Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Casos de depressão e ansiedade aumentaram na pandemia; mulheres e jovens são os mais afetados https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/13/casos-de-depressao-e-ansiedade-aumentaram-na-pandemia-mulheres-e-jovens-sao-os-mais-afetados/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/13/casos-de-depressao-e-ansiedade-aumentaram-na-pandemia-mulheres-e-jovens-sao-os-mais-afetados/#respond Wed, 13 Oct 2021 10:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/b041f4c7c75675befd388ee3cc41c09df78a841d6ad8114d098c8f63567accf0_61051536d4e63-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1224 Uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet, na sexta-feira (8), mostra que os casos de depressão aumentaram 28% e os de ansiedade 26% no mundo todo durante a pandemia da Covid-19. As mulheres e os jovens entre 20 e 24 anos foram os mais afetados.

O estudo é liderado por Damian Santomauro, da Escola de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Queensland, na Austrália, e envolveu mais 65 pesquisadores. A equipe internacional se baseou em 48 relatórios, publicados entre 1º de janeiro de 2020 e 29 de janeiro de 2021, que incluíam dados sobre a prevalência de transtornos depressivos ou de ansiedade em 204 países e territórios diferentes antes e durante a pandemia.

O grupo também analisou como essas mudanças na prevalência foram associadas aos marcadores do impacto da pandemia, como a mobilidade humana e a taxa de infecção diária.

“Este é, até onde sabemos, o primeiro estudo a identificar e analisar sistematicamente os dados da pesquisa de saúde mental da população e quantificar o impacto resultante da pandemia da Covid-19 na prevalência desses dois transtornos por localização, idade e sexo em 2020”, escreveram os autores.

A equipe encabeçada por Santomauro estima que ocorreram 246 milhões de casos de transtorno depressivo maior e 374 milhões de casos de transtornos de ansiedade em todo o mundo em 2020 –o aumento do primeiro foi 28% e o do segundo 26% maior do que o esperado se a pandemia não tivesse existido.

Cerca de dois terços (66,67%) desses casos extras de transtorno depressivo e 68% dos casos de ansiedade ocorreram entre mulheres. Os jovens foram mais afetados do que os adultos mais velhos, com casos extras em pessoas entre 20 e 24 anos.

“As responsabilidades adicionais de cuidar da família devido ao fechamento de escolas ou doenças de familiares têm maior probabilidade de recair sobre as mulheres. Elas têm maior probabilidade de sofrer desvantagens financeiras durante a pandemia devido a salários mais baixos, menos economias e empregos menos seguros do que os homens”, observaram os autores. “As mulheres também são mais propensas a serem vítimas de violência doméstica, cuja prevalência aumentou durante o confinamento.”

“Também estimamos uma mudança maior na prevalência de transtorno depressivo maior e transtornos de ansiedade entre grupos mais jovens do que entre grupos de idade mais avançada. A Unesco declarou a Covid-19 como a interrupção mais severa da educação global na história, estimando que 1,6 bilhão de alunos em mais de 190 países ficaram totalmente ou parcialmente fora da escola em 2020. Com o fechamento de escolas e restrições sociais mais amplas, os jovens foram impedidos de se reunir em espaços físicos, afetando sua capacidade de aprender e de interação com os pares. Além disso, os jovens têm maior probabilidade de ficar desempregados durante e após as crises econômicas do que as pessoas mais velhas”, relata o estudo.

A pesquisa conclui que “a pandemia gerou uma urgência cada vez maior para fortalecer os sistemas de saúde mental na maioria dos países. As estratégias de mitigação podem incorporar maneiras de promover o bem-estar mental e direcionar os determinantes de saúde mental precária e intervenções para tratar pessoas com transtorno mental. Não tomar medidas para lidar com o fardo do transtorno depressivo maior e dos transtornos de ansiedade não deve ser uma opção”.

O levantamento foi financiado pelo Queensland Health, Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica e pela Fundação Bill e Melinda Gates.

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Medo de voltar a frequentar eventos sociais? Especialistas dão dicas para respeitar seu ritmo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/#respond Sat, 09 Oct 2021 10:00:34 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/GUARUJA-1-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1196 Em setembro, uma pesquisa Datafolha mostrou que para 80% dos entrevistados a pandemia da Covid-19 está controlada em parte (71%) ou totalmente (9%). Essa percepção pela maioria da população ocorre em meio ao avanço da vacinação em todo o país e à queda do número diário de casos e de mortes pela doença.

Neste cenário, algumas cidades avaliam desobrigar o uso de máscaras e a volta dos torcedores aos jogos de futebol. Até as escolas de samba já discutem a organização do Carnaval 2022.

Ao mesmo tempo, especialistas alertam sobre os perigos de relaxar medidas de contenção contra o coronavírus num momento em que a Covid-19 ainda mata em média mais de 400 pessoas por dia. Nesta sexta (8), o país passou de 600 mil mortos pela doença.

Ou seja, os eventos estão sendo retomados, mas a pandemia ainda não acabou. Essa situação acaba gerando ansiedade e dúvidas sobre como voltar à “vida normal”.

A seguir, especialistas dão dicas para enfrentar esse período de transição sem desrespeitar seus limites.

Respeite a sua retomada
O comércio e os eventos culturais já estão funcionando de maneira cada vez mais próxima de como era antes do início da pandemia. No entanto, muitas pessoas ainda estão receosas de voltar a frequentá-los, mesmo tomando os devidos cuidados.

“Se você é uma delas, seja qual for o seu medo, não se sinta pressionado a nada. Cada um tem seu próprio ritmo. Só não permita que este medo te domine e te impeça de retomar sua vida. Se chegar a este ponto, será preciso buscar ajuda de um especialista”, aconselha Cristiane Romano, doutora em ciências e expressividade pela USP (Universidade de São Paulo).

“Todo esse cenário da pandemia nos fragilizou. Pessoas sem histórico de transtornos sendo acometidas por ataques de pânico e ansiedade. Quem já tinha algum tipo de doença psiquiátrica precisou de um suporte maior. Difícil ficar indiferente a tudo que ainda estamos passando”, afirma a psicóloga Flávia Teixeira.

Enquanto isso, tente adequar sua rotina e evite variar muito os horários de dormir. A privação do sono é um forte gatilho para transtornos de ansiedade. “Quando você não dorme o suficiente para ser produtivo ou trabalha até tarde da noite, prejudica a rotina do sono, desregulando seu relógio biológico. Isso resulta em uma extrema exaustão, pois o organismo, que já está habituado com um determinado padrão de sono, sofre um forte impacto, precisando de tempo e resistência para se adequar às mudanças. Sendo assim, quanto mais você praticar a rotina em casa, mais fácil será para retomar suas atividades de forma leve, natural, espontânea e sem traumas”, observa o psiquiatra Adiel Rios.

Desenvolveu algum hábito bom na quarentena? Mantenha 
Para enfrentar o isolamento social durante a quarentena, muitas pessoas desenvolveram hábitos para driblar o estresse.

Criou uma brincadeira diferente com seu filho? Mantenha-a quando estiver com ele. Teve ideia de fazer pequenos trabalhos de restauração ou pintura de móveis? Adote o hobby. Aprendeu a meditar para relaxar? Se funcionou para você, não pare mais.

