Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Pensamentos intrusivos afetam mais pessoas com TOC e podem levar a abuso de substâncias, explica psiquiatra https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/25/pensamentos-intrusivos-afetam-mais-pessoas-com-toc-e-podem-levam-a-abuso-de-substancias-explica-psiquiatra/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/25/pensamentos-intrusivos-afetam-mais-pessoas-com-toc-e-podem-levam-a-abuso-de-substancias-explica-psiquiatra/#respond Thu, 25 Nov 2021 10:00:19 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/lu2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1302 Os pensamentos intrusivos são involuntários e fazem a pessoa acreditar que vai perder o controle de alguma forma.

Eles não correspondem à realidade nem aos desejos de quem os vivencia. Geralmente dão a impressão que o indivíduo vai cometer um ato que considera abominável, como ferir outra pessoa ou a si mesmo. Ou, ainda, se ele fizer ou deixar de fazer alguma coisa, algo catastrófico pode acontecer.

“É muito importante entender que pensamentos intrusivos são involuntários. As pessoas que os vivenciam normalmente sentem repulsa por eles”, ressalta a psiquiatra Flávia Batista Gustafson.

“Existem muitos tipos de pensamentos intrusivos, mas os tópicos comuns incluem pensamentos inadequados de cunho sexual, pensamentos sobre relações interpessoais, com conteúdo de traição, por exemplo, pensamentos religiosos que são opostos e inadmissíveis pela crença da pessoa, e pensamentos relacionados a violência contra outras pessoas ou si mesmo”, explica.

Apesar de poderem afetar qualquer pessoa, são mais comuns em quem tem transtornos como ansiedade, estresse pós-traumático e especialmente TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).

“Essas pessoas [com TOC] também têm maior probabilidade de passar mais tempo pensando sobre as implicações desses pensamentos e são mais propensas a superestimar a probabilidade dos resultados temidos se vierem a se concretizar, o que acaba por retroalimentar o problema. Forma-se um ciclo vicioso em que os pensamentos intrusivos estão sempre voltando, o que causa muito sofrimento”, conta Gustafson.

Com a pandemia da Covid-19 mais controlada e a volta do trabalho presencial e dos eventos sociais, é comum que pessoas que já tinham pensamentos intrusivos anteriormente fiquem mais vulneráveis a eles.

“Os pensamentos intrusivos a respeito da contaminação pelo vírus da Covid-19 ou até outras doenças podem ser amplificados, e a pessoa pode experimentar grande sofrimento ao se ver obrigada a frequentar círculos profissionais e sociais novamente”, observa.

Sem um tratamento adequado, quem enfrenta esse fenômeno pode acabar recorrendo ao uso de álcool e outras drogas para tentar distrair a mente. “A pessoa se ‘medica’ com o álcool, ou menos frequentemente com outras drogas ilícitas, em busca de um relaxamento e alívio momentâneo dos sintomas”, diz Gustafson.

“O problema é exatamente esse: um alívio momentâneo. A seguir vem a parte indesejada, que é a piora dos sintomas. A pessoa então passa a ingerir mais álcool para voltar a sentir-se aliviada, levando a um perigoso abuso e uma potencial dependência, o que consequentemente adiciona uma nova camada de problemas para se lidar.”

Leia a seguir a entrevista com a psiquiatra.

O que são pensamentos intrusivos e como eles surgem?
Pensamentos intrusivos são pensamentos indesejados que aparecem do nada. Eles podem ser desencadeados por estresse do dia a dia, mas também podem ser sintomas de um transtorno mental. Geralmente eles são desagradáveis e até perturbadores, o que pode fazer com que as pessoas não procurem ajuda num primeiro momento por se sentirem envergonhados por esses pensamentos.

Os pensamentos intrusivos são involuntários e não têm relação com a realidade ou os desejos de uma pessoa. As pessoas não agem de acordo com esses pensamentos, muito pelo contrário, elas geralmente os consideram horríveis e inaceitáveis.

Esses pensamentos podem ser persistentes e causar angústia significativa em algumas pessoas. Frequentemente, quanto mais as pessoas tentam se livrar desses pensamentos, mais eles persistem e mais intensos se tornam.

Você poderia citar um exemplo de pensamento intrusivo que seja comum?
É muito importante entender que pensamentos intrusivos são involuntários. As pessoas que os vivenciam normalmente sentem repulsa por eles.

Existem muitos tipos de pensamentos intrusivos, mas os tópicos comuns de pensamentos intrusivos incluem: pensamentos inadequados de cunho sexual, pensamentos sobre relações interpessoais, com conteúdo de traição, por exemplo, pensamentos religiosos que são opostos e inadmissíveis pela crença da pessoa, e pensamentos relacionados a violência contra outras pessoas ou si mesmo.

Os pensamentos intrusivos são comuns em transtornos como ansiedade, estresse pós-traumático, transtorno bipolar e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). Por que os pacientes diagnosticados com esses transtornos costumam ter esse tipo de pensamento?
Pessoas com diagnóstico de transtornos mentais (nesse caso, principalmente aquelas com TOC) têm maior probabilidade de julgar seus pensamentos intrusivos como maus, imorais ou perigosos.

Essas interpretações geralmente levam a uma forte reação emocional negativa, o que amplifica a força percebida dos pensamentos intrusivos, elevando assim o foco sobre eles.

Essas pessoas também têm maior probabilidade de passar mais tempo pensando sobre as implicações desses pensamentos e são mais propensas a superestimar a probabilidade dos resultados temidos se vierem a se concretizar, o que acaba por retroalimentar o problema. Forma-se um ciclo vicioso em que os pensamentos intrusivos estão sempre voltando, o que causa muito sofrimento.

Qual é a diferença entre pensamento intrusivo, alucinação e delírio?
As alucinações e delírios são sintomas bastante diferentes dos pensamentos intrusivos, e costumam estar presentes em transtornos psicóticos.

As alucinações podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial (auditiva, visual, olfativa, gustativa e tátil), mas as auditivas são de longe as mais comuns. É uma percepção que parece completamente real para a pessoa, mas que não está acontecendo. As alucinações auditivas são geralmente experimentadas como vozes, familiares ou não familiares, que são percebidas como distintas dos próprios pensamentos da pessoa.

A definição de delírio é um pouco diferente, embora também envolva a experiência de algo que parece real, mas não é. É uma crença obviamente falsa, mas mesmo assim o indivíduo que a experimenta pensa que é absolutamente verdadeira. Essa pessoa vai acreditar firmemente no delírio, mesmo quando repetidamente mostradas evidências contrárias.

Tanto as alucinações quanto os delírios são distúrbios, na realidade. São experiências que parecem reais para quem está sofrendo com elas, mas não têm conexão com a realidade.

Agora, com a pandemia mais controlada, as pessoas estão retomando o trabalho presencial e os eventos sociais. É comum que algumas pessoas tenham pensamentos intrusivos por medo de contaminação por Covid-19? Ou mesmo por que ficaram muito tempo em isolamento e estão enfrentando uma espécie de agorafobia?
Certamente. As pessoas que já sofriam com pensamentos intrusivos antes da pandemia agora estão muito mais vulneráveis à medida que o mundo vai se abrindo novamente ao “novo normal”.

Os pensamentos intrusivos a respeito da contaminação pelo vírus da Covid-19 ou até outras doenças podem ser amplificados, e a pessoa pode experimentar grande sofrimento ao se ver obrigada a frequentar círculos profissionais e sociais novamente.

Muitas dessas pessoas encontraram um certo conforto emocional na situação de isolamento e do home office durante a fase mais crítica da pandemia e podem sentir muita dificuldade em enfrentar o mundo novamente.

