Saúde Mental https://saudemental.blogfolha.uol.com.br Informação para superar transtornos e dicas para o bem-estar da mente Tue, 14 Dec 2021 02:30:19 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sensação de exclusão pode acarretar problemas de saúde mental a pessoas com deficiência, afirma psicólogo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/sensacao-de-exclusao-pode-acarretar-problemas-de-saude-mental-a-pessoas-com-deficiencia-afirma-psicologo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/29/sensacao-de-exclusao-pode-acarretar-problemas-de-saude-mental-a-pessoas-com-deficiencia-afirma-psicologo/#respond Fri, 29 Oct 2021 10:00:16 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/e4e8662cab9df8da66bb422602fdbf413b019b470d0c0ada7cec9f2971b32054_5e1cc3d6932c2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1276 A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada em agosto deste ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que 17,3 milhões de brasileiros com dois anos ou mais tinham alguma deficiência em 2019. O número equivale a 8,4% da população nessa faixa etária.

Segundo o IBGE, apenas 28,3% das pessoas com deficiência e em idade de trabalhar (14 anos ou mais) estavam na força de trabalho nessa época. Entre as pessoas sem deficiência, o percentual era superior, de 66,3%.

A força de trabalho é o conceito que reúne tanto os profissionais empregados (ou ocupados) quanto os desempregados (ou desocupados, que seguem em busca de novas vagas).

Para o psicólogo Flavio Vaz de Oliveira, fundador da plataforma Buscoterapia, a sensação de exclusão pode acarretar problemas à saúde mental das pessoas com deficiência.

“O sentimento de não pertencimento facilita o aumento de estresse, surgimento de ansiedade e de sintomas depressivos“, observa Flavio.

Além da menor participação no mercado de trabalho, uma das formas de exclusão das pessoas com deficiência é a falta de acessibilidade nas cidades, tanto em locais públicos como privados.

“A realidade é que nossas cidades são malconservadas, ruas esburacadas, calçadas quebradas. Para uma pessoa que não tem deficiência já é um desafio conseguir andar tranquilamente sem ter de olhar para o chão e não tropeçar. Pense, então, na dificuldade de uma pessoa com mobilidade reduzida. A falta de acessibilidade prejudica a qualidade de vida dessas pessoas. Imagine uma pessoa com deficiência visual ou um cadeirante desviando de buracos na calçada para andar, é uma missão quase impossível”, afirma.

A acessibilidade vai além de somente ter rampas de acesso ou caixas preferenciais. Ela tem de ser realizada inclusive na forma de atendimento às pessoas com deficiência. Esse é o trabalho da Inclue, uma startup fundada por duas pessoas com deficiência, Sonny Pólito e Rodrigo Piris. Devido a experiências ruins de consumo no varejo, eles decidiram lançar uma ferramenta de treinamento e um aplicativo para o público PCD (pessoas com deficiência) e também pessoas acima dos 60 anos, que podem ter mobilidade reduzida.

“Acessibilidade é um direito de todos os cidadãos. E as marcas não estão preparadas para atender as pessoas com deficiência e idosos e ainda não oferecem a elas uma boa experiência de compra. Isso faz com que tenham muitos obstáculos para consumir e pouco acesso ao varejo”, diz Pólito.

“O atendimento ajuda as pessoas com deficiência, por exemplo, a pegar os produtos que precisam, passar no caixa, acompanhar até o carro”, ressalta Piris.

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Estudo da Unifesp aponta alto consumo de álcool entre idosos https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/15/estudo-da-unifesp-aponta-alto-consumo-de-alcool-entre-idosos/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/15/estudo-da-unifesp-aponta-alto-consumo-de-alcool-entre-idosos/#respond Fri, 15 Oct 2021 13:40:06 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/4a8a0fafb79ccefb084f2808d7c25f219f6cfdf004f8ba55c93c6179d039d032_5ae6c0011da91-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1245 Agência Fapesp – Estudo conduzido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) indica que aproximadamente um em cada quatro brasileiros (23,7%) com 60 anos ou mais consome álcool. Além disso, 6,7% (aproximadamente 2 milhões de idosos) relatam ter ingerido no último mês várias doses em uma ocasião –padrão de consumo abusivo conhecido como “binge drinking”, ou seja, o uso excessivo de uma só vez. E 3,8% (mais de 1 milhão) costumam beber, em uma semana típica, quantidades que podem colocar em risco sua saúde.

Para estimar a prevalência dos padrões de consumo de álcool da população geral idosa, o grupo da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp) fez uma análise dos dados da linha de base do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), com uma amostra de 5.432 brasileiros acima de 60 anos. Também se buscou avaliar os padrões de consumo de álcool em idosos da atenção primária (primeiros atendimentos médicos). Para isso, foram utilizados dados da triagem inicial do ensaio clínico realizado em sete Unidades Básicas de Saúde (UBS) com 503 participantes.

Em ambos os estudos foram identificados fatores sociodemográficos, comportamentais e de saúde associados aos diferentes padrões de consumo. A ingestão de álcool foi mais comum na região Sudeste e na atenção primária, quando comparada à população idosa geral. Em ambos os grupos estudados (idosos em geral e atenção primária), os homens relataram maior consumo de álcool (tanto em quantidade quanto em relação ao consumo no padrão “binge”), bem como os mais jovens e aqueles com maior escolaridade.

Financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) por meio do projeto temático “Intervenções inovadoras frente a problemas relacionados ao consumo do álcool no Brasil: busca de novas abordagens para uma antiga questão de saúde pública”, a pesquisa e seus desdobramentos foram recentemente publicados nos periódicos científicos Substance Use & Misuse e BMJ Open.

De acordo com Tassiane de Paula, primeira autora dos artigos, “é fundamental entender esse problema para propor estratégias para redução do consumo de álcool entre os idosos”.

Intervenção de baixo custo 
O grupo desenvolveu uma proposta de Intervenção Breve para Idosos (IBI) e elaborou um protocolo para testar a efetividade dessa intervenção na atenção primária, administrada por agentes comunitários de saúde, com apenas 6% de recusa entre os primeiros 80 participantes recrutados.

“As evidências sugerem que intervenções breves são eficazes na redução do consumo de álcool entre adultos mais velhos. No entanto, a eficácia dessas intervenções quando realizadas por agentes comunitários de saúde em um ambiente de atenção primária à saúde é desconhecida. Até onde sabemos, este será o primeiro ensaio clínico randomizado a examinar isso”, escreveram as pesquisadoras no artigo publicado.

Duzentos e quarenta e dois indivíduos considerados bebedores de risco serão recrutados e alocados aleatoriamente para receber o atendimento usual (lista de espera) ou atendimento usual mais uma intervenção breve realizada por agentes comunitários de saúde treinados em UBS que fazem parte do SUS (Sistema Único de Saúde).

O estudo Alcohol and ageing: rapid changes in populations present new challenges for an old problem pode ser lido em aqui.

E o artigo Brief interventions for older adults (BIO) delivered by non-specialist community health workers to reduce at-risk drinking in primary care: a study protocol for a randomised controlled trial está disponível em aqui.

Com informações da Assessoria de Comunicação da Unifesp.

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Medo de voltar a frequentar eventos sociais? Especialistas dão dicas para respeitar seu ritmo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/10/09/medo-de-voltar-a-frequentar-eventos-sociais-especialistas-dao-dicas-para-respeitar-seu-ritmo/#respond Sat, 09 Oct 2021 10:00:34 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/GUARUJA-1-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1196 Em setembro, uma pesquisa Datafolha mostrou que para 80% dos entrevistados a pandemia da Covid-19 está controlada em parte (71%) ou totalmente (9%). Essa percepção pela maioria da população ocorre em meio ao avanço da vacinação em todo o país e à queda do número diário de casos e de mortes pela doença.

Neste cenário, algumas cidades avaliam desobrigar o uso de máscaras e a volta dos torcedores aos jogos de futebol. Até as escolas de samba já discutem a organização do Carnaval 2022.