“Poucas pessoas têm consciência que, para uma boa saúde mental, é preciso buscar atividades que proporcionem prazer e bem-estar. Portanto, se você descobriu algo interessante na quarentena que até te fez esquecer da pandemia por alguns instantes, não pare de praticar. Seja individualmente ou com alguém, realizar novas atividades mantém sua mente ativa e saudável. E isso é tudo o que você precisa neste momento”, pontua a psiquiatra Danielle Admoni.

Evite a automedicação e mantenha a terapia
Um levantamento feito pela Funcional Health Tech, empresa de inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde, a partir da coleta de informações de aproximadamente 1 milhão de brasileiros, mostrou que, entre janeiro e julho deste ano, o consumo de medicamentos para ansiedade depressão cresceu 14% em comparação ao mesmo período de 2020.

“Tomar antidepressivos ou ansiolíticos sem acompanhamento e, pior, mudar a dose ou interromper o uso sem orientação, é uma atitude irresponsável e perigosa. Se você está em um nível de ansiedade tão grande a ponto de recorrer a estes medicamentos, o melhor a fazer é buscar ajuda com um especialista, que irá te avaliar e indicar o tratamento ideal para sua condição”, afirma o psiquiatra Adiel Rios.

Segundo o médico, é preciso ficar atento a sintomas como tristeza profunda e contínua, apatia, desânimo, perda do interesse pelas atividades que gostava de fazer, pensamentos negativos (ideias de fracasso, incapacidade, culpa, pensamentos de morte) e alterações do sono e do apetite. “O tratamento pode envolver o uso de psicofármacos, associados à psicoterapia.”

Não faça do álcool a sua válvula de escape
Em maio do ano passado, uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revelou alterações de comportamento na população brasileira durante as primeiras semanas do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Aumento de sintomas depressivos, de ansiedade e de consumo de cigarros e de álcool foram relatados pelos participantes

No ápice do isolamento social, com menos interação com colegas e familiares, foi mais fácil perder o controle do uso de algumas substâncias prejudiciais à saúde. “Se continuar com este hábito, terá uma conta alta em breve, aumentando ansiedade, ataques de pânico e outros sintomas psiquiátricos. Pior: o impacto cerebral deste uso abusivo pode perdurar por muito tempo, mesmo quando acabar a pandemia”, alerta a psiquiatra Danielle Admoni.

Entenda o que você pode e o que não pode controlar
Durante a pandemia, as pessoas sentiram que perderam o controle sobre suas vidas. “Neste momento de incertezas, tente basear suas escolhas em fontes confiáveis de informações e diretrizes, como instituições acadêmicas ou governamentais. Há decisões que não precisam ser tomadas com sofrimento, como voltar a trabalhar na empresa ou continuar em home office”, diz a psicóloga Flávia Teixeira.

“No entanto, às vezes é necessário simplesmente reconhecer que há situações na vida que não podemos controlar. Se você está com dificuldade em aceitar esta realidade, há formas de lidar com suas preocupações. Escreva em um caderno o que vem à mente, como se fosse um diário. Isso torna seu pensamento mais lento, focado e eficiente, trazendo novas perspectivas e maior clareza para assimilar determinadas questões”, sugere a educadora parental Stella Azulay.

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Pandemia aumenta busca por atendimento de saúde mental para crianças e adolescentes no dr.consulta https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/pandemia-aumenta-busca-por-atendimento-de-saude-mental-para-criancas-e-adolescentes-no-dr-consulta/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/pandemia-aumenta-busca-por-atendimento-de-saude-mental-para-criancas-e-adolescentes-no-dr-consulta/#respond Sun, 26 Sep 2021 10:00:18 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/mexico-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1096 Um levantamento do banco de dados de pacientes cadastrados no dr.consulta mostra que, entre janeiro e julho deste ano, houve um aumento de 78% nas consultas de psicologia da faixa etária dos 10 aos 19 anos em comparação ao mesmo período de 2020. O crescimento nos atendimentos de psiquiatria foi de 9%.

Para Lisies Jacintho, psicóloga da rede de centros médicos, o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 afetou a saúde mental dos mais jovens.

“Eles sentiram um aumento muito grande na dor emocional, principalmente por terem vivido meses de ensino remoto e falta de convivência com os demais. Acabaram se isolando, entraram em estado de pânico e não souberam como lidar com os sentimentos. Nessa faixa etária, dificilmente eles contam aos pais o que acontece. Aí entra a importância do profissional para tratar o estado mental, que está muito abalado”, explica Jacintho.

No período, a psicóloga observou que em 50% das consultas, os pacientes entre 10 e 19 anos relataram que estavam aflitos e se sentindo tristes.

Jacintho diz que, para essa faixa etária, a consulta precisa ser sempre presencial. Isso é importante para que eles possam desabafar, olhar nos olhos e até mesmo treinar esse retorno para a vida presencial.

A psicóloga conta que por ser uma geração muito ativa nas redes sociais, os jovens acabam pesquisando e vendo a importância de tratar a saúde mental. Geralmente, a atitude de procurar ajuda profissional parte deles, e não dos pais.

“Muitas vezes, eles aceitam melhor do que os pais essa busca pelo tratamento da saúde mental. Após a primeira consulta, já é possível notá-los aliviados. Eles têm a sensação de que estão sozinhos no mundo e é importante conversar com um profissional que os compreende”, observa.

Danilo Carvalho Borges, psiquiatra do dr.consulta, diz que uma forma de os pais detectarem se há alguma mudança de comportamento nos filhos que pode indicar depressão ou ansiedade é ficar de olho se eles perderam o interesse por algo que gostavam de fazer anteriormente ou se o rendimento escolar caiu.

“Normalmente, a criança tem alguma mudança de postura, seja comportamental ou acadêmica, tendendo a não se interessar por atividades em grupo e se isolar. Isso pode acontecer pelos mais variados motivos, como bullying ou excesso de cobrança dos pais ou responsáveis”, afirma.

“A criança tende a ficar mais raivosa e faz gesticulações verbais ou físicas de agressividade, denotando que algo não está normal. Cabe aos pais não fazer julgamento, e sim propor caminhos para que ela se abra e diga abertamente o que está acontecendo, sem exercer pressão psicológica. Tudo tem que ser muito cauteloso”, ressalta Borges.

O psiquiatra destaca que é preciso ficar atento aos seguintes sinais: isolamento voluntário, agressividade verbal, automutilação, verbalização de que as coisas não estão boas, desejo de suicídio e descontentamento anormal com o seu cotidiano.

Iniciar uma conversa sobre saúde mental com um jovem nem sempre é fácil, mas há meios de dar o primeiro passo. “Crianças e adolescentes podem achar que isso é uma invasão de privacidade, então o intuito da abordagem não deve ser constranger, e sim ajudar, e que isso fique bem claro, que nada do que vai ser dito se tornará público”, diz Borges.

“O fundamental é que as crianças vejam os pais como amigos, não como fiscais de comportamento, porque de sofrimento eles já são bem escolados”, aponta o psiquiatra.