É comum uma pessoa que tenha pensamentos intrusivos e que ainda não tenha tido um diagnóstico correto recorra ao uso de drogas e álcool? Quais são os perigos que essa prática pode acarretar?
Quando falamos em pensamento intrusivos que causam muito sofrimento, sempre lembramos do risco aumentado do abuso de substâncias, especialmente o álcool.

A pessoa se “medica” com o álcool, ou menos frequentemente com outras drogas ilícitas, em busca de um relaxamento e alívio momentâneo dos sintomas.

O problema é exatamente esse: um alívio momentâneo. A seguir vem a parte indesejada, que é a piora dos sintomas. A pessoa então passa a ingerir mais álcool para voltar a sentir-se aliviada, levando a um perigoso abuso e uma potencial dependência, o que consequentemente adiciona uma nova camada de problemas para se lidar.

Com um diagnóstico correto e tratamentos com psiquiatra e psicólogo é possível controlar esses pensamentos?
Pensamentos intrusivos nem sempre são o resultado de uma condição médica. Aliás, a maioria das pessoas os têm de vez em quando. No entanto, para muitas pessoas, pensamentos intrusivos podem, sim, ser um sintoma de um problema de saúde mental, como TOC ou o transtorno de estresse pós-traumático.

Esses pensamentos também podem ser um sintoma de problemas neurológicos, como uma lesão cerebral, demência ou mal de Parkinson, por exemplo. Por isso um diagnóstico bem feito é imperativo.

A melhor maneira de gerenciar pensamentos intrusivos é reduzir a sensibilidade da pessoa a esses pensamentos e seu conteúdo. O tratamento vai ser individualizado a cada pessoa, mas, em linhas gerais, o médico psiquiatra vai fazer o diagnóstico e prescrever a medicação mais indicada.

Paralelamente, é fundamental a abordagem com a psicoterapia, sendo a TCC (terapia cognitivo comportamental) a mais indicada. Por último, e não menos importante, a pessoa deve ser orientada a seguir um estilo de vida saudável, com alimentação nutritiva, atividade física e higiene do sono, o que vai somente agregar ao seu bem-estar geral.

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Mais de 30% dos empreendedores brasileiros iniciaram tratamento psicológico na pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/09/mais-de-30-dos-empreendedores-brasileiros-iniciaram-tratamento-psicologico-na-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/09/mais-de-30-dos-empreendedores-brasileiros-iniciaram-tratamento-psicologico-na-pandemia/#respond Tue, 09 Nov 2021 10:00:36 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/e94c7dd3346f178f9061db76d05129d43de2308b56148613d44c334a2add30be_61186981c1068-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1295 Desde o primeiro semestre de 2020, a pandemia da Covid-19 tem impactado trabalhadores de diferentes setores com demissões, mudanças de local de trabalho e reduções salariais.

Para mapear os efeitos desse cenário entre os empreendedores brasileiros, a Troposlab, empresa especializada em inovação, em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), realizou pelo segundo ano consecutivo um estudo sobre a saúde mental das pessoas que atuam nesse setor.

A pesquisa revela que 30,13% dos entrevistados iniciaram acompanhamento psicológico durante a crise sanitária. Além disso, 53,5% dos participantes disseram ter sido diagnosticados com ansiedade, e 11,22% com depressão — as avaliações foram realizadas por profissionais especializados. O levantamento contou com a participação de 312 empreendedores de vários estados do país.

Quando comparado ao estudo realizado no ano passado, foi possível perceber que, proporcionalmente, houve uma maior quantidade de pessoas que começaram a utilizar medicamentos psiquiátricos em 2021 –26% neste ano, enquanto 16% alegaram tomar esse tipo de medicação em 2020. A atual edição da pesquisa mostra também que o início do uso de ansiolíticos entre empreendedores saltou de 6% para 10%, e de antidepressivos de 3% para 8%, em relação ao ano anterior.

De acordo com Marina Mendonça, sócia e diretora de cultura da Troposlab, existe uma conexão significativa entre o sofrimento psicológico e a queda da renda dos empreendedores. “No geral, é possível observar que empreendedores que reportam queda na renda também estão classificados com mais frequência com sintomas moderados e severos de ansiedade ou depressão. Em relação ao estresse, pessoas que respondem que tiveram queda na renda também apresentam mais sintomas severos”, afirma.

O estudo observou ainda que, no ano passado, 51,1% dos empreendedores tiveram a vida afetada pela pandemia, mas que se sentiam bem a maior parte do tempo, enquanto 24,9% dos empreendedores afirmaram que foram muito afetados. Já em 2021, 53,31% dos respondentes sentem que foram afetados e 21,49% muito afetados. Isso demonstra que não há diferenças significativas entre os períodos.

Quanto à percepção geral dos participantes sobre a pandemia, a maioria diz considerar o ambiente mais incerto (73,72%), mas os índices de 2021 são um pouco menores do que os de 2020. Por outro lado, 77,89% afirmam possuir habilidades para lidar com os desafios impostos pela crise sanitária, afirmação que se mantém semelhante aos dados do ano passado

Os resultados continuam a apontar que as mulheres apresentam maior intensidade de sintomas severos para ansiedade (12,50%), quando comparadas aos homens (2,84%), estresse (7,35% contra 1,13%) e também maior prevalência de depressão (6,61% contra 2,84%).

“Nosso objetivo é aprender sobre o empreendedor. Percebemos lacunas de conhecimento sobre como ele se desenvolve, sua personalidade, saúde mental e outros elementos que impactam suas escolhas e desempenho nos projetos empreendidos. Em nossa visão, gerar conhecimento sobre esses elementos pode nos ajudar a construir um ambiente de negócios mais sustentável”, diz Mendonça.

“Essa pesquisa é um de nossos esforços e entregas para esse ecossistema. Para que ele nos aproxime de parceiros e provoque novas iniciativas que gerem frutos para a ciência no Brasil e para o desenvolvimento saudável de nosso ambiente de negócios e inovação”.

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Medo de voltar a frequentar eventos sociais? Especialistas dão dicas para respeitar seu ritmo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/#respond Sat, 09 Oct 2021 10:00:34 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/GUARUJA-1-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1196 Em setembro, uma pesquisa Datafolha mostrou que para 80% dos entrevistados a pandemia da Covid-19 está controlada em parte (71%) ou totalmente (9%). Essa percepção pela maioria da população ocorre em meio ao avanço da vacinação em todo o país e à queda do número diário de casos e de mortes pela doença.

Neste cenário, algumas cidades avaliam desobrigar o uso de máscaras e a volta dos torcedores aos jogos de futebol. Até as escolas de samba já discutem a organização do Carnaval 2022.

Ao mesmo tempo, especialistas alertam sobre os perigos de relaxar medidas de contenção contra o coronavírus num momento em que a Covid-19 ainda mata em média mais de 400 pessoas por dia. Nesta sexta (8), o país passou de 600 mil mortos pela doença.

Ou seja, os eventos estão sendo retomados, mas a pandemia ainda não acabou. Essa situação acaba gerando ansiedade e dúvidas sobre como voltar à “vida normal”.

A seguir, especialistas dão dicas para enfrentar esse período de transição sem desrespeitar seus limites.

Respeite a sua retomada
O comércio e os eventos culturais já estão funcionando de maneira cada vez mais próxima de como era antes do início da pandemia. No entanto, muitas pessoas ainda estão receosas de voltar a frequentá-los, mesmo tomando os devidos cuidados.