Ao mesmo tempo, especialistas alertam sobre os perigos de relaxar medidas de contenção contra o coronavírus num momento em que a Covid-19 ainda mata em média mais de 400 pessoas por dia. Nesta sexta (8), o país passou de 600 mil mortos pela doença.

Ou seja, os eventos estão sendo retomados, mas a pandemia ainda não acabou. Essa situação acaba gerando ansiedade e dúvidas sobre como voltar à “vida normal”.

A seguir, especialistas dão dicas para enfrentar esse período de transição sem desrespeitar seus limites.

Respeite a sua retomada
O comércio e os eventos culturais já estão funcionando de maneira cada vez mais próxima de como era antes do início da pandemia. No entanto, muitas pessoas ainda estão receosas de voltar a frequentá-los, mesmo tomando os devidos cuidados.

“Se você é uma delas, seja qual for o seu medo, não se sinta pressionado a nada. Cada um tem seu próprio ritmo. Só não permita que este medo te domine e te impeça de retomar sua vida. Se chegar a este ponto, será preciso buscar ajuda de um especialista”, aconselha Cristiane Romano, doutora em ciências e expressividade pela USP (Universidade de São Paulo).

“Todo esse cenário da pandemia nos fragilizou. Pessoas sem histórico de transtornos sendo acometidas por ataques de pânico e ansiedade. Quem já tinha algum tipo de doença psiquiátrica precisou de um suporte maior. Difícil ficar indiferente a tudo que ainda estamos passando”, afirma a psicóloga Flávia Teixeira.

Enquanto isso, tente adequar sua rotina e evite variar muito os horários de dormir. A privação do sono é um forte gatilho para transtornos de ansiedade. “Quando você não dorme o suficiente para ser produtivo ou trabalha até tarde da noite, prejudica a rotina do sono, desregulando seu relógio biológico. Isso resulta em uma extrema exaustão, pois o organismo, que já está habituado com um determinado padrão de sono, sofre um forte impacto, precisando de tempo e resistência para se adequar às mudanças. Sendo assim, quanto mais você praticar a rotina em casa, mais fácil será para retomar suas atividades de forma leve, natural, espontânea e sem traumas”, observa o psiquiatra Adiel Rios.

Desenvolveu algum hábito bom na quarentena? Mantenha 
Para enfrentar o isolamento social durante a quarentena, muitas pessoas desenvolveram hábitos para driblar o estresse.

Criou uma brincadeira diferente com seu filho? Mantenha-a quando estiver com ele. Teve ideia de fazer pequenos trabalhos de restauração ou pintura de móveis? Adote o hobby. Aprendeu a meditar para relaxar? Se funcionou para você, não pare mais.

“Poucas pessoas têm consciência que, para uma boa saúde mental, é preciso buscar atividades que proporcionem prazer e bem-estar. Portanto, se você descobriu algo interessante na quarentena que até te fez esquecer da pandemia por alguns instantes, não pare de praticar. Seja individualmente ou com alguém, realizar novas atividades mantém sua mente ativa e saudável. E isso é tudo o que você precisa neste momento”, pontua a psiquiatra Danielle Admoni.

Evite a automedicação e mantenha a terapia
Um levantamento feito pela Funcional Health Tech, empresa de inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde, a partir da coleta de informações de aproximadamente 1 milhão de brasileiros, mostrou que, entre janeiro e julho deste ano, o consumo de medicamentos para ansiedade depressão cresceu 14% em comparação ao mesmo período de 2020.

“Tomar antidepressivos ou ansiolíticos sem acompanhamento e, pior, mudar a dose ou interromper o uso sem orientação, é uma atitude irresponsável e perigosa. Se você está em um nível de ansiedade tão grande a ponto de recorrer a estes medicamentos, o melhor a fazer é buscar ajuda com um especialista, que irá te avaliar e indicar o tratamento ideal para sua condição”, afirma o psiquiatra Adiel Rios.

Segundo o médico, é preciso ficar atento a sintomas como tristeza profunda e contínua, apatia, desânimo, perda do interesse pelas atividades que gostava de fazer, pensamentos negativos (ideias de fracasso, incapacidade, culpa, pensamentos de morte) e alterações do sono e do apetite. “O tratamento pode envolver o uso de psicofármacos, associados à psicoterapia.”

Não faça do álcool a sua válvula de escape
Em maio do ano passado, uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) revelou alterações de comportamento na população brasileira durante as primeiras semanas do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Aumento de sintomas depressivos, de ansiedade e de consumo de cigarros e de álcool foram relatados pelos participantes

No ápice do isolamento social, com menos interação com colegas e familiares, foi mais fácil perder o controle do uso de algumas substâncias prejudiciais à saúde. “Se continuar com este hábito, terá uma conta alta em breve, aumentando ansiedade, ataques de pânico e outros sintomas psiquiátricos. Pior: o impacto cerebral deste uso abusivo pode perdurar por muito tempo, mesmo quando acabar a pandemia”, alerta a psiquiatra Danielle Admoni.

Entenda o que você pode e o que não pode controlar
Durante a pandemia, as pessoas sentiram que perderam o controle sobre suas vidas. “Neste momento de incertezas, tente basear suas escolhas em fontes confiáveis de informações e diretrizes, como instituições acadêmicas ou governamentais. Há decisões que não precisam ser tomadas com sofrimento, como voltar a trabalhar na empresa ou continuar em home office”, diz a psicóloga Flávia Teixeira.

“No entanto, às vezes é necessário simplesmente reconhecer que há situações na vida que não podemos controlar. Se você está com dificuldade em aceitar esta realidade, há formas de lidar com suas preocupações. Escreva em um caderno o que vem à mente, como se fosse um diário. Isso torna seu pensamento mais lento, focado e eficiente, trazendo novas perspectivas e maior clareza para assimilar determinadas questões”, sugere a educadora parental Stella Azulay.

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Constelação familiar é pseudociência e se baseia em positividade tóxica, diz psicólogo https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/17/constelacao-familiar-e-pseudociencia-e-se-baseia-em-positividade-toxica-diz-psicologo/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/09/17/constelacao-familiar-e-pseudociencia-e-se-baseia-em-positividade-toxica-diz-psicologo/#respond Fri, 17 Sep 2021 10:00:54 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/bba83037ce3cfd3dcc20bf7f0438410a223b387a233fc590d8ea6c890d47588d_5ad9346163856-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=1058 Constelação familiar é um tema capaz de gerar os debates mais acalorados entre os psicólogos que se opõem à prática e aqueles que a defendem.

Desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger (1925-2019) a partir dos anos 1970, é uma técnica que mistura elementos do psicodrama, como encenações dramáticas, gestalt-terapia, que enfatiza a responsabilidade do paciente, e religião do povo zulu (Hellinger viveu como missionário católico na África do Sul), que acredita na interferência de espíritos ancestrais.

Um dos objetivos da constelação é resolver conflitos familiares em poucas sessões. A técnica se baseia nas chamadas três leis do amor: a lei do pertencimento, que inclui no núcleo familiar parentes que morreram há muitas décadas ou mesmo bebês que foram abortados, a lei da hierarquia, na qual os pais estão acima dos filhos, e a lei do equilíbrio, que envolve o respeito entre todos esses membros.

Nessa dinâmica, o constelado pode descobrir que está repetindo o mesmo erro que um antepassado cometeu, por exemplo, e que precisa perdoar os familiares, mesmo em situações que envolvam violência e abusos sexuais.

A prática não é reconhecida pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) nem pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), mas é aceita e pode ser aplicada como terapia complementar à psicoterapia pelo SUS (Sistema Único de Saúde), além de fazer parte da grade curricular de algumas faculdades de psicologia. A constelação também é utilizada no sistema judiciário para ajudar a resolver conflitos familiares e casos de violência doméstica.

