Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Excesso de procedimentos estéticos pode ser sinal de dismorfofobia, explicam especialistas https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/28/excesso-de-procedimentos-esteticos-pode-ser-sinal-de-dismorfofobia-explicam-especialistas/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/28/excesso-de-procedimentos-esteticos-pode-ser-sinal-de-dismorfofobia-explicam-especialistas/#respond Sun, 28 Nov 2021 10:00:04 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/botox-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1310 “Percebi que tinha exagerado na boca quando me vi num vídeo. Eu falava e a boca quase não mexia”, conta a vendedora Mariana Soares. “Eu sei que fui influenciada por filtros de Instagram e por famosas que via na internet. Mas na vida real não fica do mesmo jeito, né?”

Ela conta que, desde que não gostou do que viu na gravação, decidiu esperar o excesso de ácido hialurônico –produto utilizado para dar volume aos lábios– ser reabsorvido pelo organismo. “Não acho que nunca mais vou fazer preenchimento labial, mas vou pegar mais leve das próximas vezes”, diz.

O psiquiatra Adilon Harley Machado explica que as redes sociais reforçam um padrão estético a ser seguido que é associado ao sucesso. “Existe uma pressão que faz as pessoas se compararem umas com as outras. É natural do ser humano querer para si aquilo que é socialmente será bem visto”, observa.

“Nesse contexto, as pessoas encontram um falso conforto, a ponto de deixarem de se reconhecer nas suas imperfeições, que só são imperfeições aos olhos desses padrões, e começam a achar que aquelas características seriam importantes para se sentirem mais bonitas e desejadas.”

Além de insatisfação e ansiedade que uma eterna busca pela perfeição provoca, o psiquiatra ressalta que o exagero de procedimentos estéticos pode ser sinal de transtorno dismórfico corporal, também chamado de dismorfofobia.

O transtorno é caracterizado pela preocupação excessiva que uma pessoa pode desenvolver em relação à própria aparência. “A imagem que ela vê representada no espelho é sempre algo que causa um desconforto muito grande”, afirma.

O dermatologista Luis Fernando Tovo conta que casos de dismorfofobia ficam evidentes no consultório quando um paciente nunca fica satisfeito com os resultados dos procedimentos estéticos.

“No preenchimento labial, por exemplo, a pessoa atinge um ideal que fica harmônico para ela, mas mesmo assim ela quer mais. O profissional precisa ter um bom senso crítico para não entrar na onda do paciente”, adverte.

Tovo revela que o número de procedimentos estéticos aumentou muito durante a pandemia da Covid-19, especialmente em pacientes homens. “Eles começaram a reparar mais no próprio rosto de tanto ficar em reuniões virtuais.”

No entanto, lembra o dermatologista, querer melhorar algum aspecto que incomoda não é algo negativo.

“Hoje existem técnicas que são de restauração e não apenas de rejuvenescimento. Eu não gosto do termo rejuvenescimento. Atualmente a expectativa de vida é muito alta, então assim como cuidamos da nossa saúde internamente, evitando o consumo de alimentos que fazem mal e hábitos como o tabagismo, também é interessante cuidar do lado de fora”, afirma.

O cirurgião plástico Luiz Carlos Ishida, coordenador do grupo de rinoplastias e rinologia da disciplina de cirurgia plástica da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), destaca outro lado das fotos tiradas com celular, que é a distorção que elas provocam.

“Ao bater um selfie, a câmera fica muito próxima do rosto e isso aumenta o nariz. Essa alteração já levou várias pessoas a procurar cirurgia plástica, muitas vezes sem necessidade”, afirma.

Ishida ressalta que é importante o cirurgião plástico saber observar durante a consulta se as expectativas do paciente condizem com o resultado que o procedimento pode oferecer de forma segura e saudável.

“Uma pessoa com dismorfofobia vai continuar vendo defeito mesmo depois de uma cirurgia bem-sucedida. Já vi paciente dizer que as fotos do pós-cirúrgico, que mostravam o nariz bonito, estavam erradas, que o certo era o que ela estava vendo”, diz.

Um comportamento comum desses pacientes é tentar convencer outras pessoas, além do próprio médico, de que aquele defeito existe.

“Já atendi pessoas que sabem mexer em Photoshop e vieram para a consulta com uma simulação que eles fizeram do próprio nariz. Aí, em alguns casos, a gente tem que explicar que não dá para obter aquele resultado com cirurgia”, relata Ishida. “Isso ainda é medicina.”

O psiquiatra Adilon Harley Machado conta que a dismorfofobia pode estar dentro dos transtornos obsessivos-compulsivos (TOC). “É possível que o paciente esteja desenvolvendo um TOC que está associado à aparência e, para se sentir mais aliviado, começa a fazer procedimentos estéticos.”

A base do tratamento, diz Machado, é a psicoterapia. “As sessões periódicas vão ajudar o paciente a lidar melhor com suas angústias. Mas algumas vezes, a depender do grau de disfuncionalidade que a pessoa está enfrentando, é preciso fazer tratamento medicamento psiquiátrico”, afirma.

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Pensamentos intrusivos afetam mais pessoas com TOC e podem levar a abuso de substâncias, explica psiquiatra https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/25/pensamentos-intrusivos-afetam-mais-pessoas-com-toc-e-podem-levam-a-abuso-de-substancias-explica-psiquiatra/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/11/25/pensamentos-intrusivos-afetam-mais-pessoas-com-toc-e-podem-levam-a-abuso-de-substancias-explica-psiquiatra/#respond Thu, 25 Nov 2021 10:00:19 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/lu2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1302 Os pensamentos intrusivos são involuntários e fazem a pessoa acreditar que vai perder o controle de alguma forma.

Eles não correspondem à realidade nem aos desejos de quem os vivencia. Geralmente dão a impressão que o indivíduo vai cometer um ato que considera abominável, como ferir outra pessoa ou a si mesmo. Ou, ainda, se ele fizer ou deixar de fazer alguma coisa, algo catastrófico pode acontecer.