“Um sinal de alerta é o medo desmesurado de algo ou de uma pessoa, que no passado lhes foi caro e hoje é visto como algoz. Nunca se deve tomar a queixa à ligeira, como uma ‘coisa de criança’. Se ela altera seu comportamento, normalmente não é gratuito, e cabe aos pais investigarem a causa de tal alteração. E, se necessário, encaminhá-la ao psicólogo infantil ou ao psiquiatra infantil, para que possam ser esclarecidas as dúvidas e possa ser dado um bom encaminhamento ao caso”, afirma.

Os professores também podem ajudar a observar se os alunos estão enfrentando algum problema emocional. “Os sinais são sutis, como arrefecimento do contato, isolamento, postura passiva/agressiva, desinteresse em atividades que lhes causavam prazer e a falta de motivação”, diz o psiquiatra.

Uma pesquisa nacional do instituto Datafolha, em parceria com a Fundação Lemann, o Itaú Social e a Imaginable Futures, vem acompanhando crianças e jovens do ensino público ao longo da isolamento e revela seus impactos.

O Datafolha realizou, entre 7 e 15 de julho, 1.056 entrevistas, por telefone, com responsáveis por 1.556 estudantes de 6 a 18 anos de escolas municipais e estaduais do país, com uma amostra baseada no Censo de Educação 2019. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, e os resultados têm confiabilidade de 95%.

A falta de motivação, que em maio atingia 46%, chegou a 51% em julho. Os que enfrentam dificuldades para manter a rotina saltaram de 58% para 67%. O percentual dos que estão tristes começou a ser medido em junho, quando chegou a 36%, e passou para 41% em julho. No mesmo período, o de irritados foi de 45% para 48%. Somam 74% os que se sentem tristes, ansiosos ou irritados.

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Neurocientista José Fernandes Vilas escreve sobre a incidência de burnout após um ano de pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/04/08/neurocientista-jose-fernandes-vilas-escreve-sobre-a-incidencia-de-burnout-apos-um-ano-de-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/04/08/neurocientista-jose-fernandes-vilas-escreve-sobre-a-incidencia-de-burnout-apos-um-ano-de-pandemia/#respond Thu, 08 Apr 2021 10:00:11 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/fernandes3-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=781 Há mais de um ano, em 11 de março de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decidiu classificar a disseminação do coronavírus Sars-CoV-2 como uma pandemia.

Para evitar o contágio da doença que já provocou a morte de mais de 340 mil brasileiros, governantes decidiram adotar medidas restritivas que provocam o isolamento social. Muitas empresas implementaram o sistema de home office e escolas fecharam para aulas presenciais.

Uma pesquisa global liderada pela Universidade Estadual de Ohio (EUA) apontou, em fevereiro, que o Brasil ocupa a liderança no ranking dos índices de ansiedade e depressão durante a pandemia quando é comparado a outras dez nações. No total, 13 mil pessoas foram entrevistadas, 1.500 no país. Aqui, 63% estavam ansiosos e 59%, depressivos.

José Fernandes Vilas, médico, neurocientista e autor do livro “Quando o Sucesso Vira Burnout”, diz que o esgotamento profissional é outra doença que tem crescido durante a pandemia.

No artigo abaixo, ele escreve sobre os fatores que podem provocar o burnout, além de contar sua experiência como profissional da saúde em meio à crise do coronavírus.

Olhar de médico

Após um ano de pandemia, como profissional da saúde, um médico especializado em saúde mental, observo os desdobramentos da pandemia em caos de proporções inenarráveis.

Como exemplo, a última pesquisa da Caixa Econômica Federal do Rio de Janeiro citou que 98% dos profissionais atuantes nessa instituição desenvolveram a síndrome de burnout. A maioria deles relatou que a pandemia foi a grande causadora desse estresse.

Quase 70% dos gestores da instituição relatam esgotamento. Também relatam que a causa do burnout que experimentam é a pandemia. Esse é um estudo recente, feito em março deste ano, divulgado pela própria Caixa. Inclusive, havia 100 mil profissionais atuando na instituição, e hoje esse número é de 80 mil. O estado decidiu abrir espaço para contratação de 20 mil profissionais terceirizados a fim de colaborarem com o funcionamento diário da instituição.

Entre os profissionais da saúde, por sua vez, os números são estarrecedores. Cada artigo que lemos, cada pesquisa que conhecemos, cada situação que vivenciamos é de nos colocar à beira de um colapso emocional.

As pessoas antes acordavam pela manhã, tomavam seu banho, tomavam seu café da manhã e se preparavam para ir ao trabalho. Tinham um deslocamento, o tempo no trânsito, se dedicavam às suas atividades, interagiam com as pessoas, os profissionais que atuavam nessa instituição, e depois tinham seu intervalo, hora do almoço, e depois faziam seu deslocamento para casa.

Em uma pesquisa feita com 8.000 profissionais da Microsoft, o Brasil ficou em primeiro lugar no quesito esgotamento profissional: 44% dos profissionais brasileiros atuando no front, em home office, desenvolveram burnout, colocando o país na frente dos Estados Unidos nessa pesquisa. E uma das coisas que esses profissionais relataram é que um dos aspectos que mais os abalaram é a questão do deslocamento para o trabalho, que era percebido por eles como um fator de proteção.

Outra coisa que demonstrou ser um fator angustiante para eles: não ter um horário para terminar o trabalho. Outra coisa foi não haver mais a compartimentação de trabalho, educação dos filhos, casamento, trabalho domiciliar, tarefas cotidianas em casa e situações assim. Tudo isso se misturou e as pessoas passaram a misturar várias funções em um mesmo local.

Além do desespero de acordar todos os dias e o número de mortes ser crescente. No dia em que escrevo este artigo, recebo a informação de que o Brasil ultrapassou o número de 4.000 mortos por dia.

Como profissional da saúde, observo um sistema entrar em colapso, a população entrar numa situação completamente angustiante, e isso fatalmente afeta o equilíbrio emocional, a saúde dos profissionais da saúde tanto quanto da população.

Uma coisa é acompanhar noticiários, outra coisa são os profissionais da saúde, médicos, enfermeiras, todos num desdobramento diário para conter avanços de uma doença que por si só já é um desafio. É certo que o esgotamento provocado pela síndrome de burnout encontra espaço num contexto assim.

O médico é aquele profissional que costuma perguntar “onde dói?” e iniciar um processo de restabelecimento. Talvez seja um bom momento social para o Brasil se perguntar “onde dói?” na forma como lida com seus profissionais de saúde, e assim pode descobrir que além de qualquer agenda política e econômica está a vida humana. Preservá-la é responsabilidade individual e também é papel do profissional da saúde. Tratar o esgotamento desse profissional com superficialidade é contribuir para a proliferação de outro tipo de vírus: o “vírus do caos”, que coloca vulnerável aquele que está engajado em cuidar dos outros.

Também chegou aquele dia em que eu mesmo estava com os sintomas. Era minha vez: testei positivo para o Covid-19. Agora eu ia experimentar o que significava passar, na pele, o “vale da Covid-19”. Vi por mim mesmo o que o transtorno da doença causou em mim, o que me fez enxergar o mundo de outra maneira.