Para o psicólogo cognitivo Bruno Farias, a técnica se baseia em positividade tóxica. “Nas constelações, uma mulher nunca pode ter raiva do homem que praticou violência sexual. Ela é aconselhada a acreditar que o abuso foi atraído para a vida dela e que existe um aprendizado ali. Já vi casos em que o tal aprendizado era fazer a vítima ter humildade e aceitar que a violência sexual era a única forma que aquela pessoa tinha para mostrar que a amava”, afirma.

Farias diz que a terapia pode causar danos em pessoas que sofrem de depressão e que não há evidências científicas que comprovem seus benefícios.

Leia abaixo a entrevista com o psicólogo.

O que é constelação familiar? Como Bert Hellinger desenvolveu essa prática?
É uma pseudociência e uma pseudoterapia. Hellinger copiou técnicas das mais diversas escolas de psicologia, como a gestalt, terapia familiar e psicodrama. Criou uma teoria nonsense misturando pensamentos do povo zulu junto com misticismos e muitos preconceitos, como patriarcalismo, misoginia, homofobia e muito mais.

Hellinger acreditava que durante as sessões de constelações familiares era possível se conectar a um campo de energia e, por meio da intuição, dos participantes, esse campo revelaria segredos ocultos no sistema familiar do paciente constelado. Esses segredos geralmente eram abusos sexuais, abortos, adultérios e crimes. É algo tão bagunçado e sem sentido que chega a ser uma ofensa a nossa inteligência.

Por que muitos psicólogos são contra a aplicação da constelação familiar? 
Pelos danos profundos que as constelações causaram em vários pacientes. Estudos holandeses e alemães mostram que as constelações familiares são uma prática carregada de tantos preconceitos, misticismos e culpabilidade que a tornam perigosa.

Quais são os principais problemas relacionados à constelação familiar? 
Os problemas são infinitos. Se eu puder resumir seriam: total ausência de evidências científicas, total ausência de fundamentação, não existe nenhum estudo que corrobore a prática.

O modo como as constelações acreditam que podemos resolver nossos problemas está baseado em positividade tóxica. Por exemplo, nas constelações, uma mulher nunca pode ter raiva do homem que praticou violência sexual. Ela é aconselhada a acreditar que o abuso foi atraído para a vida dela e que existe um aprendizado ali. Já vi casos em que o tal aprendizado era fazer a vítima ter humildade e aceitar que a violência sexual era a única forma que aquela pessoa tinha para mostrar que a amava. É absolutamente repugnante.

A constelação familiar pode oferecer riscos se for substituída pela psicoterapia para pacientes que estão sofrendo de depressão grave, por exemplo?
Sim, absolutamente. Depressão é um quadro sério e muito delicado. Até mesmo profissionais experientes se veem desafiados frente a um caso de depressão. Imagina encaminhar um paciente para uma pseudoterapia que irá culpar a pessoa pelos seus problemas e irá fazê-la acreditar que a depressão foi causada pelo aborto cometido e escondido pela sua tataravó. Os danos são incalculáveis. Há estudos realizados na Holanda que mostram que as práticas das constelações familiares podem levar a ideação suicida.

Consteladores familiares prometem curas rápidas e definitivas, o marketing é muito bom. Acusam a medicina de ter pacto com a indústria farmacêutica e a psicologia de ser atrasada.

Quando apresentamos os danos que as constelações causaram em tantas pessoas, isso é o máximo que eles conseguem responder para o público: “procurem consteladores sérios e não existirá problema”.

Não estamos dizendo que as pessoas que acreditam em constelações familiares são seres humanos ruins, estamos dizendo que a prática em si é absurda.

Os livros do Hellinger são profundamente preconceituosos e sem nenhuma seriedade. Como é possível existir algum profissional sério que pratica uma pseudoterapia tão destrutiva?

A constelação familiar não é reconhecida pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) nem pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), mas é aceita e pode ser aplicada como prática complementar à psicoterapia pelo SUS (Sistema Único de Saúde). 
Não consigo encontrar explicação para isso. Profissionais da área da saúde, que tenham o mínimo de empatia pelos pacientes, se sentem de coração partido ao ver dinheiro público sendo desperdiçado com práticas tão controversas.

Essa prática também é usam por juízes para resolver conflitos familiares nos tribunais. Como psicólogo, o que você acha disso?
Abominável. Estamos empurrando uma prática sem nenhum fundamento para pessoas que se encontram em situações de alta fragilidade. O número de pessoas prejudicadas por conta disso é assustador.

Existe algum estudo científico que comprove o benefício dessa prática e que justifique ela fazer parte de grades curriculares de algumas faculdades de psicologia? 
Não, não existe nada. Consteladores familiares do Brasil estão invertendo o ônus da prova. Querem que nós, cientistas, apresentamos provas de que não funciona. Mas isso é absurdo. São eles quem precisam desenvolver estudos sérios e provar que a prática é eficiente e segura, mas até o presente momento, não existe nenhum estudo que possa ser levado a sério.

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Instituto de Psiquiatria da USP oferece tratamento de fotoneuromodulação para sintomas negativos da esquizofrenia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/07/30/instituto-de-psiquiatria-da-usp-oferece-tratamento-de-fotoneuromodulacao-para-sintomas-negativos-da-esquizofrenia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/07/30/instituto-de-psiquiatria-da-usp-oferece-tratamento-de-fotoneuromodulacao-para-sintomas-negativos-da-esquizofrenia/#respond Fri, 30 Jul 2021 10:00:34 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/neuro5-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=913 O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPq-HCFMUSP) oferece a pessoas diagnosticadas com esquizofrenia um tratamento gratuito com fotoneuromodulação.

O procedimento é indolor, realizado com o paciente acordado, feito com um aparelho que emite luz infravermelha e fica posicionado na cabeça, na região da testa, onde fica o córtex pré-frontal dorsolateral. Cada sessão dura 20 minutos –no total, são feitas 20 aplicações, de segunda a sexta.

“O objetivo é melhorar os sintomas negativos da esquizofrenia, que são aqueles relacionados com a capacidade de interação social, como a dificuldade de expressar emoções, apatia, problemas na fala e falta de prazer nas atividades cotidianas”, diz Leandro Valiengo, psiquiatra e coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação (SIN) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

A esquizofrenia é um transtorno mental grave caracterizado por distorções no pensamento e afeta cerca de 23 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).

A doença costuma se manifestar entre o fim da adolescência e o início da vida adulta. Com o tratamento adequado, as pessoas afetadas podem voltar a ter uma vida social e produtiva.

Valiengo explica que os sintomas positivos da doença são os mais conhecidos, como delírios (pensamentos que não correspondem à realidade, como a convicção de que está sendo perseguido) e alucinações (percepções falsas, como ouvir vozes).

“A medição consegue melhorar muito os sintomas positivos, mas não atua nos sintomas negativos”, afirma.

O tratamento com fotoneuromodulação faz parte de um projeto de pesquisa do SIN. “A fotoneuromodulação já foi usada em outras condições, mas nunca na esquizofrenia. Temos relatos principalmente em depressão, alguns relatos em casos de Alzheimer, e também foi usada de forma periférica para estimular os tecidos, o joelho, a articulação, para dor“, conta.

O aparelho utilizado nas sessões foi produzido por uma empresa brasileira e começou a ser usado no Hospital das Clínicas para tratar a dor crônica.

Esse equipamento é posicionado na região da testa para ativar as funções dessa área. “As ondas emitidas estimulam a atividade energética do neurônio”, afirma Valiengo.

“A região pré-frontal é a área mais desenvolvida nos humanos, é a grande diferença que temos de outros animais. Então muitas das nossas funções cognitivas superiores são associadas a essa área. Por exemplo, a função executiva, que envolve planejamento, organização, tomada de decisões, a memória de trabalho para execução de tarefas. Além disso, algumas áreas da região pré-frontal estão associadas à personalidade e à inibição de comportamento, o seu freio social”, revela.

O mau funcionamento do córtex pré-frontal dorsolateral leva aos sintomas negativos da doença.