“É muito importante entender que pensamentos intrusivos são involuntários. As pessoas que os vivenciam normalmente sentem repulsa por eles”, ressalta a psiquiatra Flávia Batista Gustafson.

“Existem muitos tipos de pensamentos intrusivos, mas os tópicos comuns incluem pensamentos inadequados de cunho sexual, pensamentos sobre relações interpessoais, com conteúdo de traição, por exemplo, pensamentos religiosos que são opostos e inadmissíveis pela crença da pessoa, e pensamentos relacionados a violência contra outras pessoas ou si mesmo”, explica.

Apesar de poderem afetar qualquer pessoa, são mais comuns em quem tem transtornos como ansiedade, estresse pós-traumático e especialmente TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).

“Essas pessoas [com TOC] também têm maior probabilidade de passar mais tempo pensando sobre as implicações desses pensamentos e são mais propensas a superestimar a probabilidade dos resultados temidos se vierem a se concretizar, o que acaba por retroalimentar o problema. Forma-se um ciclo vicioso em que os pensamentos intrusivos estão sempre voltando, o que causa muito sofrimento”, conta Gustafson.

Com a pandemia da Covid-19 mais controlada e a volta do trabalho presencial e dos eventos sociais, é comum que pessoas que já tinham pensamentos intrusivos anteriormente fiquem mais vulneráveis a eles.

“Os pensamentos intrusivos a respeito da contaminação pelo vírus da Covid-19 ou até outras doenças podem ser amplificados, e a pessoa pode experimentar grande sofrimento ao se ver obrigada a frequentar círculos profissionais e sociais novamente”, observa.

Sem um tratamento adequado, quem enfrenta esse fenômeno pode acabar recorrendo ao uso de álcool e outras drogas para tentar distrair a mente. “A pessoa se ‘medica’ com o álcool, ou menos frequentemente com outras drogas ilícitas, em busca de um relaxamento e alívio momentâneo dos sintomas”, diz Gustafson.

“O problema é exatamente esse: um alívio momentâneo. A seguir vem a parte indesejada, que é a piora dos sintomas. A pessoa então passa a ingerir mais álcool para voltar a sentir-se aliviada, levando a um perigoso abuso e uma potencial dependência, o que consequentemente adiciona uma nova camada de problemas para se lidar.”

Leia a seguir a entrevista com a psiquiatra.

O que são pensamentos intrusivos e como eles surgem?
Pensamentos intrusivos são pensamentos indesejados que aparecem do nada. Eles podem ser desencadeados por estresse do dia a dia, mas também podem ser sintomas de um transtorno mental. Geralmente eles são desagradáveis e até perturbadores, o que pode fazer com que as pessoas não procurem ajuda num primeiro momento por se sentirem envergonhados por esses pensamentos.

Os pensamentos intrusivos são involuntários e não têm relação com a realidade ou os desejos de uma pessoa. As pessoas não agem de acordo com esses pensamentos, muito pelo contrário, elas geralmente os consideram horríveis e inaceitáveis.

Esses pensamentos podem ser persistentes e causar angústia significativa em algumas pessoas. Frequentemente, quanto mais as pessoas tentam se livrar desses pensamentos, mais eles persistem e mais intensos se tornam.

Você poderia citar um exemplo de pensamento intrusivo que seja comum?
É muito importante entender que pensamentos intrusivos são involuntários. As pessoas que os vivenciam normalmente sentem repulsa por eles.

Existem muitos tipos de pensamentos intrusivos, mas os tópicos comuns de pensamentos intrusivos incluem: pensamentos inadequados de cunho sexual, pensamentos sobre relações interpessoais, com conteúdo de traição, por exemplo, pensamentos religiosos que são opostos e inadmissíveis pela crença da pessoa, e pensamentos relacionados a violência contra outras pessoas ou si mesmo.

Os pensamentos intrusivos são comuns em transtornos como ansiedade, estresse pós-traumático, transtorno bipolar e TOC (transtorno obsessivo-compulsivo). Por que os pacientes diagnosticados com esses transtornos costumam ter esse tipo de pensamento?
Pessoas com diagnóstico de transtornos mentais (nesse caso, principalmente aquelas com TOC) têm maior probabilidade de julgar seus pensamentos intrusivos como maus, imorais ou perigosos.

Essas interpretações geralmente levam a uma forte reação emocional negativa, o que amplifica a força percebida dos pensamentos intrusivos, elevando assim o foco sobre eles.

Essas pessoas também têm maior probabilidade de passar mais tempo pensando sobre as implicações desses pensamentos e são mais propensas a superestimar a probabilidade dos resultados temidos se vierem a se concretizar, o que acaba por retroalimentar o problema. Forma-se um ciclo vicioso em que os pensamentos intrusivos estão sempre voltando, o que causa muito sofrimento.

Qual é a diferença entre pensamento intrusivo, alucinação e delírio?
As alucinações e delírios são sintomas bastante diferentes dos pensamentos intrusivos, e costumam estar presentes em transtornos psicóticos.

As alucinações podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial (auditiva, visual, olfativa, gustativa e tátil), mas as auditivas são de longe as mais comuns. É uma percepção que parece completamente real para a pessoa, mas que não está acontecendo. As alucinações auditivas são geralmente experimentadas como vozes, familiares ou não familiares, que são percebidas como distintas dos próprios pensamentos da pessoa.

A definição de delírio é um pouco diferente, embora também envolva a experiência de algo que parece real, mas não é. É uma crença obviamente falsa, mas mesmo assim o indivíduo que a experimenta pensa que é absolutamente verdadeira. Essa pessoa vai acreditar firmemente no delírio, mesmo quando repetidamente mostradas evidências contrárias.

Tanto as alucinações quanto os delírios são distúrbios, na realidade. São experiências que parecem reais para quem está sofrendo com elas, mas não têm conexão com a realidade.