Todo o estado de angústia, dor, desconforto, receio, tudo é acentuado quando a pessoa é acometida pela doença. É o momento em que ela mais precisa de incentivo, calma, equilíbrio, para manter sob controle o sistema imunológico –e é nesse ponto que a saúde mental e emocional fazem toda a diferença, inclusive para não sobrecarregar o sistema imunológico e dificultar a estabilidade do paciente.

Passar por essa experiência me fez humanizar ainda mais o tratamento com aqueles que estão vulneráveis a ela. É preciso, concluo, uma ação conjunta para que esforços não sejam em vão: é preciso assegurar que níveis psíquicos saudáveis sejam cultivados, contribuindo essencialmente para a recuperação do acometido por Covid-19.

Unir sociedade e esforços governamentais em torno de estabelecer o máximo de soluções é o que constrói as ferramentas de combate à “pandemia do caos”. Para isso já existe vacina: ética, compromisso, responsabilidade. E sem contraindicação.

 

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Pesquisa mostra diferenças entre buscas online sobre saúde mental feitas no Brasil e em Portugal https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/pesquisa-mostra-diferencas-entre-buscas-online-sobre-saude-mental-feitas-no-brasil-e-em-portugal/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/18/pesquisa-mostra-diferencas-entre-buscas-online-sobre-saude-mental-feitas-no-brasil-e-em-portugal/#respond Thu, 18 Feb 2021 19:00:44 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/f806d4133febbe0a76234fc29fc1ecfd70de43c0348a51445530efb676b71011_5eed60b500450-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=649 Um estudo divulgado nesta quinta-feira (18), elaborado pela subdivisão Health+Life da agência SA365, revela aumento nas pesquisas relacionadas à saúde mental em redes sociais e mecanismos de busca no Brasil e em Portugal durante o ano passado, quando começou a pandemia da Covid-19.

No Brasil, as pesquisas sobre ansiedade saltaram de 246 mil pontos, em novembro de 2019, para 370 mil pontos, na escala Google, entre os meses de abril a julho de 2020. Esse fenômeno foi acompanhado por uma diminuição na procura por termos ligados à depressão no mesmo período, com queda de 370 mil para 280 mil.

A metodologia utilizada do estudo se baseia na netnografia, que pode ser compreendida como um modelo de pesquisa etnográfica com enfoque maior nas comunidades digitais. Para isso, foram utilizados dados de popularidade do Google Trends, postagens no Twitter e monitoramento de grupos no Facebook e de comunidades no Instagram.

O objetivo do levantamento foi entender a popularidade e os discursos em relação às doenças mentais tanto no Brasil como em Portugal.

A indicação de que pessoas possam estar mais ansiosas, mas, ao mesmo tempo, sendo menos diagnosticadas com depressão chamou a atenção dos pesquisadores, já que uma das possíveis explicações pode estar no receio das pessoas em relação à Covid-19, que deixariam de procurar ajuda médica da forma adequada devido à pandemia.

“Vemos com ceticismo essa queda nas buscas sobre depressão, especialmente porque outros indicadores apresentaram aumento no mesmo período”, afirma Renata Assumpção, gerente da divisão Health+Life.

Também houve uma retração na romantização destes problemas de saúde (textos com apelo emocional e relatando casos pessoais), com um interesse maior por parte dos usuários em aspectos mais concretos como sintomas, diagnósticos e causas.

Manifestações físicas como falta de ar e pressão alta, comumente relacionadas à Covid-19, também apareceram associadas a outras buscas sobre doenças mentais.

Os dados do estudo mostram a importância do universo digital como rede de apoio neste momento. “Entendemos como relevante a atuação da indústria e de influenciadores para facilitar o diagnóstico e encaminhar as pessoas para o cuidado de um médico”, diz Renata.

A popularidade do debate sobre ansiedade vinha apresentando um crescimento orgânico desde 2015, sem variações bruscas. Um cenário semelhante também foi observado nas pesquisas relacionadas à depressão até 2019, já que antes da pandemia esta era a doença mais citada pelos usuários de redes sociais e mecanismos de busca nos dois países.

Essa predominância podia ser muita vezes explicada por fatores como o Setembro Amarelo (campanha de prevenção do suicídio) ou ainda devido a relatos de influenciadores como o humorista Whinderson Nunes, que falou abertamente sobre sofrer de depressão, declaração que foi amplamente divulgada pela imprensa.

No período pré-pandemia, também era notável uma romantização do debate sobre saúde mental. Textos que ganhavam repercussão maior nas principais plataformas sociais como Instagram e Facebook possuíam um forte apelo emocional, com poucas informações sobre sintomas e tratamento. Além disso, havia uma profusão de comentários condenatórios ao suicídio, tratando a questão como desvio de caráter ou “falta de Deus”.

Já durante a pandemia, os debates passaram a ser menos atrelados a postagens sobre depressão e mais associados a comentários sobre casos concretos. No entanto, foi registrada uma diferença entre os públicos brasileiro e português: a repercussão midiática no país europeu direcionou a atenção para o debate de saúde pública, com enfoque maior nos sintomas. Isso diferiu do que se observou no Brasil, onde a cobertura da imprensa se concentrou mais nas histórias e relatos das celebridades em questão.

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Estudos utilizam matemática para desvendar significado dos sonhos durante a pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/12/estudos-utilizam-matematica-para-desvendar-significado-dos-sonhos-durante-a-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/12/estudos-utilizam-matematica-para-desvendar-significado-dos-sonhos-durante-a-pandemia/#respond Fri, 12 Feb 2021 10:00:40 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/sonhos2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=640 Luciana Constantino | Agência Fapesp – A pandemia da Covid-19 tem causado impacto no comportamento do brasileiro. Sentimentos como medo, apreensão, tristeza e ansiedade são parte do cotidiano de muitas famílias desde que os primeiros casos da doença começaram a ser registrados oficialmente no país, em fevereiro do ano passado.

Toda essa preocupação tem se refletido nos sonhos, que exprimem uma carga maior de sofrimento mental, temor de contaminação e até mesmo repercussões do isolamento social e da falta de contato físico com outras pessoas. Além disso, os sonhos neste período apresentaram maior proporção de termos ligados a “limpeza” e “contaminação” e de palavras relacionadas a “raiva” e “tristeza”.

A neurocientista Natália Bezerra Mota, pós-doutoranda no Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), lidera uma pesquisa que busca medir o impacto da pandemia por meio de estudo dos sonhos. O trabalho foi publicado na revista PLOS ONE, em 30 de novembro de 2020.

O estudo faz parte do projeto de pós-doutorado de Mota, supervisionado pelos pesquisadores Sidarta Ribeiro (UFRN) e Mauro Copelli, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), que integram o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (NeuroMat), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), com sede na USP (Universidade de São Paulo).

Os resultados são consistentes com a hipótese de que os sonhos refletem os desafios de vigília apresentados pela pandemia da Covid-19 e que emoções negativas como raiva e tristeza são mais proeminentes durante o período pandêmico, refletindo uma maior carga emocional a ser processada, afirma o estudo.