“Se você é uma delas, seja qual for o seu medo, não se sinta pressionado a nada. Cada um tem seu próprio ritmo. Só não permita que este medo te domine e te impeça de retomar sua vida. Se chegar a este ponto, será preciso buscar ajuda de um especialista”, aconselha Cristiane Romano, doutora em ciências e expressividade pela USP (Universidade de São Paulo).

“Todo esse cenário da pandemia nos fragilizou. Pessoas sem histórico de transtornos sendo acometidas por ataques de pânico e ansiedade. Quem já tinha algum tipo de doença psiquiátrica precisou de um suporte maior. Difícil ficar indiferente a tudo que ainda estamos passando”, afirma a psicóloga Flávia Teixeira.

Enquanto isso, tente adequar sua rotina e evite variar muito os horários de dormir. A privação do sono é um forte gatilho para transtornos de ansiedade. “Quando você não dorme o suficiente para ser produtivo ou trabalha até tarde da noite, prejudica a rotina do sono, desregulando seu relógio biológico. Isso resulta em uma extrema exaustão, pois o organismo, que já está habituado com um determinado padrão de sono, sofre um forte impacto, precisando de tempo e resistência para se adequar às mudanças. Sendo assim, quanto mais você praticar a rotina em casa, mais fácil será para retomar suas atividades de forma leve, natural, espontânea e sem traumas”, observa o psiquiatra Adiel Rios.

Desenvolveu algum hábito bom na quarentena? Mantenha 
Para enfrentar o isolamento social durante a quarentena, muitas pessoas desenvolveram hábitos para driblar o estresse.

Criou uma brincadeira diferente com seu filho? Mantenha-a quando estiver com ele. Teve ideia de fazer pequenos trabalhos de restauração ou pintura de móveis? Adote o hobby. Aprendeu a meditar para relaxar? Se funcionou para você, não pare mais.

“Poucas pessoas têm consciência que, para uma boa saúde mental, é preciso buscar atividades que proporcionem prazer e bem-estar. Portanto, se você descobriu algo interessante na quarentena que até te fez esquecer da pandemia por alguns instantes, não pare de praticar. Seja individualmente ou com alguém, realizar novas atividades mantém sua mente ativa e saudável. E isso é tudo o que você precisa neste momento”, pontua a psiquiatra Danielle Admoni.

Evite a automedicação e mantenha a terapia
Um levantamento feito pela Funcional Health Tech, empresa de inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde, a partir da coleta de informações de aproximadamente 1 milhão de brasileiros, mostrou que, entre janeiro e julho deste ano, o consumo de medicamentos para ansiedade depressão cresceu 14% em comparação ao mesmo período de 2020.

“Tomar antidepressivos ou ansiolíticos sem acompanhamento e, pior, mudar a dose ou interromper o uso sem orientação, é uma atitude irresponsável e perigosa. Se você está em um nível de ansiedade tão grande a ponto de recorrer a estes medicamentos, o melhor a fazer é buscar ajuda com um especialista, que irá te avaliar e indicar o tratamento ideal para sua condição”, afirma o psiquiatra Adiel Rios.

Segundo o médico, é preciso ficar atento a sintomas como tristeza profunda e contínua, apatia, desânimo, perda do interesse pelas atividades que gostava de fazer, pensamentos negativos (ideias de fracasso, incapacidade, culpa, pensamentos de morte) e alterações do sono e do apetite. “O tratamento pode envolver o uso de psicofármacos, associados à psicoterapia.”

Não faça do álcool a sua válvula de escape
Em maio do ano passado, uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revelou alterações de comportamento na população brasileira durante as primeiras semanas do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Aumento de sintomas depressivos, de ansiedade e de consumo de cigarros e de álcool foram relatados pelos participantes

No ápice do isolamento social, com menos interação com colegas e familiares, foi mais fácil perder o controle do uso de algumas substâncias prejudiciais à saúde. “Se continuar com este hábito, terá uma conta alta em breve, aumentando ansiedade, ataques de pânico e outros sintomas psiquiátricos. Pior: o impacto cerebral deste uso abusivo pode perdurar por muito tempo, mesmo quando acabar a pandemia”, alerta a psiquiatra Danielle Admoni.

Entenda o que você pode e o que não pode controlar
Durante a pandemia, as pessoas sentiram que perderam o controle sobre suas vidas. “Neste momento de incertezas, tente basear suas escolhas em fontes confiáveis de informações e diretrizes, como instituições acadêmicas ou governamentais. Há decisões que não precisam ser tomadas com sofrimento, como voltar a trabalhar na empresa ou continuar em home office”, diz a psicóloga Flávia Teixeira.

“No entanto, às vezes é necessário simplesmente reconhecer que há situações na vida que não podemos controlar. Se você está com dificuldade em aceitar esta realidade, há formas de lidar com suas preocupações. Escreva em um caderno o que vem à mente, como se fosse um diário. Isso torna seu pensamento mais lento, focado e eficiente, trazendo novas perspectivas e maior clareza para assimilar determinadas questões”, sugere a educadora parental Stella Azulay.

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Pandemia aumenta busca por atendimento de saúde mental para crianças e adolescentes no dr.consulta https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/pandemia-aumenta-busca-por-atendimento-de-saude-mental-para-criancas-e-adolescentes-no-dr-consulta/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/pandemia-aumenta-busca-por-atendimento-de-saude-mental-para-criancas-e-adolescentes-no-dr-consulta/#respond Sun, 26 Sep 2021 10:00:18 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/mexico-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1096 Um levantamento do banco de dados de pacientes cadastrados no dr.consulta mostra que, entre janeiro e julho deste ano, houve um aumento de 78% nas consultas de psicologia da faixa etária dos 10 aos 19 anos em comparação ao mesmo período de 2020. O crescimento nos atendimentos de psiquiatria foi de 9%.

Para Lisies Jacintho, psicóloga da rede de centros médicos, o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 afetou a saúde mental dos mais jovens.

“Eles sentiram um aumento muito grande na dor emocional, principalmente por terem vivido meses de ensino remoto e falta de convivência com os demais. Acabaram se isolando, entraram em estado de pânico e não souberam como lidar com os sentimentos. Nessa faixa etária, dificilmente eles contam aos pais o que acontece. Aí entra a importância do profissional para tratar o estado mental, que está muito abalado”, explica Jacintho.

No período, a psicóloga observou que em 50% das consultas, os pacientes entre 10 e 19 anos relataram que estavam aflitos e se sentindo tristes.

Jacintho diz que, para essa faixa etária, a consulta precisa ser sempre presencial. Isso é importante para que eles possam desabafar, olhar nos olhos e até mesmo treinar esse retorno para a vida presencial.

A psicóloga conta que por ser uma geração muito ativa nas redes sociais, os jovens acabam pesquisando e vendo a importância de tratar a saúde mental. Geralmente, a atitude de procurar ajuda profissional parte deles, e não dos pais.

“Muitas vezes, eles aceitam melhor do que os pais essa busca pelo tratamento da saúde mental. Após a primeira consulta, já é possível notá-los aliviados. Eles têm a sensação de que estão sozinhos no mundo e é importante conversar com um profissional que os compreende”, observa.

Danilo Carvalho Borges, psiquiatra do dr.consulta, diz que uma forma de os pais detectarem se há alguma mudança de comportamento nos filhos que pode indicar depressão ou ansiedade é ficar de olho se eles perderam o interesse por algo que gostavam de fazer anteriormente ou se o rendimento escolar caiu.

“Normalmente, a criança tem alguma mudança de postura, seja comportamental ou acadêmica, tendendo a não se interessar por atividades em grupo e se isolar. Isso pode acontecer pelos mais variados motivos, como bullying ou excesso de cobrança dos pais ou responsáveis”, afirma.