Agora, com a pandemia mais controlada, as pessoas estão retomando o trabalho presencial e os eventos sociais. É comum que algumas pessoas tenham pensamentos intrusivos por medo de contaminação por Covid-19? Ou mesmo por que ficaram muito tempo em isolamento e estão enfrentando uma espécie de agorafobia?
Certamente. As pessoas que já sofriam com pensamentos intrusivos antes da pandemia agora estão muito mais vulneráveis à medida que o mundo vai se abrindo novamente ao “novo normal”.

Os pensamentos intrusivos a respeito da contaminação pelo vírus da Covid-19 ou até outras doenças podem ser amplificados, e a pessoa pode experimentar grande sofrimento ao se ver obrigada a frequentar círculos profissionais e sociais novamente.

Muitas dessas pessoas encontraram um certo conforto emocional na situação de isolamento e do home office durante a fase mais crítica da pandemia e podem sentir muita dificuldade em enfrentar o mundo novamente.

É comum uma pessoa que tenha pensamentos intrusivos e que ainda não tenha tido um diagnóstico correto recorra ao uso de drogas e álcool? Quais são os perigos que essa prática pode acarretar?
Quando falamos em pensamento intrusivos que causam muito sofrimento, sempre lembramos do risco aumentado do abuso de substâncias, especialmente o álcool.

A pessoa se “medica” com o álcool, ou menos frequentemente com outras drogas ilícitas, em busca de um relaxamento e alívio momentâneo dos sintomas.

O problema é exatamente esse: um alívio momentâneo. A seguir vem a parte indesejada, que é a piora dos sintomas. A pessoa então passa a ingerir mais álcool para voltar a sentir-se aliviada, levando a um perigoso abuso e uma potencial dependência, o que consequentemente adiciona uma nova camada de problemas para se lidar.

Com um diagnóstico correto e tratamentos com psiquiatra e psicólogo é possível controlar esses pensamentos?
Pensamentos intrusivos nem sempre são o resultado de uma condição médica. Aliás, a maioria das pessoas os têm de vez em quando. No entanto, para muitas pessoas, pensamentos intrusivos podem, sim, ser um sintoma de um problema de saúde mental, como TOC ou o transtorno de estresse pós-traumático.

Esses pensamentos também podem ser um sintoma de problemas neurológicos, como uma lesão cerebral, demência ou mal de Parkinson, por exemplo. Por isso um diagnóstico bem feito é imperativo.

A melhor maneira de gerenciar pensamentos intrusivos é reduzir a sensibilidade da pessoa a esses pensamentos e seu conteúdo. O tratamento vai ser individualizado a cada pessoa, mas, em linhas gerais, o médico psiquiatra vai fazer o diagnóstico e prescrever a medicação mais indicada.

Paralelamente, é fundamental a abordagem com a psicoterapia, sendo a TCC (terapia cognitivo comportamental) a mais indicada. Por último, e não menos importante, a pessoa deve ser orientada a seguir um estilo de vida saudável, com alimentação nutritiva, atividade física e higiene do sono, o que vai somente agregar ao seu bem-estar geral.

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Medo de voltar a frequentar eventos sociais? Especialistas dão dicas para respeitar seu ritmo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/#respond Sat, 09 Oct 2021 10:00:34 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/GUARUJA-1-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1196 Em setembro, uma pesquisa Datafolha mostrou que para 80% dos entrevistados a pandemia da Covid-19 está controlada em parte (71%) ou totalmente (9%). Essa percepção pela maioria da população ocorre em meio ao avanço da vacinação em todo o país e à queda do número diário de casos e de mortes pela doença.

Neste cenário, algumas cidades avaliam desobrigar o uso de máscaras e a volta dos torcedores aos jogos de futebol. Até as escolas de samba já discutem a organização do Carnaval 2022.

Ao mesmo tempo, especialistas alertam sobre os perigos de relaxar medidas de contenção contra o coronavírus num momento em que a Covid-19 ainda mata em média mais de 400 pessoas por dia. Nesta sexta (8), o país passou de 600 mil mortos pela doença.

Ou seja, os eventos estão sendo retomados, mas a pandemia ainda não acabou. Essa situação acaba gerando ansiedade e dúvidas sobre como voltar à “vida normal”.

A seguir, especialistas dão dicas para enfrentar esse período de transição sem desrespeitar seus limites.

Respeite a sua retomada
O comércio e os eventos culturais já estão funcionando de maneira cada vez mais próxima de como era antes do início da pandemia. No entanto, muitas pessoas ainda estão receosas de voltar a frequentá-los, mesmo tomando os devidos cuidados.

“Se você é uma delas, seja qual for o seu medo, não se sinta pressionado a nada. Cada um tem seu próprio ritmo. Só não permita que este medo te domine e te impeça de retomar sua vida. Se chegar a este ponto, será preciso buscar ajuda de um especialista”, aconselha Cristiane Romano, doutora em ciências e expressividade pela USP (Universidade de São Paulo).

“Todo esse cenário da pandemia nos fragilizou. Pessoas sem histórico de transtornos sendo acometidas por ataques de pânico e ansiedade. Quem já tinha algum tipo de doença psiquiátrica precisou de um suporte maior. Difícil ficar indiferente a tudo que ainda estamos passando”, afirma a psicóloga Flávia Teixeira.

Enquanto isso, tente adequar sua rotina e evite variar muito os horários de dormir. A privação do sono é um forte gatilho para transtornos de ansiedade. “Quando você não dorme o suficiente para ser produtivo ou trabalha até tarde da noite, prejudica a rotina do sono, desregulando seu relógio biológico. Isso resulta em uma extrema exaustão, pois o organismo, que já está habituado com um determinado padrão de sono, sofre um forte impacto, precisando de tempo e resistência para se adequar às mudanças. Sendo assim, quanto mais você praticar a rotina em casa, mais fácil será para retomar suas atividades de forma leve, natural, espontânea e sem traumas”, observa o psiquiatra Adiel Rios.

Desenvolveu algum hábito bom na quarentena? Mantenha 
Para enfrentar o isolamento social durante a quarentena, muitas pessoas desenvolveram hábitos para driblar o estresse.

