o assunto saúde mental está sendo muito debatido. Você acha que a visibilidade que o tema tem recebido tem ajudado a diminuir o estigma em relação aos transtornos psicológicos? Ou ainda temos muito caminho pela frente? 
Acredito que sim, que os assuntos relacionados à saúde mental e aos transtornos psicológicos têm sido mais divulgados. Por exemplo, neste ano e no ano passado, por conta da pandemia, falou-se bastante sobre crises de casais, sobre relações familiares, sobre burnout, crises de pânico. Vários psicólogos se disponibilizaram a fazer atendimentos gratuitos.

Acho que o tema tem sido mais debatido e as pessoas têm tido mais informações sobre isso, o que é muito bom, porque as pessoas passam a ter uma ideia de que elas não precisam só cuidar do corpo, elas precisam cuidar também da saúde mental.

Aliás, faz parte do conceito saúde esse entrelaçamento entre corpo e psique. Acredito que tanto as empresas como área do esporte, todas essas instâncias têm se voltado mais para o cuidado com a saúde mental.

Casos como o da atleta Simone Biles, que deixou de disputar algumas provas nas Olimpíadas para priorizar a saúde mental, jogam uma luz sobre a necessidade de as pessoas respeitarem seus momentos. Você acha que estamos no fim da era do “trabalhe enquanto eles dormem”? 
O que vêm mudando é que tanto as instituições como as pessoas vêm percebendo a grande necessidade de cuidar da saúde mental. Estão percebendo que essas questões relacionadas à saúde mental não podem ser deixadas de lado, porque senão a pessoa que está lá na empresa não trabalha, o atleta não tem bom desempenho, ninguém consegue ficar com uma sensação de bem-estar e viver suas vidas de forma mais saudável.

Acho que a gente vive tempos em que é exigido alta performance, alto desempenho, até uma perfeição do corpo, do trabalho, do cuidado com os filhos e uma aceleração. Tudo isso é naturalmente produtor de ansiedade. Acho que isso não vai mudar, pelo menos por enquanto. A gente vive numa sociedade com essas características.

O que eu tenho impressão que vem mudando é a necessidade de cuidado com a saúde mental atrelado ao trabalho, atrelado à alta performance e ao bom desempenho. Então, por exemplo, no esporte, vem se percebendo a necessidade de se cuidar, de saber como esse atleta está emocionalmente nas suas relações familiares, de como ele está em termos de ansiedade, e das necessidades emocionais dele para que ele consiga estar bem para desempenhar um bom trabalho. Não é que agora vai ser cuidar da saúde mental e deixar a questão do desempenho de lado. A questão, e acho que essa é a grande mudança, é que vamos cuidar das duas coisas ao mesmo tempo, o psicológico atrelado ao físico e ao trabalho, ao desempenho profissional de maneira geral.

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Teatro Gazeta, em São Paulo, recebe evento gratuito e híbrido sobre Alzheimer e demência https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/21/teatro-gazeta-em-sao-paulo-recebe-evento-gratuito-e-hibrido-sobre-alzheimer-e-demencia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/21/teatro-gazeta-em-sao-paulo-recebe-evento-gratuito-e-hibrido-sobre-alzheimer-e-demencia/#respond Tue, 21 Sep 2021 14:21:27 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/alzheimer-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1081 O Teatro Gazeta, na Bela Vista, região central de São Paulo, recebe nesta quarta-feira (22), das 14h30 às 18h, um evento gratuito sobre demência e doença de Alzheimer.

O encontro é promovido pelo Método Supera, rede de ginástica para o cérebro, e pode ser acompanhado presencialmente, após realizar inscrição no site, ou virtualmente, pelo canal no Youtube.

A 3ª edição do evento “Despertando a sociedade para a saúde do cérebro” acontece após o Dia Mundial do Alzheimer, lembrado nesta terça-feira (21), e tem como objetivo conscientizar a população sobre os cuidados com a saúde do cérebro e orientar as famílias que convivem com pessoas que têm a doença.