“A criança tende a ficar mais raivosa e faz gesticulações verbais ou físicas de agressividade, denotando que algo não está normal. Cabe aos pais não fazer julgamento, e sim propor caminhos para que ela se abra e diga abertamente o que está acontecendo, sem exercer pressão psicológica. Tudo tem que ser muito cauteloso”, ressalta Borges.

O psiquiatra destaca que é preciso ficar atento aos seguintes sinais: isolamento voluntário, agressividade verbal, automutilação, verbalização de que as coisas não estão boas, desejo de suicídio e descontentamento anormal com o seu cotidiano.

Iniciar uma conversa sobre saúde mental com um jovem nem sempre é fácil, mas há meios de dar o primeiro passo. “Crianças e adolescentes podem achar que isso é uma invasão de privacidade, então o intuito da abordagem não deve ser constranger, e sim ajudar, e que isso fique bem claro, que nada do que vai ser dito se tornará público”, diz Borges.

“O fundamental é que as crianças vejam os pais como amigos, não como fiscais de comportamento, porque de sofrimento eles já são bem escolados”, aponta o psiquiatra.

“Um sinal de alerta é o medo desmesurado de algo ou de uma pessoa, que no passado lhes foi caro e hoje é visto como algoz. Nunca se deve tomar a queixa à ligeira, como uma ‘coisa de criança’. Se ela altera seu comportamento, normalmente não é gratuito, e cabe aos pais investigarem a causa de tal alteração. E, se necessário, encaminhá-la ao psicólogo infantil ou ao psiquiatra infantil, para que possam ser esclarecidas as dúvidas e possa ser dado um bom encaminhamento ao caso”, afirma.

Os professores também podem ajudar a observar se os alunos estão enfrentando algum problema emocional. “Os sinais são sutis, como arrefecimento do contato, isolamento, postura passiva/agressiva, desinteresse em atividades que lhes causavam prazer e a falta de motivação”, diz o psiquiatra.

Uma pesquisa nacional do instituto Datafolha, em parceria com a Fundação Lemann, o Itaú Social e a Imaginable Futures, vem acompanhando crianças e jovens do ensino público ao longo da isolamento e revela seus impactos.

O Datafolha realizou, entre 7 e 15 de julho, 1.056 entrevistas, por telefone, com responsáveis por 1.556 estudantes de 6 a 18 anos de escolas municipais e estaduais do país, com uma amostra baseada no Censo de Educação 2019. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, e os resultados têm confiabilidade de 95%.

A falta de motivação, que em maio atingia 46%, chegou a 51% em julho. Os que enfrentam dificuldades para manter a rotina saltaram de 58% para 67%. O percentual dos que estão tristes começou a ser medido em junho, quando chegou a 36%, e passou para 41% em julho. No mesmo período, o de irritados foi de 45% para 48%. Somam 74% os que se sentem tristes, ansiosos ou irritados.

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Pesquisa Datafolha encomendada por Abrata e Viatris mostra que 44% dos brasileiros tiveram problemas psicológicos na pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/13/pesquisa-datafolha-encomendada-por-abrata-e-viatris-mostra-que-44-dos-brasileiros-tiveram-problemas-psicologicos-na-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/13/pesquisa-datafolha-encomendada-por-abrata-e-viatris-mostra-que-44-dos-brasileiros-tiveram-problemas-psicologicos-na-pandemia/#respond Mon, 13 Sep 2021 18:05:02 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/ansiedade.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1044 Uma pesquisa Datafolha encomendada pela Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e pela farmacêutica Viatris mostrou que 44% dos brasileiros afirmaram que ter tido problemas psicológicos durante a pandemia da Covid-19, decretada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em março de 2020.

O levantamento foi realizado de forma presencial, entre os dias 2 e 7 de agosto, em 129 municípios das cinco regiões do país. Foram entrevistadas 2.055 pessoas a partir dos 16 anos de idade, de todas as classes econômicas, conforme critérios da PNAD 2019 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Os mais afetados foram mulheres (53%), jovens entre 16 e 24 anos (56%), pessoas economicamente ativas (48%), pessoas com alta escolaridade (57%) e pessoas sem filhos (51%).

Além disso, 28% dos entrevistados relataram que tiveram diagnóstico de depressão ou de outra doença relacionada à saúde mental durante a pandemia, enquanto 46% afirmaram que algum familiar ou amigos próximos tiveram depressão nesse período.

A pesquisa faz parte da campanha “Bem Me Quer, Bem Me Quero: O diálogo sobre depressão e ansiedade pode salvar vidas” para o Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio.

“O prolongamento do período da pandemia misturado à incerteza em relação ao futuro, uma rotina com restrições de circulação, o medo da morte, o luto e a falta de convívio entre familiares e amigos fizeram com que aumentassem os sentimentos de ansiedade, tédio, pânico e solidão durante este período, o que pode ter levado a esses dados preocupantes”, observa a neurologista e diretora-médica da Viatris, Elizabeth Bilevicius.

De acordo com a pesquisa, a conscientização dos brasileiros sobre o tema depressão ainda é deficiente. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) considerou muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doença, e 10% disse não saber agir diante de um conhecido com depressão. Essa dificuldade de lidar com a situação é um pouco maior entre os homens e pessoas que não são economicamente ativas.

Além do aumento dos casos de depressão, os sentimentos de sobrecarga, medo e angústia durante a pandemia também se agravaram. Cerca de 55% das pessoas concordaram que se sentiram sobrecarregadas de tarefas e 57% afirmaram ter vivenciado medo e angústia nos últimos meses.

Sobre ter uma rede de apoio, com familiares, amigos e colegas de trabalho, 62% dos entrevistados que tiveram sintomas de ansiedade ou depressão disseram que tinham com quem contar, e 14% não tinha ninguém para dar suporte. Quase todos (96%) concordaram que a rede de apoio favorece a recuperação dos problemas psicológicos.

“O primeiro passo [para enfrentar os problemas de saúde mental] é admitir que está doente, que precisa de ajuda. É muito comum a negação do problema nesses casos. A partir daí, é importante se abrir com pessoas da sua confiança e estabelecer um diálogo limpo e construtivo, uma vez que a rede de apoio é um complemento fundamental à abordagem clínica. Sabemos que quem conta com esse suporte costuma ter mais adesão ao tratamento”, reforça Marta Axthelm, presidente da Abrata.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil lidera o ranking de casos de depressão na América Latina, com mais de 11,5 milhões de brasileiros sofrem com a doença, e é o país mais ansioso do mundo, com quase 19 milhões de pessoas que têm transtorno.

Alexandrina Meleiro, psiquiatra e membro do Conselho Científico da Abrata, afirma que quase todos os casos de suicídio têm relação com transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.

“Praticamente todos aqueles que tentam ou cometem esse ato têm alguma doença psiquiátrica. As estatísticas mostram que mais da metade deles estava em acompanhamento médico até uma semana antes do episódio. É importante ressaltar que quem pensa em suicídio quase sempre dá sinais, mas a maioria das pessoas não está preparada para identificá-los. Daí a importância do Setembro Amarelo, para ajudar a esclarecer e conscientizar a população sobre o tema”, diz Alexandrina.

O atentado à própria vida é a segunda causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos no mundo. No entanto, não é exclusivo dos adolescentes. A psiquiatra explica ainda que idosos e populações vulneráveis, como os indígenas, LGBTQIA+, médicos, policiais e membros das forças armadas também são os grupos que demonstram alta incidência no Brasil.