Criou uma brincadeira diferente com seu filho? Mantenha-a quando estiver com ele. Teve ideia de fazer pequenos trabalhos de restauração ou pintura de móveis? Adote o hobby. Aprendeu a meditar para relaxar? Se funcionou para você, não pare mais.

“Poucas pessoas têm consciência que, para uma boa saúde mental, é preciso buscar atividades que proporcionem prazer e bem-estar. Portanto, se você descobriu algo interessante na quarentena que até te fez esquecer da pandemia por alguns instantes, não pare de praticar. Seja individualmente ou com alguém, realizar novas atividades mantém sua mente ativa e saudável. E isso é tudo o que você precisa neste momento”, pontua a psiquiatra Danielle Admoni.

Evite a automedicação e mantenha a terapia
Um levantamento feito pela Funcional Health Tech, empresa de inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde, a partir da coleta de informações de aproximadamente 1 milhão de brasileiros, mostrou que, entre janeiro e julho deste ano, o consumo de medicamentos para ansiedade depressão cresceu 14% em comparação ao mesmo período de 2020.

“Tomar antidepressivos ou ansiolíticos sem acompanhamento e, pior, mudar a dose ou interromper o uso sem orientação, é uma atitude irresponsável e perigosa. Se você está em um nível de ansiedade tão grande a ponto de recorrer a estes medicamentos, o melhor a fazer é buscar ajuda com um especialista, que irá te avaliar e indicar o tratamento ideal para sua condição”, afirma o psiquiatra Adiel Rios.

Segundo o médico, é preciso ficar atento a sintomas como tristeza profunda e contínua, apatia, desânimo, perda do interesse pelas atividades que gostava de fazer, pensamentos negativos (ideias de fracasso, incapacidade, culpa, pensamentos de morte) e alterações do sono e do apetite. “O tratamento pode envolver o uso de psicofármacos, associados à psicoterapia.”

Não faça do álcool a sua válvula de escape
Em maio do ano passado, uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revelou alterações de comportamento na população brasileira durante as primeiras semanas do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Aumento de sintomas depressivos, de ansiedade e de consumo de cigarros e de álcool foram relatados pelos participantes

No ápice do isolamento social, com menos interação com colegas e familiares, foi mais fácil perder o controle do uso de algumas substâncias prejudiciais à saúde. “Se continuar com este hábito, terá uma conta alta em breve, aumentando ansiedade, ataques de pânico e outros sintomas psiquiátricos. Pior: o impacto cerebral deste uso abusivo pode perdurar por muito tempo, mesmo quando acabar a pandemia”, alerta a psiquiatra Danielle Admoni.

Entenda o que você pode e o que não pode controlar
Durante a pandemia, as pessoas sentiram que perderam o controle sobre suas vidas. “Neste momento de incertezas, tente basear suas escolhas em fontes confiáveis de informações e diretrizes, como instituições acadêmicas ou governamentais. Há decisões que não precisam ser tomadas com sofrimento, como voltar a trabalhar na empresa ou continuar em home office”, diz a psicóloga Flávia Teixeira.

“No entanto, às vezes é necessário simplesmente reconhecer que há situações na vida que não podemos controlar. Se você está com dificuldade em aceitar esta realidade, há formas de lidar com suas preocupações. Escreva em um caderno o que vem à mente, como se fosse um diário. Isso torna seu pensamento mais lento, focado e eficiente, trazendo novas perspectivas e maior clareza para assimilar determinadas questões”, sugere a educadora parental Stella Azulay.

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Feira Criativa Mente tem aula de ioga, meditação e roda de conversa sobre saúde mental, em SP, neste domingo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/03/feira-criativa-mente-tem-aula-de-ioga-meditacao-e-roda-de-conversa-sobre-saude-mental-em-sp-neste-domingo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/03/feira-criativa-mente-tem-aula-de-ioga-meditacao-e-roda-de-conversa-sobre-saude-mental-em-sp-neste-domingo/#respond Sun, 03 Oct 2021 10:00:39 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/feira3-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1167 Com a volta dos eventos presenciais em São Paulo, a feira Criativa Mente realiza sua quinta edição neste domingo (3), das 10h às 18h, na Casa de Cultura do Parque, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

Além dos 50 expositores que vendem itens de decoração, artesanato, vestuário e alimentação, a programação inclui aula de corrida e alongamento, às 10h, com o personal trainer Cristiano Silveira, aula de ioga e meditação, às 11h, com o professor Filipe Stein, e a roda de conversa “Tudo bem não estar bem: autocuidado para manter a saúde mental”, às 15h, conduzida pela psicóloga Mari Luz.

depressão da mãe levou a publicitária Karoline Martins, 34, a criar o evento, que teve sua primeira edição em 2019. Este será o retorno da feira após o período mais restritivo da pandemia da Covid-19.

Em 2017, Helena Martins, mãe de Karoline, foi demitida do emprego. Segundo a publicitária, o episódio ajudou a desencadear um quadro depressivo em Helena, que quase não saía mais de casa.

Para tentar ajudá-la a se animar, Karoline reaproximou a mãe de um paixão antiga: o artesanato de bijuterias, um trabalho que ela sempre desenvolveu paralelamente ao de analista de atendimento, antes da demissão.

Em dezembro daquele ano, Karoline conseguiu fazê-la sair de casa e participar de uma feira para vender suas peças.

“Só o fato de ela sair já foi uma vitória”, lembra a publicitária. “Mas é muito caro participar de um evento desses como expositor, as feiras costumam cobrar taxa de inscrição de R$ 300.”

Então Karoline teve a ideia de criar seu próprio projeto. “Tudo aconteceu com o apoio de pessoas que têm alguma relação com a causa”, revela.

Desde a criação do logotipo do projeto às apresentações artísticas que costumam acontecer nos eventos, tudo é feito em parceria com amigos que sofrem ou que já sofreram de depressão ou que tenham alguém na família que sofra de transtornos mentais.