Em entrevista à Agência Fapesp, Mota explica que estas conclusões foram corroboradas por outros artigos publicados posteriormente nos Estados Unidos, Alemanha e Finlândia.

A pesquisa brasileira já havia sido divulgada no fim de maio na plataforma medRxiv, em versão preprint, sem a revisão por pares. “Foi o primeiro estudo sobre o tema a ver empiricamente esses sinais de sofrimento mental e a associação deles com as peculiaridades dos sonhos na pandemia”, completa a neurocientista.

Sidarta Ribeiro destaca que a pesquisa conseguiu documentar a continuidade entre o que o acontece no mundo onírico e na vida mental das pessoas (o sofrimento psíquico). “Isso é interessante do ponto de vista da teoria sobre sonhos. Outro destaque importante do estudo é ter feito isso de maneira quantitativa, usando mecanismos matemáticos para tentar extrair semântica”, afirma o pesquisador.

No trabalho, o grupo usou ferramentas de processamento de linguagem natural para estudar 239 relatos de sonhos de 67 indivíduos, feitos antes dos casos de contaminação pelo Sars-CoV-2 e durante os meses de março e abril, logo após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado a pandemia de Covid-19.

Segundo Mota, um estudo multicêntrico, envolvendo USP, UFRN e as universidades federais de Minas Gerais (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Rio de Janeiro (UFRJ), está analisando agora dados coletados por um período maior da pandemia, até julho. O objetivo é avaliar se há impacto nos sonhos dos voluntários provocado por mortes de familiares e pessoas próximas. “A intenção é divulgar rapidamente os resultados, assim que estiverem prontos, para que, a partir desse conhecimento, sejam traçadas estratégias de saúde mental.”

Metodologia
O grupo de pesquisadores brasileiros vinha desenvolvendo e adotando aplicativos e softwares que permitem, por meio da análise do discurso, diagnosticar doenças psiquiátricas, como a esquizofrenia. Essas ferramentas foram adaptadas para fazer avaliações cognitivas.

Os relatos dos sonhos dos voluntários foram colhidos em áudio por meio de um aplicativo para smartphone. Depois, os pesquisadores utilizaram três ferramentas de computador. A primeira é focada na estrutura do discurso, para comparar a complexidade e conexão da trajetória de palavras usadas na narrativa.

As outras duas se concentram no conteúdo. Uma mede a proporção de palavras inseridas em determinadas classes, como conteúdo sentimental, e as compara a uma lista predefinida para analisar a associação com emoções positivas e negativas. A outra mede a semelhança dos relatos a temas específicos por meio da construção de mapas de similaridade semântica, permitindo avaliar o quanto as palavras estão próximas de termos como “contaminação”, “limpeza”, “doença”, “saúde”, “morte” e “vida”.

“A semelhança significativa com ‘limpeza’ em relatos de sonhos aponta para novas estratégias sociais (por exemplo, uso de máscaras, evitar o contato físico) e novas práticas de higiene (como o uso de desinfetante para as mãos e outros produtos de limpeza) que se tornaram centrais para novas regras sociais e comportamento. Tomados em conjunto, esses achados parecem mostrar que os conteúdos dos sonhos refletem as diferentes fontes de medo e frustração decorrentes do cenário atual”, escrevem os pesquisadores no artigo publicado na PLOS ONE.

Mota destaca que, apesar de ter sido detectado de forma colateral, chama a atenção o maior sofrimento expresso nos sonhos da população feminina. “Há na literatura estudos sobre a diferença de gênero. O público feminino relata maior conteúdo negativo e mais pesadelos. Acho que está ligado à situação histórica do cotidiano das mulheres, em que elas exercem duas, três jornadas, com uma carga mental maior, preocupação com trabalho, casa, filhos. Isso se agravou na pandemia”, avalia a neurocientista.

O estudo, em inglês, Dreaming during the Covid-19 pandemic: Computational assessment of dream reports reveals mental suffering related to fear of contagion está disponível aqui.

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Campanha Janeiro Branco ressalta a importância dos cuidados com a saúde mental em meio à pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/06/campanha-janeiro-branco-ressalta-a-importancia-dos-cuidados-com-a-saude-mental-em-meio-a-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/06/campanha-janeiro-branco-ressalta-a-importancia-dos-cuidados-com-a-saude-mental-em-meio-a-pandemia/#respond Wed, 06 Jan 2021 10:00:28 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/f806d4133febbe0a76234fc29fc1ecfd70de43c0348a51445530efb676b71011_5eed60b500450-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=546 Com os impactos que a pandemia da Covid-19 tem provocado na saúde mental, como o aumento de sintomas depressivos e de ansiedade, a campanha Janeiro Branco deste ano traz a mensagem de que todo cuidado conta.

Criado em 2014 pelo psicólogo Leonardo Abrahão, o movimento tem como objetivo chamar a atenção da população para a importância dos cuidados com a saúde emocional.

Apesar de o debate sobre o tema ter ganhado mais espaço nos últimos meses devido aos desafios impostos pelas condições do isolamento social, Leonardo diz que ainda estamos longe de superar os estigmas em relação aos transtornos psicológicos.

“No entanto, em 2020, não houve quem não tenha sofrido com tudo o que aconteceu no mundo. Isso, com certeza, atrairá a nossa atenção para o que deve ser melhor conduzido em nossas vidas particulares e coletivas, inclusive em relação à saúde mental”, ressalta o psicólogo.

“Toda vez que a dor chega à humanidade, a humanidade se coloca a pensar sobre si mesma, sobre suas condições de existência, suas escolhas, seus acertos e seus erros em relação aos mais variados assuntos. Isso, obviamente, contribui para o lançamento de luzes sobre questões normalmente desprezadas ou encobertas por tabus”, observa.

Para respeitar as regras de distanciamento, nesta edição do Janeiro Branco não haverá palestras e rodas de conversa em lugares públicos, como nos anos anteriores. Os eventos serão feitos por lives e postagens nas redes sociais e no site da campanha.

Leia abaixo a entrevista com o psicólogo.

Com a pandemia, o ano de 2020 foi o que mais se falou em saúde mental. Você acha que esse debate ajudou as pessoas a se educarem sobre tema e a diminuir o estigma em relação aos transtornos mentais? 
Ainda não. Os estigmas ainda existem e existirão por um bom tempo. Infelizmente, a falta de uma cultura da saúde mental no mundo ainda deixará espaço para muitos preconceitos continuarem persistindo em meio aos relacionamentos humanos. É também contra isso que a campanha Janeiro Branco luta.

Porém, pelo fato de os desafios que a humanidade enfrentou no ano passado terem produzido intensas consequências prejudiciais à saúde mental de um número incalculável de pessoas, as dores que essas pessoas sentiram também as levarão a pensar sobre a importância da saúde mental em suas vidas.

Toda vez que a dor chega à humanidade, a humanidade se coloca a pensar sobre si mesma, sobre suas condições de existência, suas escolhas, seus acertos e seus erros em relação aos mais variados assuntos. Isso, obviamente, contribui para o lançamento de luzes sobre questões normalmente desprezadas ou encobertas por tabus.