O psiquiatra Leandro Valiengo faz uma simulação de como o aparelho é posicionado na cebeça do paciente (Divulgação)
O psiquiatra Leandro Valiengo faz uma simulação de como o aparelho é posicionado na cabeça do paciente (Divulgação)

“Para que a gente possa observar a evolução nessa área, a pessoa vai fazer três ressonâncias magnéticas: a primeira antes de começar o tratamento, a segunda no meio e terceira no final”, diz.

Além dos exames de imagem, os pacientes serão acompanhados por um psiquiatra e uma neuropsicóloga.

Os pacientes serão chamados duas semanas após o fim do tratamento e, novamente, depois de dois meses para que os médicos possam avaliar o progresso.

Para participar é preciso ter entre 18 e 55 anos, ser diagnosticado com esquizofrenia e estar com a medicação psiquiátrica estável.

Segundo Valiengo, não há efeitos colaterais nem contraindicação. “Só não é possível realizar em pacientes que têm contraindicação à ressonância, como placa de metal na cabeça, marcapasso cardíaco, ou uma fobia relacionada ao exame”, afirma.

Neuromodulação no Hospital das Clínicas
Onde Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, rua Doutor Ovídio Pires de Campos, 785, 2º andar, Cerqueira César, na região central de São Paulo
Quando 20 sessões seguidas, de segunda a sexta, em dias úteis (duração de um mês)
Inscrição a triagem é feita exclusivamente pelo email pesquisa.esquizofrenia@gmail.com
Preço gratuito

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Pandemia desencadeia e intensifica fobias sociais e transtornos de ansiedade https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/07/08/pandemia-desencadeia-e-intensifica-fobias-sociais-e-transtornos-de-ansiedade/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/07/08/pandemia-desencadeia-e-intensifica-fobias-sociais-e-transtornos-de-ansiedade/#respond Thu, 08 Jul 2021 11:00:35 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/a5fcbeabda913ea815fb23607c19ce42c959de46c8c2ce2c8180ca68e64bad74_5af4da6cc7791-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=870 O isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, que afeta toda a população mundial desde março de 2020, tem alterado a forma como as pessoas interagem umas com as outras.

Mesmo para aqueles que já tomaram as duas doses da vacina, os médicos recomendam que os encontros presenciais continuem sendo evitados e que o distanciamento de dois metros e o uso de máscaras sejam mantidos. Essas medidas são importantes para diminuir a transmissão do coronavírus e erradicar a doença.

A restrição nas interações sociais, que é motivo de tristeza para muitos, também pode ser um alívio para aqueles que preferem um estilo de vida mais recluso.

“O confinamento gera grande sofrimento para a maioria das pessoas, mas algumas se sentem confortáveis com o isolamento e temem como vai ser a interação com os demais após essa fase”, explica a psicóloga clínica Karin Kenzler.

Esse desconforto com a expectativa de voltar a uma rotina pré-pandemia pode ser sinal de algum distúrbio, como transtorno do pânico, síndrome da cabana, TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e agorafobia, ressalta Karin. Todos têm ligação com a ansiedade, com a vontade de se afastar de lugares cheios e com a preocupação de ter que lidar socialmente com muitas pessoas.

O pânico é um tipo de transtorno de ansiedade, caracterizado por crises inesperadas de medo, insegurança e desespero, aparentemente sem qualquer risco real. Essas crises provocam sintomas físicos, como falta de ar, taquicardia, suor excessivo, dor de barriga, náusea, tontura, sensação de morte iminente e boca seca, e também psicológicos, como medo de morrer, medo de enlouquecer, sensação de irrealidade e distanciamento social.

A síndrome da cabana não é considerada uma doença, pois se trata de um fenômeno natural do corpo que não está acostumado a mudanças bruscas na rotina ou no comportamento, observa a psicóloga. Ela se manifesta quando a pessoa precisa se adaptar a uma nova realidade de forma rápida e, em geral, sem que tenha total controle da situação, causando angústia, irritabilidade, inquietação, distúrbios do sono e de alimentação, dificuldade de concentração e desconfiança das pessoas.

Já o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), distúrbio psiquiátrico de ansiedade identificado pela presença de crises recorrentes de obsessões e compulsões, está relacionado com a necessidade de controle do ambiente, diz Karin. Nesse caso, a preocupação da pessoa é maior com o fim da quarentena e a retomada da vida menos controlável fora de casa.

A agorafobia é o medo de ter crises de ansiedade, com sintomas parecidos aos de um ataque de pânico, mas em locais públicos ou em lugares em que o atendimento médico seja dificultado, como em túneis e elevadores. “A pandemia pode propiciar o surgimento desse transtorno em pessoas que já apresentam um perfil ansioso, por ser um período de muitas mudanças causadoras de estresse e situações difíceis, como perda do emprego, incerteza sobre o futuro, medo do contágio pessoal ou de familiares e da morte”, afirma Karin.

De acordo com a psicóloga, algumas práticas ajudam a controlar a ansiedade e, consequentemente, diminuem as chances de fobias e transtornos se intensificarem. Porém, se os sintomas persistirem, é importante buscar ajuda de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra.

Veja algumas dicas abaixo:

  • Criar uma rotina para organizar a mente ao longo do período de isolamento social. Definir horários de trabalho, intervalos, refeições e também ter momentos de lazer e descanso
  • Praticar exercícios físicos para combater o estresse, a ansiedade e a depressão. A atividade física também melhora a autoestima, a qualidade do sono e a concentração
  • Evitar o excesso de informações sobre a pandemia que podem causar ansiedade e angústia. Para se manter bem informado, basta acompanhar as principais notícias de veículos de imprensa confiáveis
  • Limitar e definir horários para entrar nas redes sociais, o que também evita o excesso de informação. O tempo online aumentou muito na quarentena e também pode ser causador de estresse e ansiedade
  • Ao se sentir muito estressado, com medo excessivo e ansioso, procurar se desconectar um pouco da realidade com atividades capazes de acalmar a mente por alguns instantes
  • Ler e assistir a filmes e séries ajuda a relaxar, já que acompanhar novas histórias nos transporta para outros lugares e vivências, sendo uma forma de “viajar” em tempos de quarentena
  • Atividades como pintar, dançar, cantar, tocar algum instrumento musical e escrever são formas de expressar o que se sente e pode ajudar a diminuir a angústia e o medo
  • Praticar exercícios de respiração, com técnicas simples, pode ajudar a lidar com a ansiedade

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Leitores escrevem sobre os desafios de manter a saúde mental na pandemia https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/leitores-escrevem-sobre-os-desafios-de-manter-a-saude-mental-na-pandemia/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/leitores-escrevem-sobre-os-desafios-de-manter-a-saude-mental-na-pandemia/#respond Tue, 30 Mar 2021 22:00:27 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/IMG_20200328_161622_166-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=764 “O mundo tá lá. A gente que tem que se cuidar pra poder fazer parte dele”, escreveu a leitora Paula Cunha, 39, de São Paulo (SP). Ela está entre os leitores que enviaram relatos sobre como têm se sentido durante a quarentena provocada pela Covid-19.

Há pouco mais de um ano, em 11 de março de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) decidiu classificar a disseminação do coronavírus Sars-CoV-2 como uma pandemia.

No último dia 12, o blog Saúde Mental pediu para os leitores contarem como tinham sido afetados emocionalmente e o que estavam fazendo para superar os desafios durante esse período. Alguns também encaminharam fotos tiradas durante o isolamento social. Leia abaixo os dez depoimentos selecionados.

Adriana Moretta, 56, Rio de Janeiro (RJ)

Sou psicoterapeuta, moro e trabalho no Rio de Janeiro. No início de março de 2020 me mudei e, como atendia em casa, transferi também meu local de trabalho para o novo apartamento. Em poucos dias arrumei tudo e me preparei para recomeçar em novo cenário. Foram apenas 10 dias de atendimento presencial até que fosse decretado o isolamento. Os primeiros dias foram de apreensão: e agora? Os pacientes aceitariam as sessões online? Qual a melhor plataforma a usar? O trabalho a distância seria eficaz?