A curadoria é feita por Helena, que entra em contato com os expositores, conta sua história, e dá preferência a artesãos que tenham relação com a causa.

Feira Criativa Mente
Onde Casa de Cultura do Parque: av. Professor Fonseca Rodrigues, 1.300, Alto de Pinheiros (a 600 m da entrada principal do parque Villa Lobos), na zona oeste de São Paulo
Quando domingo (3), das 10h às 18h

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Saiba onde encontrar atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito no SUS https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/02/saiba-onde-encontrar-atendimento-psicologico-e-psiquiatrico-gratuito-oferecido-pelo-sus/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/02/saiba-onde-encontrar-atendimento-psicologico-e-psiquiatrico-gratuito-oferecido-pelo-sus/#respond Sat, 02 Oct 2021 10:00:06 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/ee22cdff5c5f5569ba19caf8ae5aab0a99c079ffee6923659b9dde1b2a590389_5ae6c7e3ad434.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1157 Todos os profissionais de saúde mental enfatizam a importância de procurar atendimento psicológico ou psiquiátrico quando surgem sintomas de transtornos como depressão ou ansiedade.

No entanto, muitas pessoas não têm como pagar por esses tratamentos e também não têm um plano de saúde que cubra os custos.

No SUS (Sistema Único de Saúde), a população pode contar com os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que fazem parte da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial).

Compreendida como uma rede integrada de diferentes setores, a RAPS busca criar, diversificar e articular serviços e ações para pessoas com sofrimento mental ou com demandas decorrentes do uso de drogas. Dentre suas diretrizes estão o respeito aos direitos humanos, a garantia de autonomia das pessoas, o acesso a serviços de qualidade e o combate ao estigma e ao preconceito.

O serviço conta com atuação multiprofissional e interdisciplinar (com profissionais da medicina, enfermagem, psicologia, assistência social, terapia ocupacional, educação física, fonoaudiologia), abarcando não só o campo da saúde, mas também a assistência social, a cultura e o emprego, de modo a favorecer a inclusão social e o exercício da cidadania dos usuários dos serviços e de seus familiares.

Apesar de não ser amplamente conhecida, a RAPS estabelece que a atenção à saúde das pessoas com sofrimento psíquico deve ser realizada em todos os serviços do SUS, sem discriminação.

A rede conta com a existência de estruturas de atendimento especializadas, como os CAPS, que promovem trabalhos com focos distintos. No entanto, alguns estigmas e a falta de conhecimento sobre esses organismos dificultam o acesso a tratativas precoces e ajuda qualificada.

Esses serviços estratégicos funcionam com portas abertas, ou seja, qualquer pessoa pode ser recebida e avaliada pela equipe de saúde presente, sem a necessidade de um encaminhamento ou agendamento prévio. As ações de cuidado são diversificadas, podendo ser realizadas em grupo, individualmente, com a família ou na comunidade.

Divididos em diversas modalidades, os CAPS também variam de acordo com o porte dos municípios. Nas grandes cidades e regiões acima de 200 mil habitantes, são previstos CAPS de funcionamento 24h, como os CAPS III voltados para pessoas com sofrimento mental em geral, e os CAPS ad III, destinados principalmente para pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas.

Os CAPSij são direcionados para o público infanto-juvenil e podem ser implantados em municípios e regiões a partir de 70 mil habitantes. Para os municípios de médio porte (a partir de 70 mil habitantes), há os CAPS II e CAPS ad, e para os de pequeno porte (a partir de 15 mil habitantes), os CAPS I. Mais recentemente, a esta tipificação foi acrescentado o CAPS ad IV, para municípios com população acima de 500 mil habitantes ou nas capitais de estados.

Em 2002, havia 424 CAPS implantados no país, ao final de 2019, chegaram a cerca de 2.669. Uma amplitude de estrutura assistencial que não apenas existe, mas que pode e deve ser acionada por toda e qualquer pessoa que necessite de auxílio.

“Enquanto houver preconceitos e vieses subjetivos não combatidos e desmistificados, o atendimento psicossocial no Brasil será insuficiente e enviesado. Por isso, é importante termos políticas públicas cada vez mais focadas na prevenção de adoecimentos psíquicos e na promoção da saúde mental, tanto individual quanto estruturalmente, assim como o fortalecimento de outras instituições de acolhimento que possam reforçar o olhar intersetorial e abarcar a necessidade que o tema emprega sobre nós”, ressalta Maria Fernanda Resende Quartiero, diretora presidente do Instituto Cactus.

Maria Fernanda explica que a rede pública oferece opções de tratamento para os adoecimentos mentais em vários níveis de gravidade, sendo eles considerados leves, moderados ou graves.

Casos leves: incluem pessoas que estão com sintomas de transtornos como depressão, ansiedade ou síndrome do pânico, que já fizeram ou não algum tratamento psicológico ou psiquiátrico. É preciso procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde), que pode fazer o encaminhamento ao CAPS. Outros sintomas de baixo risco que também podem ser atendidos numa UBS são:
• insônia
• doenças físicas causadas por questões emocionais
• uso abusivo de álcool e outras drogas
• situação de luto

Casos moderados: o paciente pode ir a uma UBS, a um CAPS, a um AME (Ambulatório Especializado em Saúde Mental) ou mesmo um pronto-socorro psiquiátrico. Alguns sintomas de risco moderado são:
• quadros psicóticos agudos
• quadro depressivo moderado com ou sem ideação suicida
• casos de alcoolismo ou dependência química de outras drogas com sinais de abstinência leve
• histórico psiquiátrico anterior com tentativa de suicídio e/ou homicídio
• alucinações: ouvir ou ver algo que mais ninguém vê ou ouve
• delírios: ideias que não correspondem à realidade.