Participam do seminário Jerusa Smid, neurologista da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, neurologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Raphael Spera, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Viviane Flumignan Zétola, neurologista da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Thaís Bento, gerontóloga da EACH-USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo) e do HC-FMUSP, a atriz e dramaturga Beth Goulart e a jornalista Sílvia Haidar, jornalista e autora do blog Saúde Mental na Folha.

Veja a programação dos painéis

14h30 – Cerimônia de abertura

14h50 – Entendendo a demência e a doença de Alzheimer: aspectos, pesquisas e tratamentos
Jerusa Smid, neurologista da FMUSP, e Paulo Bertolucci, neurologista da Unifesp

16h – Covid-19: Fator de risco para o desenvolvimento de demência? 
Raphael Spera, neurologista do HC-FMUSP, e Viviane Flumignan Zétola, neurologista da UFPR

17h – Saúde Mental: Mobilização da sociedade, envolvimento familiar e cuidadores 
Thaís Bento, gerontóloga da EACH-USP e do HC-FMUSP, Beth Goulart, atriz e dramaturga, Sílvia Haidar, jornalista e autora do blog Saúde Mental, da Folha 

18h – Encerramento

Como participar
Presencialmente: Teatro Gazeta, na avenida Paulista, 900, Bela Vista, região central de São Paulo; inscrição no site
Virtualmente: ao vivo, no canal Supera Ginástica para o Cérebro no YouTube; inscrição no próprio canal

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Usamos só 10% da mente? Criamos um hábito em 21 dias? Neurocientista explica mitos sobre o cérebro https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/08/usamos-so-10-da-mente-criamos-um-habito-em-21-dias-neurocientista-explica-mitos-sobre-o-cerebro/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/08/usamos-so-10-da-mente-criamos-um-habito-em-21-dias-neurocientista-explica-mitos-sobre-o-cerebro/#respond Wed, 08 Sep 2021 10:00:17 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/fb2a7c61f73bdd5965ed055285ca32453404979bb9315c051cf4ff218f189803_5ae0430a40aee-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1015 O cérebro é o principal órgão do sistema nervoso. Quando afetado por uma lesão, pode comprometer diferentes capacidades como a fala, a visão, a memória e até mesmo o comportamento.

Essa estrutura tão complexa, formada por cerca de 86 bilhões de neurônios, ainda é um mistério para médicos e cientistas. Com o avanço das pesquisas na neurociência, boa parte das certezas que os especialistas tinham há alguns anos sobre seu funcionamento não é mais válida atualmente.

O neurocientista Andrei Mayer, professor do Departamento de Ciências Fisiológicas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e administrador  do canal do Youtube A culpa é do cérebro, ajuda a desvendar alguns mitos sobre o cérebro.

É verdade que usamos apenas 10% da nossa capacidade mental?
Esse é um dos maiores mitos da neurociência. Todos nós usamos 100% do cérebro. O sistema nervoso é muito custoso para o corpo do ponto de vista de gasto energético. Então não faria sentido usar somente 10% dele.

Inclusive, em alguns quadros clínicos, como quando a pessoa nasce cega ou fica cega, a região do cérebro que antes processava informação visual, passa a ser usada para outro fim, para processar outras informações.

Isso explica por que cegos têm maior capacidade de discriminação tátil nos dedos, por exemplo. Em parte porque eles treinaram para ler em braile, mas entende-se também que isso pode acontecer porque a área do cérebro que deveria processar informação visual agora processa outro tipo de informação. No caso, as informações vindas do toque dos dedos.

Então mesmo quando uma área que deveria ser usada para um fim, se ela não estiver sendo usada, ela vai ser usada para outra função Ou seja, a gente usa 100% do cérebro de um jeito ou de outro.

Mas é importante fazer uma ressalva: a gente usa 100% do cérebro, no entanto existe um mecanismo muito bonito no sistema nervoso que faz com que a gente priorize o processamento de uma informação em detrimento de outras. A gente chama isso de atenção.