Em poucas semanas percebemos que estávamos embarcando em uma situação de longo prazo. Minha associação de terapeutas organizou um atendimento gratuito, de emergência. Entrei como voluntária. Passei a trabalhar mais horas do que nunca. Atendi pessoas no Japão, EUA, Portugal e em outras cidades do Brasil. Antigos clientes voltaram à terapia. Muitos novos chegaram. Todos muito angustiados, alguns deprimidos, carentes, solitários, ansiosos.

No meio desse turbilhão, eu mesma voltei a fazer terapia. Como dar conta de tanto sofrimento? Como acolher meus próprios medos e apreensões e manter o equilíbrio para poder apoiar tantas pessoas ao mesmo tempo? Deixei de tirar férias, engatei em um ritmo frenético tentando fazer minha parte em um momento de caos. Peguei Covid-19 do meu marido, que precisou voltar a trabalhar presencialmente. Só tive sintomas leves e não deixei de trabalhar um só dia.

Até que a coluna travou de vez e me obrigou a parar. Tive que repensar o frenesi em que tinha embarcado, na minha ânsia de ajudar. Encerrei o atendimento voluntário. Espacei meus horários. Parei de receber pacientes novos. Fiz RPG [reeducação postural global] e voltei ao pilates via Zoom. Precisei cuidar de mim.

Lembrei da máxima que sempre repito para meus clientes sobre a “máscara de oxigênio de avião”: no início do voo sempre ensinam que é preciso colocar a própria máscara antes de ajudar os outros. Acatei minha própria lição e desacelerei.

Continuo trabalhando muito, mas me cuidando também. Quero chegar viva e inteira ao final desde enorme desafio.

A leitora Adriana Moretta, 56, que mora no Rio de Janeiro (Arquivo Pessoal)
A leitora Adriana Moretta, 56, que mora no Rio de Janeiro (Arquivo Pessoal)

Paula Cunha, 39, São Paulo (SP)

Minha saúde mental nunca foi meu ponto forte. Sou ansiosa e, dependendo da situação, posso ficar superansiosa, angustiada ou chateada mesmo. Mas vinha aguentando bem 2020. A ideia de ficar em casa pra me proteger e proteger os que amo do vírus me deu forças pra passar pelo isolamento. Mesmo quando algumas atividades foram liberadas, continuei em casa com minha irmã e meus cachorros esperando o momento que me sentisse mais segura pra sair.

Minha rotina era simples: acordava, tomava café e começava meu trabalho. Tudo dentro do meu quarto, que é o lugar que me sinto melhor em casa. Durante todo o ano de 2020 passei a maior parte do tempo no ambiente que me sinto melhor porque sabia que isso era importante pra mim. Durante esse ano parei bastante e tentei perceber como me sentia fazendo as coisas. Evitar o estresse e a angústia eram minhas prioridades. Comecei a pedir muito delivery de comida porque a vontade de cozinhar era cada dia menor, mas foi bom porque descobri novos lugares de comida saudável e pude manter minha alimentação certinha, gosto de comer bem. Mas atividade física, não. Deus, como detesto qualquer tipo de ginástica, pedalada, caminhada, alongamento.

Contava isso pros meus médicos (foram muitas consultas online, no começo detestava, mas depois passei a gostar) e as opiniões eram divididas: por que você não vai dar uma caminhada na avenida Sumaré? Eu vim do interior, não consigo me imaginar respirando no meio da poluição dos carros. Outros mais empáticos: você tem que fazer uma atividade que te dê prazer. É isso, o problema é que nenhuma atividade física me traz satisfação, então meu corpo dói por passar muito tempo na mesma posição um dia após o outro.

Também tive que repor vitamina D porque me tornei uma vampira sem a luz do Sol. Em momentos mais tensos tiveram que examinar meu coração porque achei que estava com taquicardia, mas era só ansiedade.

Ser ansioso é ver seu corpo te pregando peças. Pode ser uma doença, um sintoma ou “só” ansiedade, mas como saber? Na dúvida, vou logo investigar o pior. Inúmeras vezes cogitei ter Covid, mas não cheguei a fazer nenhum teste porque os médicos não acharam necessário. “Você nem sai de casa.” “Paula, isso é reação alérgica.” Sofri, mas ter uma doença mental é se acostumar a conviver com o medo.

Meus alívios foram um cachorro bebê que é o mais novo membro da família e me fez ficar bem submersa em suas estripulias. A companhia da minha irmã, que é uma amigona pra todas as horas. Papos online que me davam alívio mas, infelizmente, passava logo. Muito streaming, reality show, pipoca e guaraná (zero) e, claro, fé de que dias melhores viriam. Nas poucas vezes que saí na rua pra ir ao laboratório, ao mercado ou à farmácia, ficava encantada com a natureza: o vento, as flores, as árvores. O mundo tá lá. A gente que tem que se cuidar pra poder fazer parte dele.

Jimmy Astley, 32, Recife (PE)

A primeira vez que ouvi falar de coronavírus foi em fevereiro de 2020. Eu morava em Lima, no Peru, e lembro de comentar com amigos sobre o novo vírus que estava circulando na China como se fosse algo que nunca fosse nos afetar.

Eu tinha uma viagem marcada para Recife, minha cidade natal, para o dia 19 de março. No dia 13, acordei com uma mensagem do meu irmão dizendo que meu pai havia falecido.

Como eu vinha para o Brasil por dois meses e não andava muito bem economicamente, devolveria o meu apartamento e deixaria minhas coisas lá com amigos até a minha volta.

Após o choque da notícia, caiu a ficha de que eu teria que fazer minha mudança naquele dia, e ao mesmo tempo tentar adiantar meu voo para chegar ao enterro do meu pai no dia seguinte.

Pedi ajuda a meus amigos e quinze deles vieram encaixotar toda a minha casa enquanto eu ia para o escritório da companhia aérea, já que era impossível o contato por telefone ou internet. Foi lá que eu escutei o boato de que fechariam as fronteiras. Isso explicava a dificuldade de contato com a empresa e a aglomeração no local. Por sorte, um dos meus irmãos conseguiu acessar o site no fim da tarde e alterar a minha passagem.

No dia seguinte, no cemitério, um parente me cumprimentou com o cotovelo. Achei um grande exagero da parte dele.

Poucos dias depois, todas as fronteiras do mundo fecharam e eu estava de quarentena em um apartamento minúsculo com a minha mãe. Após seis anos morando fora, voltei a um Brasil difícil de reconhecer.

Eu já não estava bem emocionalmente no meu último ano em Lima. Vim ao Brasil para tentar melhorar meu ânimo. De repente me vi tendo que enfrentar a perda do meu pai, o luto da minha mãe, um tremendo choque cultural reverso, as dificuldades do confinamento, o medo e a grande incerteza que a pandemia gerou em todos nós.

Minha irmã percebeu o que estava acontecendo e ofereceu pagar meu tratamento com um psiquiatra. Também comecei a ser acompanhado por um psicólogo e a tomar dois, depois quatro, até seis comprimidos antidepressivos por dia. Tinha pensamentos suicidas quase o tempo inteiro. Eu só não me matei porque pensei que seria demais para a minha mãe e meus irmãos perderem dois seres queridos de uma vez. Semanas depois, era comum ver na TV matérias sobre famílias dizimadas pela Covid. Logo decidi me alienar das notícias para tentar sobreviver.

Segui o tratamento durante todo o ano de 2020. Já não tomo remédios, mas continuo na terapia. Tive a felicidade de adotar um cachorro e hoje moro só com ele. Não voltei para o Peru. Agora que vejo este mês de março ser uma reprise do anterior, estou isolado e com medo. Não quero voltar a ficar tão deprimido como estava há um ano.

A depressão pode ser definida como a perda da esperança. E no mundo de hoje, está bem difícil sonhar com dias melhores.