Casos graves: ao apresentar sintomas graves, é necessário buscar a urgência e emergência de uma UPA (Unidades de Pronto Atendimento), de pronto-socorro de qualquer hospital do SUS, de CAISM (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental) e hospitais psiquiátricos. Exemplos de quadros graves são:
• sintomas psicóticos com ideação suicida, quando o indivíduo não conta com uma rede de apoio que possibilite o tratamento fora do ambiente hospitalar
• percepção alterada da realidade como alucinações e delírios, sem sinais de agitação e/ou agressividade, perda do autocuidado de maneira que comprometa o dia a dia e situações de sofrimento emocional intenso em que o apoio sócio-familiar estejam ausentes
• ideação suicida, planejamento ou história anterior de tentativa de suicídio e tentativas consumadas em qualquer circunstância
• em episódio de mania (euforia), com ou sem sintomas psicóticos (percepção alterada da realidade como alucinações e delírios), associado a comportamento inadequado que oferece risco para si ou para outros
• intoxicação aguda por substâncias psicoativas (medicamentos, álcool e outras drogas);
• autoagressividade (automutilação) com risco de morte iminente
• casos com quadro de alcoolismo ou dependência química de outras drogas com sinais de agitação e/ou agressividade (para si ou para outros), com várias tentativas anteriores de tratamento fora do contexto hospitalar sem sucesso

ONDE ESTÃO?

Em maio de 2020, o instituto Vita Alere, que desenvolve projetos e pesquisas relacionados à saúde mental, lançou o Mapa da Saúde Mental, um site que mostra onde e como buscar serviços gratuitos de psicologia e psiquiatria.

A iniciativa, que teve apoio técnico do Google, traz um mapa virtual, com contatos para atendimento online, e um mapa presencial, com endereços de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), CAISM (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental ), hospitais psiquiátricos, ONGs e clínicas de faculdades.

O site também indica o atendimento de acordo com o tipo de paciente: para o público em geral, para profissionais da saúde e para grupos específicos, como pessoas que perderam parentes e amigos por Covid-19idososgestantes e adolescentes.

Para facilitar qual tipo de ajuda buscar, o site tem um guia que explica como funciona o tratamento com um psicólogo, o que faz um psiquiatra, em quais situações se deve procurar um hospital psiquiátrico, por exemplo.

Encontre os endereços em mapasaudemental.com.br.

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Pandemia aumenta busca por atendimento de saúde mental para crianças e adolescentes no dr.consulta https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/pandemia-aumenta-busca-por-atendimento-de-saude-mental-para-criancas-e-adolescentes-no-dr-consulta/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/26/pandemia-aumenta-busca-por-atendimento-de-saude-mental-para-criancas-e-adolescentes-no-dr-consulta/#respond Sun, 26 Sep 2021 10:00:18 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/mexico-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1096 Um levantamento do banco de dados de pacientes cadastrados no dr.consulta mostra que, entre janeiro e julho deste ano, houve um aumento de 78% nas consultas de psicologia da faixa etária dos 10 aos 19 anos em comparação ao mesmo período de 2020. O crescimento nos atendimentos de psiquiatria foi de 9%.

Para Lisies Jacintho, psicóloga da rede de centros médicos, o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19 afetou a saúde mental dos mais jovens.

“Eles sentiram um aumento muito grande na dor emocional, principalmente por terem vivido meses de ensino remoto e falta de convivência com os demais. Acabaram se isolando, entraram em estado de pânico e não souberam como lidar com os sentimentos. Nessa faixa etária, dificilmente eles contam aos pais o que acontece. Aí entra a importância do profissional para tratar o estado mental, que está muito abalado”, explica Jacintho.

No período, a psicóloga observou que em 50% das consultas, os pacientes entre 10 e 19 anos relataram que estavam aflitos e se sentindo tristes.

Jacintho diz que, para essa faixa etária, a consulta precisa ser sempre presencial. Isso é importante para que eles possam desabafar, olhar nos olhos e até mesmo treinar esse retorno para a vida presencial.

A psicóloga conta que por ser uma geração muito ativa nas redes sociais, os jovens acabam pesquisando e vendo a importância de tratar a saúde mental. Geralmente, a atitude de procurar ajuda profissional parte deles, e não dos pais.

“Muitas vezes, eles aceitam melhor do que os pais essa busca pelo tratamento da saúde mental. Após a primeira consulta, já é possível notá-los aliviados. Eles têm a sensação de que estão sozinhos no mundo e é importante conversar com um profissional que os compreende”, observa.

Danilo Carvalho Borges, psiquiatra do dr.consulta, diz que uma forma de os pais detectarem se há alguma mudança de comportamento nos filhos que pode indicar depressão ou ansiedade é ficar de olho se eles perderam o interesse por algo que gostavam de fazer anteriormente ou se o rendimento escolar caiu.

“Normalmente, a criança tem alguma mudança de postura, seja comportamental ou acadêmica, tendendo a não se interessar por atividades em grupo e se isolar. Isso pode acontecer pelos mais variados motivos, como bullying ou excesso de cobrança dos pais ou responsáveis”, afirma.

“A criança tende a ficar mais raivosa e faz gesticulações verbais ou físicas de agressividade, denotando que algo não está normal. Cabe aos pais não fazer julgamento, e sim propor caminhos para que ela se abra e diga abertamente o que está acontecendo, sem exercer pressão psicológica. Tudo tem que ser muito cauteloso”, ressalta Borges.

O psiquiatra destaca que é preciso ficar atento aos seguintes sinais: isolamento voluntário, agressividade verbal, automutilação, verbalização de que as coisas não estão boas, desejo de suicídio e descontentamento anormal com o seu cotidiano.

Iniciar uma conversa sobre saúde mental com um jovem nem sempre é fácil, mas há meios de dar o primeiro passo. “Crianças e adolescentes podem achar que isso é uma invasão de privacidade, então o intuito da abordagem não deve ser constranger, e sim ajudar, e que isso fique bem claro, que nada do que vai ser dito se tornará público”, diz Borges.

“O fundamental é que as crianças vejam os pais como amigos, não como fiscais de comportamento, porque de sofrimento eles já são bem escolados”, aponta o psiquiatra.