Quando a gente está prestando atenção em alguma coisa, o que o cérebro faz é priorizar o processamento dessa informação. Então, ao mesmo tempo que aumenta o processamento de uma coisa, inibe o restante. O que é bem custoso para o cérebro em vários aspectos, do ponto de vista energético também. Então, de certa maneira, a gente não tem o cérebro superativo, ele está priorizando uma coisa ou outra, dependendo do que você está fazendo.

Nesse sentido, a gente não está superativando o cérebro todo ao mesmo tempo, mas isso não quer dizer que a gente não usa o cérebro todo.

É verdade que os homens usam mais o lado esquerdo do cérebro, enquanto as mulheres usam mais o lado direito?
Mito. A gente não pode dizer que os homens usam mais um lado e as mulheres o outro. Na verdade, a gente não pode dizer isso sobre pessoa nenhuma. A gente usa o cérebro todo. Ninguém, homem ou mulher, usa mais um hemisfério do que o outro.

O que pode acontecer é que algumas funções possuem lateralidade, ou seja, um dos hemisférios do cérebro está mais envolvido no processamento dessa função do que o outro.

A linguagem, por exemplo, está bastante relacionada com o hemisfério esquerdo. Nas áreas relacionadas com o processo auditivo e vocal da linguagem, de compreensão, de fala, o processamento normalmente ocorre mais no hemisfério esquerdo. Mas isso varia até se a pessoa é destra ou canhota. Na pessoa destra, você pode encontrar uma preferência do hemisfério esquerdo, uma taxa de 95%, e o canhoto é algo em 70%.

Então existe uma lateralidade de algumas funções sim, como a linguagem. No entanto, existe uma variabilidade de acordo com a pessoa. Mas a gente não pode dizer que pessoa nenhuma, seja homem ou mulher, usa mais um hemisfério do que o outro.

As diferenças entre cérebro masculino e feminino são muito discutidas na literatura. E essa história de ter diferenças do ponto de vista anatômico e funcional, se as conexões são diferentes, se o cérebro do homem tem mais facilidade para uma coisa e o da mulher para outra, vem caindo por terra há bastante tempo.

Não dá mais para a gente afirmar que tem diferença, que homem é melhor com raciocínio espacial e mulher é melhor com linguagem, por exemplo. Isso vem sendo refutado, porque nas ciências essas coisas levam tempo, né? São evidências em cima de evidências.

Porém, atualmente, existem trabalhos que mostram que há diferenças do cérebro do homem e da mulher em relação à lateralidade. Inclusive, em relação às regiões que estão mais ou menos conectadas entre os hemisférios. Há evidências mostrando que nos homens, certas áreas, por exemplo, envolvendo controle motor, estão mais conectadas. E no cérebro das mulheres são outras regiões mais envolvidas com criatividade e intuição.

Mas é preciso tomar muito cuidado ao interpretar esses dados. Primeiro, porque não quer dizer que vai ser assim por causa do sexo. Às vezes, é um reflexo cultural, em que aqueles cérebros se desenvolveram ao longo dos anos. E, segundo, não quer dizer que isso vai refletir numa diferença funcional de fato. Mesmo que a gente veja ali uma evidência de diferença de conexões, não quer dizer que um cérebro vai ter realmente mais facilidade para uma coisa do que para outra.

Um vi uma metanálise recente –que é aquele tipo de estudo que faz uma análise estatística de outros estudos e chega a uma conclusão– que mostrou que não há diferenças. As diferenças que são encontradas entre os cérebros de homens e mulheres estão mais relacionadas ao tamanho do órgão, o que pode variar de indivíduo para indivíduo também, independentemente se for homem ou mulher.

E parece que essas diferenças que são encontradas não têm nada a ver com sexo. Então essa história de haver um dimorfismo, que é a diferença na morfologia, na estrutura entre mulher e homem, parece que não é bem assim, não.