O leitor Jimmy Astley, 32, morador do Recife (Arquivo Pessoal)
O leitor Jimmy Astley, 32, morador do Recife (Arquivo Pessoal)

Carla Vitor,  49, São Paulo (SP)

No início da pandemia e do confinamento, achei que ia enlouquecer por ter de ficar longe de amigos, trabalho, lugares e atividades que gostava. Ficava revoltada com a situação política do país, o negacionismo, as consequências que começamos a ter com o não cuidado do vírus, só que essa revolta me auxiliou muito, pois passei a ter interesses por assuntos que antes eu não me importava.

Voltei a ter o hábito de leitura, só que para assuntos voltados a política, história do Brasil, economia, desigualdades e com o tempo fui recompondo minha sanidade mental com os novos conhecimentos.

Me adaptei ao home office, às chamadas de vídeo, mantive conversa com amigos, fiz cursos gratuitos em áreas que gosto.

Moro na periferia de São Paulo, na zona leste, na rua de uma comunidade. Minha casa é pequena, um cômodo com banheiro que divido com meu filho, e há outra casa de dois cômodos no quintal, onde moram minha mãe, irmã e cunhado. Porém, por sermos três empregados na família, temos a possibilidade de manter internet, alimentação e algumas regalias que outras pessoas da minha rua não conseguem.

Isto também foi um fator muito grande para que tivesse minha saúde mental regular, era grata por ter a possibilidade de ter entretenimento. Outra questão é o fato de eu ter um quintal onde posso tomar sol e circular sem ficar presa dentro da minha casa.

Só que as dificuldades das pessoas me angustiavam, me entristeciam de maneira profunda. Minhas dores aliviam quando escrevo, mas ultimamente estou com muitas dificuldades até para escrever.

Acredito muito que a proximidade com minha família tem auxiliado nesse processo, ficamos mais unidos e passamos a ter atividades juntos dentro de casa como cozinhar, limpar e conversar.

Me conectei muito aos meus cachorros e o amor deles tem sido essencial neste momento. Nesse último ano um deles partiu devido a idade e eu pude estar próxima.
Apesar de tudo, passei 2020 bem mentalmente.

Desde o inicio de 2021, meu trabalho aumentou muito e tem exigido muito de mim com horas extras. Passei a perceber que meu coração disparava, sentia angustia.
Escrevo isso em 21 de março e, nessas três últimas semanas, a quantidade de pessoas conhecidas infectadas passou a me assustar. O ápice foi quando várias pessoas da minha família por parte de pai ficaram doentes. Nesta semana, minha tia e meu primo morreram.

Meu coração então acelerou, a angustia triplicou, minha respiração encurtou e após um ano de confinamento tive minha primeira crise de ansiedade da vida, foi assustador, estou buscando ajuda profissional e isso meu padrão financeiro não permite muito.

Esse cenário de horror, pior que do início, explodiu dentro de mim e tudo que guardei por um ano veio à tona nesta semana. O que está me sustentando nesses dias é o amor da família e dos amigos e o isolamento das noticias.

Luiz Thadeu Nunes e Silva, 62, São Luís (MA)

Em março de 2020, estava em uma viagem pela Europa quando o mundo tomava conhecimento do flagelo que vinha de Wuhan, na China. Conheço a China, estive muito próximo da província de Hubei, onde fica Wuhan.

Em 2003, após sofrer um grave acidente de carro, toda minha vida mudou. Estava em um táxi no interior do Rio Grande do Norte, numa BR, quando o motorista atendeu o celular, perdeu a direção do carro e batemos de frente com um caminhão. Tive fratura exposta de fêmur e minha vida mudou para sempre. Foram quatro anos preso a leitos hospitalares, 43 cirurgias, cadeira de roda e adaptação às muletas.

Quando aprendi a andar de muletas, meus filhos foram fazer intercâmbio em Dublin, na Irlanda, e me convidaram para visitá-los. “Não tenho segurança de atravessar a estreita rua em frente ao nosso condomínio, imagina atravessar o Atlântico.”

Após muita insistência, embarquei para o Velho Mundo. Nesta viagem pisei, com minhas muletas, em oito países europeus.

Em dez anos visitei 143 países em todos os continentes, e entrei para o “Livro dos Recordes Brasileiros” como o brasileiro com mobilidade reduzida mais viajado do mundo.

Em março de 2020 foi minha última viagem. De lá para cá estou em casa, recluso, viajando no inesgotável baú das memórias, livros e vídeos.

Durante a pandemia comecei a escrever com frequência. Hoje publico crônicas e artigos em jornais de São Luís do Maranhão, Teresina e Natal. Me reinventei.

Faço meditação, que aprendi na Índia e no Nepal para acalmar a mente, convivo com dor, e optei por não tomar fármacos. A meditação é um grande apoio, alivia minha ansiedade e dislexia, ajuda a acalmar minha mente.

Crio três buldogues ingleses, amigos e companheiros, me ajudam a passar o tempo. Tenho oito passagens aéreas internacionais compradas, pagas e mais de uma vez adiadas. A meta é visitar os 193 países. Dentre as viagens, duas são de volta ao mundo.

Meu slogan de vida é “Terra, aproveite enquanto está em cima dela”.

A pandemia do coronavírus me assusta e muito. Perdi amigos e um cunhado, mas procuro me guardar e redobrar as atenções para não fritar os miolos.

Para quem vivia no mundo, aprendi a viver em casa. Vivo tempos sabáticos.

Luiz Thadeu Nunes e Silva, 62, de São Luís, no Maranhão (Arquivo Pessoal)
Luiz Thadeu Nunes e Silva, 62, de São Luís, no Maranhão (Arquivo Pessoal)

Marcelo Rebinski, 50, Curitiba (PR)

Essa pandemia caiu como um verdadeiro tsunami em minha vida. Desde 20 de março de 2020 que minha saúde emocional sofre um reverso dia a dia.

A angustia, a ansiedade, o medo e o pânico tornaram-se uma constante. O forçado isolamento social que priva da rotina diária do trabalho, do contato social e pessoal, para mim, parece ser pior que receber um diagnóstico de uma doença crônica incurável.

Minha saúde emocional nunca foi das melhores. Depressivo e ansioso, sempre precisei da rotina diária. Até mesmo, porque minha profissão de professor favorece e me deixa suscetível a ser ansioso.

A rotina, antes da pandemia, aliviava a minha ansiedade. Apesar da rotina diária ser cansativa, cumprir regras e horários estabelecidos como: sair para trabalhar, ter um horário para almoçar, para voltar para casa, para jantar, era a melhor coisa. Hoje, me encontro tomando medicamentos além do que tomava. Dobrei a dose e mesmo assim não faz efeito.

Essa pandemia não cria somente danos físicos, cria danos  psicológicos irreversíveis. Não durmo e não me alimento como deveria ser. Poucas horas de sono, das quais somente pesadelo, e uma parca alimentação. Tudo para mim virou de cabeça para baixo. Parece que vivo a expressão do quadro “O Grito”, de Edvard Munch. Só solidão, melancolia, ansiedade e medo.

Rafael Santos, 30, São Paulo (SP)

Em 16 de março do ano passado, estava prestes a completar 20 e poucos dias na posição de estagiário de uma grande instituição quando foi decidido que não faríamos expediente presencial. Esse era meu segundo estágio durante o curso. Estava frequentando o antepenúltimo semestre do curso de direito e me preparava para prestar o Exame da Ordem da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no início do 2º semestre. Minha expectativa, em âmbito pessoal e profissional, era colar grau e terminar o curso habilitado para iniciar minha carreira.

Passados meses e dias que se parecem muito uns aos outros, tudo que estava planejado se desmoronou. Aulas online, parentes falecendo, exames suspensos, amigos e conhecidos adoecendo, rotina de trabalho incômoda pela mudança brusca, rompendo laços com as pessoas que se recusam a reconhecer o óbvio, incertezas com as condições de ingresso no mercado de trabalho (agravadas pelo fato de que “sem a OAB” um bacharel de direito não tem as mesmas possibilidades), distância física de parentes e amigos queridos, frustração com a deterioração do tecido social que nos une enquanto integrantes de uma sociedade (afinal, presidente e ex-presidente debatem o formato da Terra…). Como conversar com quem defenda cloroquina, mas tenha medo de vacina?