“Um sinal de alerta é o medo desmesurado de algo ou de uma pessoa, que no passado lhes foi caro e hoje é visto como algoz. Nunca se deve tomar a queixa à ligeira, como uma ‘coisa de criança’. Se ela altera seu comportamento, normalmente não é gratuito, e cabe aos pais investigarem a causa de tal alteração. E, se necessário, encaminhá-la ao psicólogo infantil ou ao psiquiatra infantil, para que possam ser esclarecidas as dúvidas e possa ser dado um bom encaminhamento ao caso”, afirma.

Os professores também podem ajudar a observar se os alunos estão enfrentando algum problema emocional. “Os sinais são sutis, como arrefecimento do contato, isolamento, postura passiva/agressiva, desinteresse em atividades que lhes causavam prazer e a falta de motivação”, diz o psiquiatra.

Uma pesquisa nacional do instituto Datafolha, em parceria com a Fundação Lemann, o Itaú Social e a Imaginable Futures, vem acompanhando crianças e jovens do ensino público ao longo da isolamento e revela seus impactos.

O Datafolha realizou, entre 7 e 15 de julho, 1.056 entrevistas, por telefone, com responsáveis por 1.556 estudantes de 6 a 18 anos de escolas municipais e estaduais do país, com uma amostra baseada no Censo de Educação 2019. A margem de erro é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos, e os resultados têm confiabilidade de 95%.

A falta de motivação, que em maio atingia 46%, chegou a 51% em julho. Os que enfrentam dificuldades para manter a rotina saltaram de 58% para 67%. O percentual dos que estão tristes começou a ser medido em junho, quando chegou a 36%, e passou para 41% em julho. No mesmo período, o de irritados foi de 45% para 48%. Somam 74% os que se sentem tristes, ansiosos ou irritados.

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Pesquisa Datafolha encomendada por Abrata e Viatris mostra que 44% dos brasileiros tiveram problemas psicológicos na pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/13/pesquisa-datafolha-encomendada-por-abrata-e-viatris-mostra-que-44-dos-brasileiros-tiveram-problemas-psicologicos-na-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/13/pesquisa-datafolha-encomendada-por-abrata-e-viatris-mostra-que-44-dos-brasileiros-tiveram-problemas-psicologicos-na-pandemia/#respond Mon, 13 Sep 2021 18:05:02 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/ansiedade.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1044 Uma pesquisa Datafolha encomendada pela Abrata (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos) e pela farmacêutica Viatris mostrou que 44% dos brasileiros afirmaram que ter tido problemas psicológicos durante a pandemia da Covid-19, decretada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em março de 2020.

O levantamento foi realizado de forma presencial, entre os dias 2 e 7 de agosto, em 129 municípios das cinco regiões do país. Foram entrevistadas 2.055 pessoas a partir dos 16 anos de idade, de todas as classes econômicas, conforme critérios da PNAD 2019 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Os mais afetados foram mulheres (53%), jovens entre 16 e 24 anos (56%), pessoas economicamente ativas (48%), pessoas com alta escolaridade (57%) e pessoas sem filhos (51%).

Além disso, 28% dos entrevistados relataram que tiveram diagnóstico de depressão ou de outra doença relacionada à saúde mental durante a pandemia, enquanto 46% afirmaram que algum familiar ou amigos próximos tiveram depressão nesse período.

A pesquisa faz parte da campanha “Bem Me Quer, Bem Me Quero: O diálogo sobre depressão e ansiedade pode salvar vidas” para o Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio.

“O prolongamento do período da pandemia misturado à incerteza em relação ao futuro, uma rotina com restrições de circulação, o medo da morte, o luto e a falta de convívio entre familiares e amigos fizeram com que aumentassem os sentimentos de ansiedade, tédio, pânico e solidão durante este período, o que pode ter levado a esses dados preocupantes”, observa a neurologista e diretora-médica da Viatris, Elizabeth Bilevicius.

De acordo com a pesquisa, a conscientização dos brasileiros sobre o tema depressão ainda é deficiente. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) considerou muito importante oferecer suporte a quem esteja passando pela doença, e 10% disse não saber agir diante de um conhecido com depressão. Essa dificuldade de lidar com a situação é um pouco maior entre os homens e pessoas que não são economicamente ativas.

Além do aumento dos casos de depressão, os sentimentos de sobrecarga, medo e angústia durante a pandemia também se agravaram. Cerca de 55% das pessoas concordaram que se sentiram sobrecarregadas de tarefas e 57% afirmaram ter vivenciado medo e angústia nos últimos meses.

Sobre ter uma rede de apoio, com familiares, amigos e colegas de trabalho, 62% dos entrevistados que tiveram sintomas de ansiedade ou depressão disseram que tinham com quem contar, e 14% não tinha ninguém para dar suporte. Quase todos (96%) concordaram que a rede de apoio favorece a recuperação dos problemas psicológicos.

“O primeiro passo [para enfrentar os problemas de saúde mental] é admitir que está doente, que precisa de ajuda. É muito comum a negação do problema nesses casos. A partir daí, é importante se abrir com pessoas da sua confiança e estabelecer um diálogo limpo e construtivo, uma vez que a rede de apoio é um complemento fundamental à abordagem clínica. Sabemos que quem conta com esse suporte costuma ter mais adesão ao tratamento”, reforça Marta Axthelm, presidente da Abrata.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), o Brasil lidera o ranking de casos de depressão na América Latina, com mais de 11,5 milhões de brasileiros sofrem com a doença, e é o país mais ansioso do mundo, com quase 19 milhões de pessoas que têm transtorno.

Alexandrina Meleiro, psiquiatra e membro do Conselho Científico da Abrata, afirma que quase todos os casos de suicídio têm relação com transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e do abuso de substâncias.