Em 2020, a humanidade foi obrigada a pensar, de forma bastante ampliada, sobre questões direta e indiretamente ligadas à saúde mental dos indivíduos, como, por exemplo, educação infantil longe das escolas, lares transformados em ambiente de trabalho, vida sexual em tempos de isolamento social, distanciamento dos idosos, risco de desemprego, lutos inesperados, inconsequências políticas e falta de recursos financeiros para a sustentação da vida material.

Tudo isso diz respeito às múltiplas dimensões em que a saúde mental dos indivíduos opera. Os antigos estigmas relacionados à saúde mental dos seres humanos ainda persistirão por um bom tempo. Ainda vamos precisar de muitos janeiros brancos para melhorias nesse campo.

No entanto, em 2020, não houve quem não tenha sofrido com tudo o que aconteceu no mundo. Isso, com certeza, atrairá a nossa atenção para o que deve ser melhor conduzido em nossas vidas particulares e coletivas, inclusive em relação à saúde mental.

O debate sobre a importância de cuidar da saúde mental já chegou às empresas em relação aos seus funcionários? 
Não, ainda é um desafio e necessitaremos de muitos janeiros brancos para que uma verdadeira cultura da saúde mental permeie todas as relações humanas. Ainda estamos no início do processo de conscientização das pessoas e das instituições a respeito de tudo o que se relaciona às condições psicológicas e subjetivas dos indivíduos.

Além disso, as lógicas e as ideologias dos nossos sistemas sociais, culturais, produtivos e econômicos ainda são bastante compromissadas com imperativos materialistas, financistas, competitivos, particulares e individualistas indiferentes à saúde mental da maioria das pessoas em nossa sociedade, que é profundamente ignorante em relação às condições psicodinâmicas dos seres humanos.

O nosso analfabetismo emocional e o nosso desprezo à psicoeducação ainda cobra um preço muito alto da humanidade e até mesmo das empresas que não olham para as realidades subjetivas dos indivíduos que as compõem, que as operam e as sustentam.

O Ministério da Saúde anunciou que deve revogar uma série de portarias que estruturam a política de saúde mental no país. Entre as propostas, está o fim do programa de Volta para Casa, que promove a reinserção social de pacientes com transtornos mentais, e mudanças no atendimento dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial), como a extinção daqueles voltados exclusivamente a usuários de drogas e álcool. De que forma essas medidas podem prejudicar a área de saúde mental no atendimento público?   
Caso venham a ser adotadas, essas medidas estarão na contramão de tudo o que diz respeito ao processo humanizatório e ao perfil democrático, social e progressista com que a política nacional de saúde mental vem sendo construída desde o início do período de redemocratização do nosso país e da eclosão das lutas antimanicomiais que a consubstanciaram.

A arbitrária substituição de uma visão holística, integrativa, humanista, multiprofissional e interdisciplinar de serviços psicossociais por uma visão medicalizante, privatista, individualista, psiquiatralizante e hospitalocêntrica agredirá valorosos princípios epistemológicos, metodológicos e estruturantes do SUS (Sistema Único de Saúde), assim como acabará resultando em sérios retrocessos a modelos excludentes e questionáveis de atendimento em saúde mental que a reforma psiquiátrica brasileira há muito tempo superou.

A educação sobre saúde mental e a diminuição do estigma em relação aos transtornos podem ser alguns dos resultados positivos que poderemos tirar desse período de pandemia? 
Esses resultados positivos desabrocharão no futuro. Os desafios que a humanidade viu-se obrigada a olhar com mais atenção em 2020 apenas começaram a mostrar a extensão, a seriedade e a profundidade das múltiplas ignorâncias e das inconsequências que ela possuía em relação a si mesma –como, por exemplo, o fato de não conseguir parar atividades econômicas mesmo em nome da proteção da vida de milhares de pessoas.

O que a humanidade já possui acumulado em termos econômicos seria suficiente para proteger todas as pessoas do mundo obrigadas ao isolamento social. O que falta é vontade política por parte de poderosos grupos de indivíduos obsessivamente insaciáveis e uma cultura da saúde mental capaz de proteger o mundo das sombras e do desequilíbrio egocentrado desses mesmos indivíduos.

No futuro, 2020 será chamado de ano-lupa, ano-luneta ou ano-microscópio: ele escancarou e revelou novas e velhas verdades absurdamente negadas por um número absurdo de pessoas cientes de que são pertencentes a uma espécie caracterizada por racionalidade, consciência e senciência, que é a espécie Homo sapiens.

Como a pandemia tem impactado a saúde mental da população? 
Muito do impacto da pandemia na saúde mental é absolutamente compreensível, normal e esperado. É normal sentir medo, ansiedade, alteração no apetite, tendência ao autoisolamento, humor deprimido, insônia eventual perante situações de estresse, angústia ou incertezas.

Há quem tenha começado a sentir dores inéditas no corpo, há que tenha percebido aumento na própria agressividade em relação a pessoas próximas. Também há pessoas que não conseguem mais enxergar sentido no casamento, no trabalho ou na religião que seguem. Essas são possibilidades absolutamente razoáveis e pertinentes em tempos como os que estamos vivendo.

O problema é quando as reações, por mais naturais e previsíveis que possam ser, começam a gerar sofrimentos intermináveis, perigo aos indivíduos e desfuncionalidades pessoais ou sociais. Nesses casos, a procura de ajuda profissional é altamente recomendada.

Quando sairmos dessa pandemia, quais sintomas devem ser os mais sentidos?
Seres humanos são infinitos particulares e universos irrepetíveis. Porém, a experiência nos mostra que a pandemia têm relação a muitas circunstâncias ligadas à origem de transtornos mentais como, por exemplo, transtorno do estresse pós-traumático, fobia social ou transtornos obsessivos compulsivos (TOC).

Em paralelo à pandemia da Covid-19 já é possível perceber a ocorrência de uma verdadeira pandemia em relação à saúde mental. Estudos já apontam aumento nos casos de depressão, de transtornos de ansiedade, de uso abusivo de substâncias psicoativas, de abuso infantil, de violência doméstica e de suicídios. Mais do que nunca, a mensagem da campanha Janeiro Branco é útil, necessária e pertinente.

Como se preparar emocionalmente para este ano que ainda deve exigir restrições como distanciamento social? 
Em palestras, entrevistas e reuniões virtuais tenho defendido a tese de que as pessoas precisam abraçar o pacto pela saúde mental que o Janeiro Branco está propondo. Isso dará a elas a chance de contribuírem para uma causa coletiva e universal, proporcionando-lhes sentimentos de responsabilidade social, utilidade pública, propósito, autocuidado e pertencimento.

As pessoas devem entender que nós, seres humanos, somos seres da comunicação orientados por sentidos que damos às nossas próprias vidas. Como dizia Nietzsche e Viktor Frank, quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.

Mais do que nunca, é preciso que as pessoas invistam em autoconhecimento, autonomia e autoestima, tornando-se, metaforicamente falando, árvores com raízes mais fortes e capazes de resistir às inevitáveis intempéries do tempo.