Saúde mental é uma preocupação que fica quase escondida entre as prioridades (alguém de nós tem de ter uma prioridade), ali, perdida entre outras que parecem mais urgentes do ponto de vista objetivo. Mas como ter saúde mental quando eu tenho dificuldade de conviver com pessoas que se perderam na inundação causada pelo excesso do fluxo de informações do “zapzap”? O dano psicológico que isso causa é evidente, até pra quem tenta estar bem informado!

Além da perda de pessoas próximas e queridas, o que já é doloroso por si. Ainda mais quando em uma conversa surge o questionamento: “mas será que era Covid-19, mesmo?”. Ouvi essa pergunta em junho de 2020.

Renata Silva, 23, Rio de Janeiro (RJ)

Sem dúvidas, 2020 foi o pior período da minha vida e 2021 também tomará os mesmos rumos. É muito difícil, para mim, que convivo com a ansiedade desde criança, fase esta da minha vida que me traz algumas memórias difíceis, pois era acometida por ataques de pânico, controlar minhas angústias neste momento.

As incertezas que a pandemia trouxe para minha vida, seja na questão de apreensão, se vou conseguir um emprego, pois estou no último período da faculdade ou, ainda, se as pessoas que amo conseguirão sair desse “filme de terror” vivos.

Todo dia acordo asfixiada só de imaginar que a miséria, o desemprego, a doença e a intolerância imperam agora Brasil. Angustia-me ver que muitos parecem estar acomodados com a situação do país, e que, embora os recordes de mortes sendo superados a cada dia, muitos preferem pensar apenas em si e no seu conforto, esquecendo-se das tamanhas dificuldades que aquele outro, seu vizinho, por exemplo, está passando.

Enfim, todos esses pensamentos de desesperança me sufocaram e a ansiedade acabou se transformando em depressão. Só quem já passou por essas situações relacionadas à saúde mental sabe o quão é difícil superar. É sempre uma luta diária.

Após um ano de pandemia, estou tentando aproveitar este instante-já, como bem diz Clarice Lispector. Percebi, no entanto, que não seria possível superar sozinha. Procurei ajuda e atualmente a situação tem se encaminhado um pouco melhor. Uma vez por semana tenho realizado terapia para me auxiliar nesse processo de autoconhecimento. Ainda precisei superar o preconceito de procurar um psiquiatra.

Após quatro meses de tratamento, sinto que tenho resgatado minha pulsão de vida e tenho saído da inércia. Tentando me reinventar. Superei minha timidez e criei meu canal no YouTube sobre livros e, ainda, resolvi me voluntariar no  CVV (Centro de Valorização da Vida) para ajudar aqueles que, às vezes, só querem alguém para escutá-los e compartilhar suas angústias ou até mesmo suas alegrias.

Cada dia para mim está sendo uma superação nesta luta contra ansiedade, depressão e coronavírus.

Silvia Wedekin, 57, Buritama (SP)

Lembro bem do início da pandemia. Estava levando minha filha para viajar no dia 16 de março de 2020, fazer pós em São Paulo. Em Rio Preto, decidimos que ela não iria mais por não ser o melhor momento.

Sou médica, fizemos uma reunião na unidade de saúde para traçarmos metas para gestão da pandemia. Participei ativamente e tive a ingenuidade de achar que talvez, se fizéssemos tudo certo, “passaríamos batido”.

Comecei a fazer videos educativos e acessíveis, colocar no Facebook e no Instagran, orientando a população. Passava nos bancos, lotéricas e muitas vezes gritava da janela do carro ou descia pedindo o distanciamento e uso de máscaras. No começo havia um descrédito da doença e sua gravidade pela população, acreditavam até que seria uma conspiração chinesa.

Com o tempo me tornei referência na cidade, mas muitos me criticavam e me chamavam de “a neurótica da Covid.” Estudava todos os protocolos que saiam, ensinei confecção das máscaras certas, higienização das mãos, participei de palestras em igrejas, tentei o máximo educar a população de maneira clara.

Em junho peguei Covid. Houve crítica como se eu não pudesse pegar justamente por defender as regras, mas trabalhando na saúde é difícil não adoecer.

Passei a ter insônia, angústia, choro fácil, tive dores articulares e leve perda cognitiva. Comecei a escutar o podcast Fator Humano, que me ajudou. Tudo foi ficando mais intenso, passamos a ter mortes de pessoas conhecidas, pois aqui a cidade é pequena.

Em um vídeo, em que eu dizia que o tratamento precoce não funcionava, quase me lincharam pelo Facebook. Apaguei o vídeo e meio que desisti.

Não faltam informações, mas muitos têm preguiça de pensar por si, negam a realidade e não há uma liderança governamental apropriada. Tudo é tão surreal.

Agora posto frases de impacto e tomo antidepressivo. Fui vacinada e me senti um pouco constrangida por esse privilégio. Tenho muita tristeza, tento manter a fé. Para os profissionais de saúde é extremamente difícil. Jamais seremos os mesmos.

Jessica Aquino, 31, Lorena (SP)

Sinceramente, já não sei mais quem sou. Lembro quando, inocentemente, eu achava que o coronavírus era algo impossível de “atravessar milhares de quilômetros” e chegar ao Brasil. Impossível imaginar que chegaria ao estado de São Paulo. Muito mais impossível ainda acreditar que chegaria a Lorena, minha cidade.

Eu nunca havia escutado a palavra “quarentena” e entendido seu real significado. Eu só havia lido essa palavra no antivírus instalado no meu computador e funcionava assim: toda vez que o antivírus encontrava um vírus, removia-o para um lugar chamado “quarentena” e ali ele ficava. Ficava… Ficava… Ficava… Até acontecer sabe-se lá o quê com ele.

E minha vida foi movida para a quarentena e lá tem permanecido… Permanecido… Permanecido… Até acontecer sabe-se lá o quê com ela.

Eu, que já havia passado pela depressão x ansiolíticos entre os anos de 2017 e 2018, confesso que no começo disso tudo fiquei com medo de voltar anos atrás e reviver tudo novamente. Hoje, já não sei mais o que sinto.

Meu humor já não é mais o mesmo há tempos, meus pensamentos tampouco. Já não tenho mais tantos sonhos assim e todas as minhas metas, a cada notícia que vejo ou leio, se vão juntamente com o meu bom ânimo ou a minha fé no futuro.

Confesso que eu tinha feito tantos planos para 2020: planos profissionais, acadêmicos e pessoais nos quais todos eles já não fazem sentido, já não rondam meus pensamentos e meu coração. Planos, sonhos, metas e vontades que já não vivem mais em mim. Meus pensamentos por muitas vezes me machucam, me entristecem, me trazem medo e agonia, me fazendo cair numa espiral de que tudo isso que vivemos nunca terá fim.

A pandemia me fez apática: perdi a sensibilidade de me importar com aquela pessoa que faz tudo errado e adoece; perdi a singeleza em me importar com quem duvida da doença e zomba de quem faz o certo. Pessoas que se aglomeram, se contaminam e adoecem? Poxa, que pena. Ah, e aqui contém muita ironia.

Já teve gente dentro da minha casa me chamando de paranoica e, sinceramente, eu não ligo mais. Hoje, já me encontro afastada de muita, mas muita gente que fazia parte do meu círculo de amizades e que tenho observado ao vivo e pela internet vivendo como se não houvesse pandemia, peguei nojo. Nojo de gente que acha que o lema “só se vive uma vez” é palco para ser idiota, irresponsável e mau caráter.

A pandemia veio e me machucou por dentro. Me fez ter sentimentos que nunca me orgulhei em sentir: raiva, ódio, desprezo, nojo e apatia. Me tornei a pessoa que critica demais, a pessoa que se importa de menos e, às vezes, minhas palavras soam grossas ou violentas. É um sentimento pior do que o outro, mas, do fundo do coração, eu não vou me culpar por sentir. Talvez eu precise senti-los para que eu possa aprender a dominar meus pensamentos, de forma sóbria, lúcida e consciente, mas, vou ser sincera com você: dói, tá?