A pesquisa Datafolha mostra que o tabu sobre o tema vem, aos poucos, se desfazendo: 52% das pessoas discordam que falar sobre suicídio deve ser evitado. Sobre a população LGBTQIA+, o levantamento revelou que 65% dos entrevistados concordam que esse grupo é mais vulnerável ao suicídio. Essa percepção é maior entre os mais jovens de 16 a 24 anos, pessoas que trabalham e aqueles sem filhos.

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Pesquisa mostra diferenças entre buscas online sobre saúde mental feitas no Brasil e em Portugal https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/pesquisa-mostra-diferencas-entre-buscas-online-sobre-saude-mental-feitas-no-brasil-e-em-portugal/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/pesquisa-mostra-diferencas-entre-buscas-online-sobre-saude-mental-feitas-no-brasil-e-em-portugal/#respond Thu, 18 Feb 2021 19:00:44 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/f806d4133febbe0a76234fc29fc1ecfd70de43c0348a51445530efb676b71011_5eed60b500450-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=649 Um estudo divulgado nesta quinta-feira (18), elaborado pela subdivisão Health+Life da agência SA365, revela aumento nas pesquisas relacionadas à saúde mental em redes sociais e mecanismos de busca no Brasil e em Portugal durante o ano passado, quando começou a pandemia da Covid-19.

No Brasil, as pesquisas sobre ansiedade saltaram de 246 mil pontos, em novembro de 2019, para 370 mil pontos, na escala Google, entre os meses de abril a julho de 2020. Esse fenômeno foi acompanhado por uma diminuição na procura por termos ligados à depressão no mesmo período, com queda de 370 mil para 280 mil.

A metodologia utilizada do estudo se baseia na netnografia, que pode ser compreendida como um modelo de pesquisa etnográfica com enfoque maior nas comunidades digitais. Para isso, foram utilizados dados de popularidade do Google Trends, postagens no Twitter e monitoramento de grupos no Facebook e de comunidades no Instagram.

O objetivo do levantamento foi entender a popularidade e os discursos em relação às doenças mentais tanto no Brasil como em Portugal.

A indicação de que pessoas possam estar mais ansiosas, mas, ao mesmo tempo, sendo menos diagnosticadas com depressão chamou a atenção dos pesquisadores, já que uma das possíveis explicações pode estar no receio das pessoas em relação à Covid-19, que deixariam de procurar ajuda médica da forma adequada devido à pandemia.

“Vemos com ceticismo essa queda nas buscas sobre depressão, especialmente porque outros indicadores apresentaram aumento no mesmo período”, afirma Renata Assumpção, gerente da divisão Health+Life.

Também houve uma retração na romantização destes problemas de saúde (textos com apelo emocional e relatando casos pessoais), com um interesse maior por parte dos usuários em aspectos mais concretos como sintomas, diagnósticos e causas.

Manifestações físicas como falta de ar e pressão alta, comumente relacionadas à Covid-19, também apareceram associadas a outras buscas sobre doenças mentais.

Os dados do estudo mostram a importância do universo digital como rede de apoio neste momento. “Entendemos como relevante a atuação da indústria e de influenciadores para facilitar o diagnóstico e encaminhar as pessoas para o cuidado de um médico”, diz Renata.

A popularidade do debate sobre ansiedade vinha apresentando um crescimento orgânico desde 2015, sem variações bruscas. Um cenário semelhante também foi observado nas pesquisas relacionadas à depressão até 2019, já que antes da pandemia esta era a doença mais citada pelos usuários de redes sociais e mecanismos de busca nos dois países.

Essa predominância podia ser muita vezes explicada por fatores como o Setembro Amarelo (campanha de prevenção do suicídio) ou ainda devido a relatos de influenciadores como o humorista Whinderson Nunes, que falou abertamente sobre sofrer de depressão, declaração que foi amplamente divulgada pela imprensa.

No período pré-pandemia, também era notável uma romantização do debate sobre saúde mental. Textos que ganhavam repercussão maior nas principais plataformas sociais como Instagram e Facebook possuíam um forte apelo emocional, com poucas informações sobre sintomas e tratamento. Além disso, havia uma profusão de comentários condenatórios ao suicídio, tratando a questão como desvio de caráter ou “falta de Deus”.

Já durante a pandemia, os debates passaram a ser menos atrelados a postagens sobre depressão e mais associados a comentários sobre casos concretos. No entanto, foi registrada uma diferença entre os públicos brasileiro e português: a repercussão midiática no país europeu direcionou a atenção para o debate de saúde pública, com enfoque maior nos sintomas. Isso diferiu do que se observou no Brasil, onde a cobertura da imprensa se concentrou mais nas histórias e relatos das celebridades em questão.

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Campanha Janeiro Branco ressalta a importância dos cuidados com a saúde mental em meio à pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/06/campanha-janeiro-branco-ressalta-a-importancia-dos-cuidados-com-a-saude-mental-em-meio-a-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/06/campanha-janeiro-branco-ressalta-a-importancia-dos-cuidados-com-a-saude-mental-em-meio-a-pandemia/#respond Wed, 06 Jan 2021 10:00:28 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/f806d4133febbe0a76234fc29fc1ecfd70de43c0348a51445530efb676b71011_5eed60b500450-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=546 Com os impactos que a pandemia da Covid-19 tem provocado na saúde mental, como o aumento de sintomas depressivos e de ansiedade, a campanha Janeiro Branco deste ano traz a mensagem de que todo cuidado conta.

Criado em 2014 pelo psicólogo Leonardo Abrahão, o movimento tem como objetivo chamar a atenção da população para a importância dos cuidados com a saúde emocional.

Apesar de o debate sobre o tema ter ganhado mais espaço nos últimos meses devido aos desafios impostos pelas condições do isolamento social, Leonardo diz que ainda estamos longe de superar os estigmas em relação aos transtornos psicológicos.

“No entanto, em 2020, não houve quem não tenha sofrido com tudo o que aconteceu no mundo. Isso, com certeza, atrairá a nossa atenção para o que deve ser melhor conduzido em nossas vidas particulares e coletivas, inclusive em relação à saúde mental”, ressalta o psicólogo.

“Toda vez que a dor chega à humanidade, a humanidade se coloca a pensar sobre si mesma, sobre suas condições de existência, suas escolhas, seus acertos e seus erros em relação aos mais variados assuntos. Isso, obviamente, contribui para o lançamento de luzes sobre questões normalmente desprezadas ou encobertas por tabus”, observa.

Para respeitar as regras de distanciamento, nesta edição do Janeiro Branco não haverá palestras e rodas de conversa em lugares públicos, como nos anos anteriores. Os eventos serão feitos por lives e postagens nas redes sociais e no site da campanha.

Leia abaixo a entrevista com o psicólogo.

Com a pandemia, o ano de 2020 foi o que mais se falou em saúde mental. Você acha que esse debate ajudou as pessoas a se educarem sobre tema e a diminuir o estigma em relação aos transtornos mentais? 
Ainda não. Os estigmas ainda existem e existirão por um bom tempo. Infelizmente, a falta de uma cultura da saúde mental no mundo ainda deixará espaço para muitos preconceitos continuarem persistindo em meio aos relacionamentos humanos. É também contra isso que a campanha Janeiro Branco luta.

Porém, pelo fato de os desafios que a humanidade enfrentou no ano passado terem produzido intensas consequências prejudiciais à saúde mental de um número incalculável de pessoas, as dores que essas pessoas sentiram também as levarão a pensar sobre a importância da saúde mental em suas vidas.