Eu diria que esse é um ponto muito debatido e que na altura em que nós estamos dessa discussão, nós não podemos afirmar que existem diferenças anatômicas e funcionais entre o cérebro da mulher e o do homem. Ainda que haja uma evidência ou outra para isso, há também evidências de que não é assim. Então a gente não pode afirmar.

É verdade que precisamos de 21 dias para criar um hábito?
Mito. Essa história surgiu com um médico cirurgião-plástico americano chamado Maxwell Maltz, que na  década de 1960 observou que seus pacientes demoravam 21 dias para se acostumar com uma mudança no corpo. Mas isso não foi um estudo científico e não tem nada a ver com criar um hábito. Acho que foi daí que surgiu esse telefone sem fio.

Formação de hábito é um aprendizado. Assim como andar de bicicleta, qualquer aprendizado depende de mudanças que acontecerem no cérebro, e essas mudanças são afetadas por diversos fatores, como foco atencional, sono, motivação e número de repetições. O tempo que leva para formar um hábito varia muito, pode ser menos de 21 dias ou muito mais.

Há um trabalho muito citado, de uma pesquisadora chamada Phillippa Lally, da University College London, na Inglaterra, que mostra que criar um novo hábito pode variar de 18 a 254 dias.

É verdade que os testes de QI medem a inteligência de uma pessoa precisamente?
Mito. Já existe um grande debate na literatura científica sobre isso, muita crítica sobre os testes de QI por vários motivos. Um dos principais é que, do ponto de vista do cérebro, a gente não tem uma grande inteligência, a gente tem vários circuitos envolvidos para processar vários tipos de informação que correspondem com tipos de inteligencia.

Um exemplo que gosto de dar é sobre a capacidade de comunicação com as outras pessoas, a escrita ou a oral. Isso envolve circuitos específicos do cérebro, não é uma tarefa simples.

Quando você está falando com alguém, você tem que pensar em tudo o que você vai falar. Você está processando o que a pessoa vai entender, o que ela vai pensar, o que ela vai sentir, o que é melhor dizer, o que é melhor não dizer. Isso é um tipo de inteligência que a gente pode chamar de social, digamos assim, e envolve circuitos diferentes daqueles que a pessoa usa para jogar futebol ou controlar os movimentos do corpo, por exemplo.

Esse negócio de um teste para medir a inteligência já caiu por terra há muito tempo. Tem trabalho muito impactante cientificamente, em que os pesquisadores fizeram uma série de avaliações com milhares de pessoas em relação à capacidade de memória, ao raciocínio, à atenção. Eles tentaram correlacionar isso com um teste de QI padrão e não encontrar relação nenhuma.

Ou seja, o teste não estava conseguindo prever nenhum tipo de inteligência cognitiva segundo essas avaliações de memória e atenção. Então há muitas controvérsias sobre o teste de QI.

Existem vários tipos de testes de QI. E, curiosamente, muitos dos que são utilizados atualmente são bem antigos, criados nas décadas de 1920 e 1930. Foram revisitados e sofreram algumas atualizações, mas de modo geral é importante lembrar que são testes criados há muitos anos. Eles avaliam alguns aspectos básicos da cognição, como habilidades verbais, raciocínio e memória.

É verdade que é possível aprender outras línguas enquanto a gente dorme?
Mito. Com certeza é um mito. Não dá para aprender uma língua nova enquanto dorme. Mas devemos ressaltar que o sono é um processo muito importante para o aprendizado. Há uma série de eventos que acontecem no cérebro enquanto dormimos para consolidar na memória aquilo que aprendemos durante o dia. Porém, ele não é capaz de adquirir informações novas, num ambiente externo, enquanto estamos dormindo.

Não adianta nada botar um fone de ouvido enquanto dorme, com alguém falando outra língua, porque o cérebro vai estar num padrão de atividade totalmente diferente, que o impossibilita de registrar essas informações.

Mas, de fato, o sono é fundamental para o aprendizado. Uma pessoa que está dormindo mal vai ter sua capacidade de aprendizado muito prejudicada.

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