“Praticamente todos aqueles que tentam ou cometem esse ato têm alguma doença psiquiátrica. As estatísticas mostram que mais da metade deles estava em acompanhamento médico até uma semana antes do episódio. É importante ressaltar que quem pensa em suicídio quase sempre dá sinais, mas a maioria das pessoas não está preparada para identificá-los. Daí a importância do Setembro Amarelo, para ajudar a esclarecer e conscientizar a população sobre o tema”, diz Alexandrina.

O atentado à própria vida é a segunda causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos no mundo. No entanto, não é exclusivo dos adolescentes. A psiquiatra explica ainda que idosos e populações vulneráveis, como os indígenas, LGBTQIA+, médicos, policiais e membros das forças armadas também são os grupos que demonstram alta incidência no Brasil.

A pesquisa Datafolha mostra que o tabu sobre o tema vem, aos poucos, se desfazendo: 52% das pessoas discordam que falar sobre suicídio deve ser evitado. Sobre a população LGBTQIA+, o levantamento revelou que 65% dos entrevistados concordam que esse grupo é mais vulnerável ao suicídio. Essa percepção é maior entre os mais jovens de 16 a 24 anos, pessoas que trabalham e aqueles sem filhos.

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Pandemia desencadeia e intensifica fobias sociais e transtornos de ansiedade https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/07/08/pandemia-desencadeia-e-intensifica-fobias-sociais-e-transtornos-de-ansiedade/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/07/08/pandemia-desencadeia-e-intensifica-fobias-sociais-e-transtornos-de-ansiedade/#respond Thu, 08 Jul 2021 11:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/a5fcbeabda913ea815fb23607c19ce42c959de46c8c2ce2c8180ca68e64bad74_5af4da6cc7791-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=870 O isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, que afeta toda a população mundial desde março de 2020, tem alterado a forma como as pessoas interagem umas com as outras.

Mesmo para aqueles que já tomaram as duas doses da vacina, os médicos recomendam que os encontros presenciais continuem sendo evitados e que o distanciamento de dois metros e o uso de máscaras sejam mantidos. Essas medidas são importantes para diminuir a transmissão do coronavírus e erradicar a doença.

A restrição nas interações sociais, que é motivo de tristeza para muitos, também pode ser um alívio para aqueles que preferem um estilo de vida mais recluso.

“O confinamento gera grande sofrimento para a maioria das pessoas, mas algumas se sentem confortáveis com o isolamento e temem como vai ser a interação com os demais após essa fase”, explica a psicóloga clínica Karin Kenzler.

Esse desconforto com a expectativa de voltar a uma rotina pré-pandemia pode ser sinal de algum distúrbio, como transtorno do pânico, síndrome da cabana, TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e agorafobia, ressalta Karin. Todos têm ligação com a ansiedade, com a vontade de se afastar de lugares cheios e com a preocupação de ter que lidar socialmente com muitas pessoas.

O pânico é um tipo de transtorno de ansiedade, caracterizado por crises inesperadas de medo, insegurança e desespero, aparentemente sem qualquer risco real. Essas crises provocam sintomas físicos, como falta de ar, taquicardia, suor excessivo, dor de barriga, náusea, tontura, sensação de morte iminente e boca seca, e também psicológicos, como medo de morrer, medo de enlouquecer, sensação de irrealidade e distanciamento social.

A síndrome da cabana não é considerada uma doença, pois se trata de um fenômeno natural do corpo que não está acostumado a mudanças bruscas na rotina ou no comportamento, observa a psicóloga. Ela se manifesta quando a pessoa precisa se adaptar a uma nova realidade de forma rápida e, em geral, sem que tenha total controle da situação, causando angústia, irritabilidade, inquietação, distúrbios do sono e de alimentação, dificuldade de concentração e desconfiança das pessoas.

Já o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), distúrbio psiquiátrico de ansiedade identificado pela presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões, está relacionado com a necessidade de controle do ambiente, diz Karin. Nesse caso, a preocupação da pessoa é maior com o fim da quarentena e a retomada da vida menos controlável fora de casa.

A agorafobia é o medo de ter crises de ansiedade, com sintomas parecidos aos de um ataque de pânico, mas em locais públicos ou em lugares em que o atendimento médico seja dificultado, como em túneis e elevadores. “A pandemia pode propiciar o surgimento desse transtorno em pessoas que já apresentam um perfil ansioso, por ser um período de muitas mudanças causadoras de estresse e situações difíceis, como perda do emprego, incerteza sobre o futuro, medo do contágio pessoal ou de familiares e da morte”, afirma Karin.

De acordo com a psicóloga, algumas práticas ajudam a controlar a ansiedade e, consequentemente, diminuem as chances de fobias e transtornos se intensificarem. Porém, se os sintomas persistirem, é importante buscar ajuda de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra.

Veja algumas dicas abaixo:

  • Criar uma rotina para organizar a mente ao longo do período de isolamento social. Definir horários de trabalho, intervalos, refeições e também ter momentos de lazer e descanso
  • Praticar exercícios físicos para combater o estresse, a ansiedade e a depressão. A atividade física também melhora a autoestima, a qualidade do sono e a concentração
  • Evitar o excesso de informações sobre a pandemia que podem causar ansiedade e angústia. Para se manter bem informado, basta acompanhar as principais notícias de veículos de imprensa confiáveis
  • Limitar e definir horários para entrar nas redes sociais, o que também evita o excesso de informação. O tempo online aumentou muito na quarentena e também pode ser causador de estresse e ansiedade
  • Ao se sentir muito estressado, com medo excessivo e ansioso, procurar se desconectar um pouco da realidade com atividades capazes de acalmar a mente por alguns instantes
  • Ler e assistir a filmes e séries ajuda a relaxar, já que acompanhar novas histórias nos transporta para outros lugares e vivências, sendo uma forma de “viajar” em tempos de quarentena
  • Atividades como pintar, dançar, cantar, tocar algum instrumento musical e escrever são formas de expressar o que se sente e pode ajudar a diminuir a angústia e o medo
  • Praticar exercícios de respiração, com técnicas simples, pode ajudar a lidar com a ansiedade

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