Também é importante que as pessoas recorram a técnicas amplamente validadas quando o assunto é prevenção em saúde mental, como ioga, meditação, mindfulness, exercícios físicos regulares, sono regular, alimentação saudável, hábitos culturais que estimulem a criatividade e a cognição, vida sexual sincera e saudável, vínculos sociais reais e profundos, bom senso nas relações sociais e práticas espirituais harmônicas e equilibradas.

Por fim, é necessário que sejamos um país mais justo, mais igualitário e mais garantidor dos direitos sociais e dos direitos humanos. Não há campo fértil para a saúde mental onde reinam misérias sociais, violências (concretas ou simbólicas) nas relações interpessoais e más intenções políticas nos processos individuais e coletivos.

JANEIRO BRANCO
Acompanhe os eventos no Instagram (@janeirobranco), no Facebook, no YouTube e no site da campanha.

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CVV destaca a importância da escuta acolhedora neste Natal https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/cvv-destaca-a-importancia-da-escuta-acolhedora-neste-natal/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/22/cvv-destaca-a-importancia-da-escuta-acolhedora-neste-natal/#respond Tue, 22 Dec 2020 10:00:37 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/arve-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=522 O Natal será mais triste para todos em 2020. A pandemia da Covid-19 já deixou mais de 187 mil mortos no país até esta terça-feira (22).

De uma forma ou de outra, todas as famílias foram impactadas pela doença neste ano. Há aquelas que estão em luto, outras que estão passando por dificuldades financeiras.

Para piorar, o isolamento social não permite que as pessoas se reúnam e se abracem como costumam fazer nas festas de fim de ano.

“Ninguém pode carregar esse fardo sozinho”, diz o engenheiro Carlos Correia, 67, porta-voz e voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida) há 28 anos.

Para ele, a única forma de minimizar o sofrimento nesse cenário é falar sobre os seus sentimentos.

“Não deixe de estar presente, mesmo que virtualmente. Se você está bem, mas conhece alguém que não está, ligue para essa pessoa, mande uma mensagem. Mostre que ela não está sozinha.”

Estar disposto a ouvir o próximo de maneira acolhedora é a mensagem que o CVV destaca neste Natal.

“Uma conversa sem julgamentos pode dar início a uma reflexão sobre como temos agido e o que podemos fazer daqui para frente, apesar de todas as dificuldades”, observa.

Para Carlos, o segredo da escuta acolhedora  é que ela se desarma e abaixa a tensão no diálogo. “Muitas pessoas que ligam para a gente estão fragilizadas, sem conseguir pensar direito. Ao fazer um desabafo, elas começam a enxergar soluções que não viam antes. Isso pode ser o primeiro passo para procurar uma ajuda profissional, com um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo.”

Mesmo antes do surgimento da pandemia, sintomas de depressão e a solidão no período de Natal costumam fazer a procura pelo CVV aumentar 20% em dezembro.

Atualmente, a entidade conta com 4.200 voluntários em todo o país. São feitos cerca de 10 mil atendimentos telefônicos diariamente –esse número, segundo Carlos, não aumentou durante a quarentena, embora estudos apontem aumento de sintomas de ansiedade e de depressão no período.

Na falta de ter alguém com quem conversar, ou se a pessoa não se sente à vontade para falar sobre seus problemas com um amigo ou um familiar, os voluntários do CVV estão disponíveis 24 horas pelo telefone 188. A ligação é gratuita.

A conversa também pode acontecer por email ou chat em diferentes horários (veja os contatos abaixo). Os atendimentos presenciais estão temporariamente suspensos devido à pandemia.

O QUE É O CVV

O CVV (Centro de Valorização da Vida) foi fundado em São Paulo, em 1962. É uma associação civil sem fins lucrativos e reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973.

O centro presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

COMO ENTRAR EM CONTATO COM O CVV

Por telefone
Ligue para 188 a qualquer momento. O atendimento é 24 horas, gratuito e garante anonimato e sigilo absoluto

Por email
Acesse cvv.org.br/e-mail, preencha os campos com seu nome, email e mensagem, e um voluntário responderá assim que possível

Por chat
Para iniciar a conversa, acesse cvv.org.br/chat e clique no link indicado. O atendimento acontece de segunda a quinta, das 9h à 1h, às sextas, das 15h às 23h, aos sábados, das 16h à 1h, e aos domingos, das 17h à 1h

Atendimento pessoal
O atendimento pessoal está temporariamente suspenso devido à pandemia da novo coronavírus. No entanto, quando for seguro, você pode conversar pessoalmente com um voluntário do CVV nos postos de atendimento. Acesse cvv.org.br/postos-de-atendimento e procure o endereço mais próximo. Também é possível enviar uma carta, que será respondida por um voluntário

 

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Pesquisa da Unicamp, Fiocruz e UFMG mostra que adolescentes têm piora no sono, no humor e no aprendizado durante a pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/16/pesquisa-da-unicamp-fiocruz-e-ufmg-mostra-que-adolescentes-tem-piora-no-sono-no-humor-e-no-aprendizado-durante-a-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/12/16/pesquisa-da-unicamp-fiocruz-e-ufmg-mostra-que-adolescentes-tem-piora-no-sono-no-humor-e-no-aprendizado-durante-a-pandemia/#respond Wed, 16 Dec 2020 16:36:52 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/adoles-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=507 Uma pesquisa divulgada nesta semana e desenvolvida em parceria pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) revela que os adolescentes enfrentam piora no sono, na alimentação, no humor e no aprendizado durante a pandemia da Covid-19.

A Convid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos foi realizada com 9.470 adolescentes, de 12 a 17 anos, de todo o país. O levantamento foi feito entre 27 de junho e 17 de setembro por meio de questionário preenchido pelo adolescente por celular ou computador, após autorização do responsável.

De acordo com os resultados publicados no site da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, o percentual de adolescentes que tiveram diagnóstico de Covid foi de 3,9%. Na comparação por sexo, o percentual para o sexo masculino foi de 4,3% e, para o feminino, de 3,6%.  Na comparação por faixa etária, foi de 4,9% entre os de 16 a 17 anos e de 3,5% entre os de 12 a 15 anos.  Diferenças por região também foram encontradas. O percentual de diagnóstico da doença variou de 2,1% na região sul do país a 6,1% na região norte.

Sobre o isolamento social, a maioria (71,5%) aderiu às medidas de restrição social, com 25,9% em restrição total e 45,6% em restrição intensa, saindo apenas para supermercados, farmácias ou casa de familiares.

Considerando a restrição intensa e a total restrição de contatos com outras pessoas, a maior proporção ocorreu no sul do país (74,1%), enquanto o menor percentual (66,1%) ocorreu no norte.  Diferenças foram encontradas por faixa etária. Enquanto os mais novos aderiram em maior proporção à restrição social total (27%), os mais velhos mostraram maior proporção de adesão à restrição social intensa (50,7%).

Considerando o estado de saúde geral, 30% achou que a sua saúde piorou durante a pandemia. Diferenças foram encontradas por sexo e faixa etária, com as meninas relatando maior proporção de piora do estado de saúde (33,8%) do que os meninos (25,8%), e os adolescentes mais velhos (37%) mais do que os mais novos (26,4%).