Toda vez que a dor chega à humanidade, a humanidade se coloca a pensar sobre si mesma, sobre suas condições de existência, suas escolhas, seus acertos e seus erros em relação aos mais variados assuntos. Isso, obviamente, contribui para o lançamento de luzes sobre questões normalmente desprezadas ou encobertas por tabus.

Em 2020, a humanidade foi obrigada a pensar, de forma bastante ampliada, sobre questões direta e indiretamente ligadas à saúde mental dos indivíduos, como, por exemplo, educação infantil longe das escolas, lares transformados em ambiente de trabalho, vida sexual em tempos de isolamento social, distanciamento dos idosos, risco de desemprego, lutos inesperados, inconsequências políticas e falta de recursos financeiros para a sustentação da vida material.

Tudo isso diz respeito às múltiplas dimensões em que a saúde mental dos indivíduos opera. Os antigos estigmas relacionados à saúde mental dos seres humanos ainda persistirão por um bom tempo. Ainda vamos precisar de muitos janeiros brancos para melhorias nesse campo.

No entanto, em 2020, não houve quem não tenha sofrido com tudo o que aconteceu no mundo. Isso, com certeza, atrairá a nossa atenção para o que deve ser melhor conduzido em nossas vidas particulares e coletivas, inclusive em relação à saúde mental.

O debate sobre a importância de cuidar da saúde mental já chegou às empresas em relação aos seus funcionários? 
Não, ainda é um desafio e necessitaremos de muitos janeiros brancos para que uma verdadeira cultura da saúde mental permeie todas as relações humanas. Ainda estamos no início do processo de conscientização das pessoas e das instituições a respeito de tudo o que se relaciona às condições psicológicas e subjetivas dos indivíduos.

Além disso, as lógicas e as ideologias dos nossos sistemas sociais, culturais, produtivos e econômicos ainda são bastante compromissadas com imperativos materialistas, financistas, competitivos, particulares e individualistas indiferentes à saúde mental da maioria das pessoas em nossa sociedade, que é profundamente ignorante em relação às condições psicodinâmicas dos seres humanos.

O nosso analfabetismo emocional e o nosso desprezo à psicoeducação ainda cobra um preço muito alto da humanidade e até mesmo das empresas que não olham para as realidades subjetivas dos indivíduos que as compõem, que as operam e as sustentam.

O Ministério da Saúde anunciou que deve revogar uma série de portarias que estruturam a política de saúde mental no país. Entre as propostas, está o fim do programa de Volta para Casa, que promove a reinserção social de pacientes com transtornos mentais, e mudanças no atendimento dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), como a extinção daqueles voltados exclusivamente a usuários de drogas e álcool. De que forma essas medidas podem prejudicar a área de saúde mental no atendimento público?   
Caso venham a ser adotadas, essas medidas estarão na contramão de tudo o que diz respeito ao processo humanizatório e ao perfil democrático, social e progressista com que a política nacional de saúde mental vem sendo construída desde o início do período de redemocratização do nosso país e da eclosão das lutas antimanicomiais que a consubstanciaram.

A arbitrária substituição de uma visão holística, integrativa, humanista, multiprofissional e interdisciplinar de serviços psicossociais por uma visão medicalizante, privatista, individualista, psiquiatralizante e hospitalocêntrica agredirá valorosos princípios epistemológicos, metodológicos e estruturantes do SUS (Sistema Único de Saúde), assim como acabará resultando em sérios retrocessos a modelos excludentes e questionáveis de atendimento em saúde mental que a reforma psiquiátrica brasileira há muito tempo superou.

A educação sobre saúde mental e a diminuição do estigma em relação aos transtornos podem ser alguns dos resultados positivos que poderemos tirar desse período de pandemia? 
Esses resultados positivos desabrocharão no futuro. Os desafios que a humanidade viu-se obrigada a olhar com mais atenção em 2020 apenas começaram a mostrar a extensão, a seriedade e a profundidade das múltiplas ignorâncias e das inconsequências que ela possuía em relação a si mesma –como, por exemplo, o fato de não conseguir parar atividades econômicas mesmo em nome da proteção da vida de milhares de pessoas.

O que a humanidade já possui acumulado em termos econômicos seria suficiente para proteger todas as pessoas do mundo obrigadas ao isolamento social. O que falta é vontade política por parte de poderosos grupos de indivíduos obsessivamente insaciáveis e uma cultura da saúde mental capaz de proteger o mundo das sombras e do desequilíbrio egocentrado desses mesmos indivíduos.

No futuro, 2020 será chamado de ano-lupa, ano-luneta ou ano-microscópio: ele escancarou e revelou novas e velhas verdades absurdamente negadas por um número absurdo de pessoas cientes de que são pertencentes a uma espécie caracterizada por racionalidade, consciência e senciência, que é a espécie Homo sapiens.

Como a pandemia tem impactado a saúde mental da população? 
Muito do impacto da pandemia na saúde mental é absolutamente compreensível, normal e esperado. É normal sentir medo, ansiedade, alteração no apetite, tendência ao autoisolamento, humor deprimido, insônia eventual perante situações de estresse, angústia ou incertezas.

Há quem tenha começado a sentir dores inéditas no corpo, há que tenha percebido aumento na própria agressividade em relação a pessoas próximas. Também há pessoas que não conseguem mais enxergar sentido no casamento, no trabalho ou na religião que seguem. Essas são possibilidades absolutamente razoáveis e pertinentes em tempos como os que estamos vivendo.

O problema é quando as reações, por mais naturais e previsíveis que possam ser, começam a gerar sofrimentos intermináveis, perigo aos indivíduos e desfuncionalidades pessoais ou sociais. Nesses casos, a procura de ajuda profissional é altamente recomendada.

Quando sairmos dessa pandemia, quais sintomas devem ser os mais sentidos?
Seres humanos são infinitos particulares e universos irrepetíveis. Porém, a experiência nos mostra que a pandemia têm relação a muitas circunstâncias ligadas à origem de transtornos mentais como, por exemplo, transtorno do estresse pós-traumático, fobia social ou transtornos obsessivos compulsivos (TOC).

Em paralelo à pandemia da Covid-19 já é possível perceber a ocorrência de uma verdadeira pandemia em relação à saúde mental. Estudos já apontam aumento nos casos de depressão, de transtornos de ansiedade, de uso abusivo de substâncias psicoativas, de abuso infantil, de violência doméstica e de suicídios. Mais do que nunca, a mensagem da campanha Janeiro Branco é útil, necessária e pertinente.

Como se preparar emocionalmente para este ano que ainda deve exigir restrições como distanciamento social? 
Em palestras, entrevistas e reuniões virtuais tenho defendido a tese de que as pessoas precisam abraçar o pacto pela saúde mental que o Janeiro Branco está propondo. Isso dará a elas a chance de contribuírem para uma causa coletiva e universal, proporcionando-lhes sentimentos de responsabilidade social, utilidade pública, propósito, autocuidado e pertencimento.

As pessoas devem entender que nós, seres humanos, somos seres da comunicação orientados por sentidos que damos às nossas próprias vidas. Como dizia Nietzsche e Viktor Frank, quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.

Mais do que nunca, é preciso que as pessoas invistam em autoconhecimento, autonomia e autoestima, tornando-se, metaforicamente falando, árvores com raízes mais fortes e capazes de resistir às inevitáveis intempéries do tempo.

Também é importante que as pessoas recorram a técnicas amplamente validadas quando o assunto é prevenção em saúde mental, como ioga, meditação, mindfulness, exercícios físicos regulares, sono regular, alimentação saudável, hábitos culturais que estimulem a criatividade e a cognição, vida sexual sincera e saudável, vínculos sociais reais e profundos, bom senso nas relações sociais e práticas espirituais harmônicas e equilibradas.