Em relação à qualidade do sono, o percentual de adolescentes que relataram piora durante a pandemia foi de 36%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas com o sono na quarentena e 12,1% relataram que já enfrentavam problemas anteriormente, que pioraram. A qualidade do sono foi mais afetada entre as meninas e nos adolescentes com 16 a 17 anos, em relação aos mais novos.

A sensação de estar isolado dos amigos foi observada por 32,8% dos adolescentes, sendo que 22,4% deles disseram ter esse sentimento na maioria das vezes e 10,4% sempre tiveram esse sentimento durante o período. Sentir-se isolado foi mais frequente entre as meninas e entre os adolescentes mais velhos.

De acordo com a pesquisa, 31,6% dos adolescentes se sentiram tristes na maioria das vezes ou sempre. O relato de tristeza na maioria das vezes ocorreu em 22,4% dos adolescentes e 9,2% se sentiu sempre triste durante a pandemia.  O percentual de sentimento de tristeza foi duas vezes maior nas meninas. Entre elas, 27,7% se sentiram sempre tristes. O relato do sentimento de tristeza na maioria das vezes ou sempre foi maior entre os adolescentes mais velhos (38,3%) do que entre os mais novos (29,6%).

Sentir-se preocupado, nervoso ou mal-humorado foi relatado por 48,7% dos adolescentes, na maioria das vezes ou sempre. Entre as meninas, o percentual foi de 61,6%. Os adolescentes de 16 a 17 anos relataram esse sentimento mais frequentemente (55,3%) do que os de 12 a 15 anos (45,5%). Cerca de 20% dos adolescentes (19,3%) sentiu sempre preocupação, nervosismo, ou mau humor –27,7% das meninas e 10,8% dos meninos.

O consumo de alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana também aumentou entre os adolescentes durante a pandemia. Foi registrado aumento de consumo de 4% para pratos congelados e de 4% para os chocolates e doces. Destaca-se a maior ingestão de doces e chocolates entre as meninas: 58,1% das adolescentes consumiram doces em 2 dias ou mais por semana.  Já o padrão de consumo de alimentos saudáveis, tais como frutas e hortaliças, foi similar antes e durante a pandemia.

Sobre a prática de atividades físicas, 40% não praticaram exercícios por 60 minutos em nenhum dia da semana durante a pandemia. O percentual de jovens que não faziam esse tempo de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9% e passou a ser de 43,4%. A prática de 60 minutos de atividade física em cinco ou mais dias semanais diminuiu em torno de 13 pontos percentuais, de 28,7 para 15,7%.

Em isolamento, mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de 4 horas em frente às telas de computador, tablet ou celular. Entre os adolescentes de 16 a 17 anos, o percentual alcança 70%. O tempo sedentário aumentou cerca de duas horas durante a pandemia. O tempo que os adolescentes costumavam ficar sentados assistindo a televisão ou jogando videogame aumentou de 3 horas e 20 minutos antes da pandemia para 5 horas e 3 minutos durante a pandemia.

Dificuldades em acompanhar as aulas de ensino a distância (EAD) foram citadas pelos adolescentes: 59% relataram falta de concentração, 38,3% falta de interação com os professores, 31,3% falta de interação com amigos. As meninas relataram maior dificuldade em acompanhar as aulas, principalmente em relação à falta de concentração e falta de interação com professores. Enquanto 10,7% dos meninos não teve nenhuma dificuldade, o percentual foi de 6,9% entre as meninas.  Entre os adolescentes de 16 a 17 anos, 65,5% citaram falta de concentração como dificuldade para acompanhar as aulas.

Em relação ao entendimento do conteúdo das aulas no EAD, 47,8% dos adolescentes relataram estar entendendo pouco (51,3% das meninas e 44,1% dos meninos) e 15,8% disseram não estar entendendo nada (17,4% das meninas e 14,1% dos meninos).  Os mais velhos têm mais dificuldades no entendimento do conteúdo das aulas remotas. Apenas 1 em cada 4 adolescentes de 16 a 17 anos relatou estar entendendo tudo ou quase tudo das aulas presenciais.

Todas as respostas da Convid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos foram anônimas e sem qualquer outro tipo de identificação dos participantes. O convite aos participantes foi feito por um procedimento de amostragem em cadeia. Na primeira etapa, os pesquisadores do estudo escolheram pais de adolescentes de diferentes estados brasileiros para iniciarem o processo.

Após preencher o questionário, os adolescentes convidavam outros jovens pelas redes sociais, compondo a cadeia de recrutamento. Adicionalmente, a equipe de coordenação da pesquisa entrou em contato com escolas públicas e privadas e secretarias estaduais e municipais de educação, por meio de email institucional. As instituições que aderiram à pesquisa enviaram os questionários eletrônicos para os alunos.

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Como será o Natal na pandemia é tema de live no Canal USP https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/como-sera-o-natal-na-pandemia-e-tema-de-live-no-canal-usp/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2020/11/25/como-sera-o-natal-na-pandemia-e-tema-de-live-no-canal-usp/#respond Wed, 25 Nov 2020 10:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/natal-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=474 O Canal USP, da Universidade de São Paulo, promove uma live nesta quarta-feira (25), às 18h, com especialista que vão debater sobre os desafios de comemorar o Natal em meio a pandemia do novo coronavírus.

O evento será transmitido pelo Canal USP no YouTube.

Participam do debate Daniel Barros, psiquiatra do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP), Paulo Lotufo, epidemiologista e professor da FMUSP, Carolina Botelho doutora em ciência política pelo IESP/UERJ (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Vitor Mori, físico e engenheiro biomédico que atua no Observatório Covid-19 BR e as jornalistas Fabiana Cambricoli, do O Estado de S.Paulo, e Luiza Caires, do Jornal da USP.

Os especialistas vão discutir as formas mais seguras para quem deseja realizar reuniões de família nas festas de fim de ano e questões relacionadas à saúde mental da população, como aqueles que perderam familiares e amigos para a Covid-19, além de sintomas de ansiedade e depressão provocados pela quarentena.

Em maio, uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revelou alterações de comportamento na população brasileira durante as primeiras semanas do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Aumento de sintomas depressivos, de ansiedade e de consumo de cigarros e de álcool foram relatados pelos participantes.

O estudo contou com a participação de 44.062 pessoas de todo o território nacional que responderam a um questionário online, entre 24 de abril a 8 de maio.

Em julho, um estudo feito pela internet com 11.863 indivíduos por cientistas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que mais de metade da população adulta do estado de São Paulo afirmava sentir ansiedade ou nervosismo com frequência desde que a pandemia causada pelo novo coronavírus.

Para 39% dos entrevistados, sentir-se triste ou deprimido passou a ser algo rotineiro durante a quarentena e quase 30%, que antes dormiam bem, começaram a enfrentar problemas de sono. Os dados foram coletados entre os dias 24 de abril e 24 de maio por meio de questionário online.

Como será o Natal na pandemia?
Quando quarta-feira (25), às 18h
Onde Canal USP no YouTube

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