Por fim, é necessário que sejamos um país mais justo, mais igualitário e mais garantidor dos direitos sociais e dos direitos humanos. Não há campo fértil para a saúde mental onde reinam misérias sociais, violências (concretas ou simbólicas) nas relações interpessoais e más intenções políticas nos processos individuais e coletivos.

JANEIRO BRANCO
Acompanhe os eventos no Instagram (@janeirobranco), no Facebook, no YouTube e no site da campanha.

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Fim de ano e distanciamento social agravam depressão em idosos, diz psiquiatra https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/25/fim-de-ano-e-distanciamento-social-agravam-depressao-em-idosos-diz-psiquiatra/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/25/fim-de-ano-e-distanciamento-social-agravam-depressao-em-idosos-diz-psiquiatra/#respond Fri, 25 Dec 2020 10:00:40 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/1f431c9af5281a2c10e6719094b151ecf76e83f4ded69aad0e4dd61ce76d80b4_5fd8aea6eb7d1-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=530 No grupo de risco da pandemia da Covid-19, a população idosa pode sentir sintomas de depressão se agravarem no fim do ano.

Por recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e de médicos infectologistas, os idosos devem reforçar o isolamento social para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. Afinal, pessoas com mais de 60 anos e com comorbidades tendem a sofrer os efeitos mais graves da doença.

“O problema é que o idoso também é do grupo de risco de saúde mental”, diz Leandro Valiengo, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).

Mesmo fora do contexto da pandemia, essa população já enfrenta doenças causadas pelo envelhecimento, perda de parceiros e de amigos de longa data, além de lidar com questões psicológicas que envolvem a própria finitude.

Nos últimos meses, inseridas no isolamento social provocado pela pandemia, essas preocupações se tornaram mais urgentes.

“Os idosos estão enfrentando uma diminuição da interação social, que geralmente é maior nessa época do ano. Isso acaba agravando os sintomas de depressão e de ansiedade”, observa Valiengo.

O psiquiatra explica que a depressão no idoso costuma ser mais grave do que no resto da população. “São depressões mais crônicas, que duram mais tempo.”

Valiengo é coordenador de uma pesquisa que utiliza a estimulação magnética transcraniana (EMTr) para tratar depressão em idosos. É uma técnica não invasiva que utiliza campos magnéticos para estimular pequenas regiões do cérebro por indução eletromagnética.

“A estimulação magnética transcraniana pode ser uma boa alternativa de tratamento para quem não sente melhora mesmo com o uso de medicamentos”, explica Valiengo.

A depressão em idosos pode se manifestar de diversas formas que vão além dos sintomas típicos da doença, como a tristeza profunda e o desânimo. A falta de memória, por exemplo, é um indício que pode ser confundido com demência e dificultar o diagnóstico da doença.

Para minimizar os efeitos que a solidão pode provocar nesse período, especialmente para aqueles que estão distantes da família e dos amigos, Valiengo indica encontros virtuais, por meio de aplicativos, ou ligações telefônicas.

O médico, no entanto, ressalta que sintomas depressivos contínuos devem ser avaliados por profissionais da saúde mental, como psiquiatras e psicólogos.

 

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2020 nos obrigou a lidar com a frustração, sentimento que a sociedade mais tenta evitar, diz psicóloga https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/09/2020-nos-obrigou-a-lidar-com-a-frustracao-sentimento-que-a-sociedade-mais-tenta-evitar-diz-psicologa/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/09/2020-nos-obrigou-a-lidar-com-a-frustracao-sentimento-que-a-sociedade-mais-tenta-evitar-diz-psicologa/#respond Wed, 09 Dec 2020 10:00:25 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/a1d347bc13128c5d44f1088cbdd1c9d891eb91f7cc03942552668b6b8350eb18_5ae6c62eef6dd-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=492 Festas que estavam sendo planejadas, viagens, cursos. Foram muitos os projetos para 2020 que precisaram ser cancelados, ou ao menos postergados, por causa da pandemia do novo coronavírus.

Com o relaxamento das restrições de distanciamento social em outubro, parecia que a quarentena ia dar uma trégua e que seria possível reunir a família nas festas de fim de ano. No entanto, o aumento de casos de Covid-19 no país nas últimas semanas frustrou também esses planos.

Frustração, aliás, está entre os sentimentos mais comuns a todos neste ano que está acabando, observa a psicóloga Ana Gabriela Andriani.

“Não há como evitar a frustração. Um dos grandes problemas da nossa sociedade hoje é esse, que a gente tenta evitar a frustração”, diz.

Andriani explica que faz parte do comportamento humano se planejar para tentar ter garantias de que as nossas expectativas serão sempre alcançadas. Porém, não saber se adaptar a situações imprevistas pode gerar angústia e sintomas depressivos.

“É importante viver a frustração porque ela faz a gente se expandir, ressignificar os acontecimentos e amadurecer”, afirma.

A seguir, a psicóloga comenta os desafios que enfrentamos em 2020 e como superá-los.

Pilares abalados
Este ano de 2020 foi um ano de muitos desafios. Em primeiro lugar, porque nossos principais pilares de segurança foram abalados: a saúde, a economia e os nossos relacionamentos.

Na saúde, ainda há muita insegurança sobre a Covid-19 em relação ao tratamento e ao atendimento. Estamos enfrentando também problemas econômicos em decorrência da pandemia, com fechamento dos negócios, as pessoas perdendo seus empregos, o aumento da desigualdade social. E estamos também enfrentando um abalo na questão das relações por conta do isolamento social e de não poder encontrar pessoalmente quem amamos.

Tudo isso exigiu uma reorganização da nossa vida. Seja na nossa casa, no nosso trabalho, em relação aos filhos ou aos planos que havíamos feito anteriormente, como festas de casamento, trabalhos, cursos. Por causa desse abalo no nossos principais pilares, está sendo um ano muito desafiador.

Finitude
Estamos sendo desafiados a lidar com a questão da morte e da finitude todos os dias. Geralmente, entramos em contato com a questão da morte e da finitude quando perdemos alguém próximo ou quando estamos doentes. Fora isso, ela costuma ser só uma ideia. A gente pensa que vai morrer velhinho, que vai perder as pessoas queridas quando elas também estiverem velhinhas.

A gente não tem esse contato do dia a dia, do cotidiano, com a morte. E agora a gente está tendo. A gente sabe diariamente qual é a taxa de contágio da Covid, qual é o número de mortes. Lidar com essa questão da morte e da finitude todos os dias é muito desafiador emocionalmente.

Frustração
Nos últimos meses estávamos vivendo um quadro aparentemente de queda do contágio, mas agora regredimos. Estamos passando por uma fase em que voltamos a ter mais restrições e isolamento.

Esse cenário anterior de melhora fez com que aumentássemos as expectativas de que logo essa situação passaria, de que talvez pudéssemos ver as pessoas queridas, que já poderíamos retomar nossos planos até de festas de fim de ano.

Por isso digo que estamos vivendo uma dupla frustração agora. Porque aparentemente tudo estava caminhando para uma melhora, mas enfrentamos uma retomada das restrições por causa do aumento do número de casos de contaminação e, consequentemente, de mortes por coronavírus.

A gente vai percebendo que não existe um encaixe perfeito entre o que a gente imaginou, a expectativa que a gente criou, e o que a vida nos oferece, a situação que nos é apresentada como possível.

Sempre há um desencaixe entre o que a gente sonha e o que é possível. Isso é normal. Mas agora a gente está vivendo mais intensamente esse desencaixe.

No início da pandemia, a gente imaginou que isso fosse durar alguns meses. E agora a gente está vendo que não, que a coisa é longa.

Adaptar planos
A questão não é a gente evitar a frustração, porque ela faz parte da vida, embora ela esteja sendo intensificada nesse momento. A questão é a gente aprender e conseguir lidar com ela.

Eu vejo duas formas de lidar com a frustração. Uma é paralisar e desistir. Ou seja, a gente tinha uma expectativa, essa expectativa não pode se concretizar, e a gente abre mão desse plano. Essa é a forma mais prejudicial em termos de modos de lidar com a frustração. Porque aí a gente não dá continuidade à nossa vida.

A segunda forma é a gente se adaptar. Ajustar os nossos planos, as nossa expectativas, os nossos sonhos, com o que a realidade apresenta como possível. Então é claro que a gente vai passar por esse momento de tristeza, de desalento, de sensação de impotência. Mas a gente vai tentar ver o que é possível e tentar se adaptar. Ou, em último caso, manter o plano e pensar que ele vai acontecer mais para frente.

Mas acho que a melhor coisa nesse momento, dado que a gente está vivendo uma situação que não se sabe exatamente quando vai acabar, é tentar adaptar os nossos planos.

Por exemplo, se há a expectativa de fazer um curso, vários cursos estão sendo feitos agora virtualmente. Faça o curso como é possível, online. É o ideal? Não. Mas isso está sendo possível. Que bom que a gente tem essa infraestrutura e essa tecnologia para isso, né?

Não dá para encontrar as pessoas que a gente ama, mas há plataformas de tecnologia para estar junto na maneira do possível. Vamos fazer uma ligação telefônica, usar aplicativos como o WhatsApp, o Zoom, ou qualquer outro meio que a gente possa ver a pessoa. Isso não vai deixar a pessoa próxima fisicamente, mas emocionalmente.

Então há formas de adaptar os nossos planos. Essa é a principal forma de lidar com a frustração. Porque aí a gente mantém a esperança e garante a continuidade da vida. A gente não desiste.

Isolamento no Natal 
Para as pessoas que estão completamente isoladas é fundamental que se mantenham em contato virtual com amigos e com a família.

Se vai passar o Natal e o Ano Novo sozinho, faça uma ceia gostosa para você mesmo, tenha um dia de cuidado consigo mesmo, procure fazer atividades que sejam prazerosas.

Mas, se possível, não fique totalmente isolado das outras pessoas. Não é porque a gente está em casa que a gente precisa ficar em isolamento completo. É importante que se faça uma ceia virtual para que o encontro seja possível.

Este fim de ano será atípico para todo mundo. Assim como durante todo o ano, é natural que agora todo mundo tenha que lidar de alguma forma com alguma questão emocional.

A gente está vivendo uma situação que é social. Ela está impactando o mundo inteiro. Claro que cada um vai enfrentar ao seu modo e que as pessoas vão viver situações diferentes, mas está todo mundo sendo afetado.

O fim deste ano vai nos exigir emocionalmente, como foi o ano inteiro e como também deve ser parte de 2021.

Luto
Para quem está vivendo o luto porque perdeu pessoas queridas para a Covid, o importante é buscar os seus afetos e não ficarem sozinhas. Estarem perto de pessoas que podem ampará-las. E para isso, de novo, a gente vai precisar das mensagens por aplicativos e chamadas de vídeo.

É importante que essas pessoas enlutadas dividam o seu sofrimento para que possam ser acolhidas. Outra coisa importante é elas não se obrigarem, especialmente por ser fim de ano, a se sentirem felizes ou a passarem rápido por esse estágio do luto.

O luto é um processo que precisa ser vivido e respeitado. O luto tem a ver com a elaboração interna, a elaboração emocional da perda, que não é uma situação fácil. Principalmente se a pessoa que morreu era muito próxima e querida. É muito importante aceitar o que está se sentindo, a tristeza, e compartilhar isso. Não ficar sozinho.

Caso a pessoa em luto perceba que está se sentindo demasiadamente triste é preciso procurar ajuda. O que estou chamando de demasiadamente triste é estar em um processo depressivo por um período muito prolongado, que se estende por muitos meses, com a sensação de perda de sentido da vida.

Se houver uma dificuldade de retomada das atividades, em um isolamento profundo, com dificuldade de comer, de dormir, é necessário a busca de uma ajuda profissional, como uma psicoterapia.

Ressignificação 
Toda situação de crise é uma oportunidade para ressignificação. E o que é a ressignificação? É uma abertura ao novo, ao diferente, ao que não foi pensado ainda.

A ressignificação é dar um novo significado a um acontecimento. Ela tem a ver com uma expansão do nosso modo de ser e de agir. Tem a ver com a gente repensar as nossas escolhas, sentido da nossa vida e das nossas relações.

Uma situação de crise e de contato com a finitude, como a que estamos vivendo, é uma oportunidade para a gente repensar o modo como a gente está sendo na vida e como a gente vem fazendo as nossas escolhas.

Não existe um ritual para que a gente se prepare para isso ou para que a gente torne a ressignificação possível. Mas a possibilidade de ressignificar vem de uma abertura e de uma disponibilidade interna.

Não é um processo fácil porque a gente tende a repetir nosso modo de ser, de resistir ao que é novo. É o mais confortável ficar no que já é conhecido.

É preciso estar aberto para questionar a si próprio e o modo como se está vivendo a própria vida.

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Como será o Natal na pandemia é tema de live no Canal USP https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/como-sera-o-natal-na-pandemia-e-tema-de-live-no-canal-usp/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/como-sera-o-natal-na-pandemia-e-tema-de-live-no-canal-usp/#respond Wed, 25 Nov 2020 10:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/natal-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=474 O Canal USP, da Universidade de São Paulo, promove uma live nesta quarta-feira (25), às 18h, com especialista que vão debater sobre os desafios de comemorar o Natal em meio a pandemia do novo coronavírus.

O evento será transmitido pelo Canal USP no YouTube.

Participam do debate Daniel Barros, psiquiatra do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da FMUSP, Carolina Botelho doutora em ciência política pelo IESP/UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Vitor Mori, físico e engenheiro biomédico que atua no Observatório Covid-19 BR e as jornalistas Fabiana Cambricoli, do O Estado de S.Paulo, e Luiza Caires, do Jornal da USP.

Os especialistas vão discutir as formas mais seguras para quem deseja realizar reuniões de família nas festas de fim de ano e questões relacionadas à saúde mental da população, como aqueles que perderam familiares e amigos para a Covid-19, além de sintomas de ansiedade e depressão provocados pela quarentena.

Em maio, uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revelou alterações de comportamento na população brasileira durante as primeiras semanas do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Aumento de sintomas depressivos, de ansiedade e de consumo de cigarros e de álcool foram relatados pelos participantes.

O estudo contou com a participação de 44.062 pessoas de todo o território nacional que responderam a um questionário online, entre 24 de abril a 8 de maio.

Em julho, um estudo feito pela internet com 11.863 indivíduos por cientistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que mais de metade da população adulta do estado de São Paulo afirmava sentir ansiedade ou nervosismo com frequência desde que a pandemia causada pelo novo coronavírus.

Para 39% dos entrevistados, sentir-se triste ou deprimido passou a ser algo rotineiro durante a quarentena e quase 30%, que antes dormiam bem, começaram a enfrentar problemas de sono. Os dados foram coletados entre os dias 24 de abril e 24 de maio por meio de questionário online.

Como será o Natal na pandemia?
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