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TV Cultura estreia série sobre o amor com o psiquiatra Flávio Gikovate https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/03/02/tv-cultura-estreia-serie-sobre-o-amor-com-o-psiquiatra-flavio-gikovate/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/03/02/tv-cultura-estreia-serie-sobre-o-amor-com-o-psiquiatra-flavio-gikovate/#respond Tue, 02 Mar 2021 10:00:19 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/1b1ab3c672490a0d8a48ae25751d5a408291b31639981dd2f8070a110307a2c6_5ae08ce2e7ba4-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=692 A TV Cultura estreia nesta quinta-feira (4/3), às 19h30, a série documental +Amor com o psiquiatra Flávio Gikovate, morto em 2016.

Com oito episódios –que serão transmitidos sempre às quintas, no mesmo horário–, o programa traz debates sobre paixão, atração entre opostos, idealização do amor, ciúme e finais felizes.

A série será conduzida pelo jornalista Lauro Henriques Jr. e terá gravações de Gikovate, com respostas sobre os temas abordados.

O primeiro episódio reflete sobre o que é o amor. Além de tentar entender o que leva uma pessoa a se apaixonar, serão discutidos os critérios do encantamento, as qualidades buscadas em um parceiro amoroso, os perigos da atração física e a crise do casamento.

Psiquiatra, psicoterapeuta e escritor, Gikovate ficou famoso por abordar questões e problemas ligados a relacionamentos pessoais, tratando de sexo, amor, vida conjugal e vícios.

Publicou 34 livros, entre eles “Ensaios Sobre o Amor e a Solidão”, “Sexualidade sem Fronteiras”, “Uma Nova Visão do Amor”, “Mudar – Caminhos para a Transformação Verdadeira”, “A Arte de Educar”, “A Liberdade Possível” e “Para Ser Feliz no Amor – Os vínculos afetivos hoje”.

De 1980 a 1984, assinou na Folha a coluna “Comportamento Sexual”, depois chamada apenas de “Comportamento”.

+Amor 
Onde TV Cultura
Quando às quintas-feiras, às 19h30 (de 4/3 a 22/4)

 

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BBB traz à tona debate sobre abuso psicológico; especialista explica esse tipo de relacionamento https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/02/bbb-traz-a-tona-debate-sobre-abuso-psicologico-especialista-explica-esse-tipo-de-relacionamento/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/02/02/bbb-traz-a-tona-debate-sobre-abuso-psicologico-especialista-explica-esse-tipo-de-relacionamento/#respond Tue, 02 Feb 2021 18:16:32 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/lu2-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=598 O comportamento dos participantes do Big Brother Brasil,  reality show da Rede Globo, trouxe à tona o debate sobre abuso psicológico.

A conduta é caracterizada pelo exercício de poder do abusador sobre o abusado de uma maneira perversa, com ameaças, humilhação e desqualificação do outro, explica a psicóloga Ana Gabriela Andriani.

“O abuso psicológico pode ocorrer em diversos tipos de ambientes e relacionamentos, como no trabalho, em relações amorosas, no âmbito familiar e mesmo entre amigos”, diz Andriani.

Leia a entrevista com a psicóloga.

O que é o abuso psicológico? 
O abuso psicológico ocorre em uma relação caraterizada pelo exercício de poder do abusador sobre o abusado de uma maneira perversa, ou seja, com diversos tipos de ameaça, como a ameaça de rejeição, a ameaça de ser demitido –quando ocorre no ambiente de trabalho– ameaça de perder o amor, além de controle, domínio, exploração afetiva, humilhação e uma desqualificação do outro.

Essa situação pode ocorrer em vários ambientes e diferentes relacionamentos, como em uma relação amorosa, numa amizade, entre pais e filhos e no trabalho.

Nesse cenário de abuso, o abusado tem que se submeter ao domínio do outro e sempre fica com a sensação de que nunca o que tem para dar ao abusador é suficiente, é sempre pouco.

No trabalho, esse jogo de dominação ocorre quando o funcionário sente a necessidade de atender todas as demandas do chefe e se sente incapaz, duvidando da sua própria competência. Nesse caso, o abuso pode ser caracterizado por assédio moral e o profissional pode sofrer de burnout.

É importante a gente destacar os perfis de pessoas que se envolvem nessa relação de abuso. O abusador tem um perfil narcisista, que é uma pessoa que tem necessidade de receber admiração e reconhecimento. O abusador narcisista vai agir de forma para atender seus desejos. Ele não se coloca no lugar do outro, não tem empatia, não sente culpa. Pelo contrário, para ele o outro que é culpado pelos erros na relação.

O extremo desse perfil é o psicopata, que é um transtorno de personalidade. No caso do psicopata, ele nunca vai reconhecer seus erros, nunca vai achar que está errado. Se algum dia ele procurar ajuda de um psicólogo, por exemplo, vai ser por pressão e para entender a situação em que se encontra e dominá-la melhor. Ele não reconhece que está errado nunca.

Mas a psicopatia é o extremo desse perfil. Nem todo narcisista é um psicopata, embora os dois sejam abusadores. O narcisista, em algum momento, pode reconhecer seus erros e buscar ajuda de um terapeuta sinceramente, com o objetivo de mudar. Geralmente, o abusador narcisista foi vítima de algum tipo de abuso na infância ou em outros relacionamentos e desenvolve essa maneira de ser relacionar com os outros.

De qualquer forma, o abusador não aceita o diferente, só vale a opinião dele. Ele precisa se sentir único. Quando ele entra na relação, não se demonstra agressivo logo de cara. No início é sedutor e acaba se tornando uma referência para o abusado.

Já o abusado costuma ter uma personalidade mais insegura e, num primeiro momento, sente-se protegido e valorizado pelo abusador. Ao logo do relacionamento –porque, é importante dizer, os relacionamentos abusivos costumam ser longos–, a vida da vítima vai girando ao redor do seu abusador. Ela vai perdendo sua personalidade, pois faz e obedece tudo o que o abusador manda.

Mesmo antes de entrar no relacionamento abusivo, a vítima já costuma ter uma personalidade mais frágil emocionalmente, é insegura, vulnerável e muitas vezes solitária. É uma pessoa que nunca teve um relacionamento anterior, então não tem parâmetro do que é um relacionamento saudável. Ou também é alguém que já sofreu abuso na infância e reconhece a humilhação e a cobrança como amor.

Os abusos psicológicos podem ser explícitos, com xingamentos e humilhações, ou podem acontecer de forma velada, com o silêncio como uma forma de punição ou uma ironia mais sutil, por exemplo.

Quais são as consequências do abuso para a vítima? 
Essa pessoa vai ficando cada vez mais solitária, vai abrindo mão das outras relações para se dedicar somente ao abusador. Ela vai desenvolvendo um sentimento de inferioridade e fica cada vez mais insegura e dependente do outro.

A autoestima é muito abalada e ela sente uma dificuldade muito grande de sair desse relacionamento. E até mesmo de reconhecer esse relacionamento como abusivo. Por isso, essas relações costumam ser duradoras. E quanto mais longo é o relacionamento, mais a vítima vai perdendo sua personalidade.

E também é importante frisar que é o relacionamento abusivo é de dependência mútua. Como na dialética do senhor e do escravo de Friedrich Hegel, a existência de um depende da existência do outro.

O abuso pode gerar depressão e transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico. Também é possível que, com a depressão, ocorram doenças psicossomáticas, que são aquelas causadas por problemas emocionais do indivíduo. Podem ser dores musculares, enxaquecas e fibromialgia, por exemplo.

Como sair dessa relação de abuso?
Isso costuma acontecer quando a vítima já desenvolveu sintomas de depressão e ansiedade e vai buscar ajuda de um profissional de saúde mental. Ela vai pela depressão e, na terapia, se dá conta de que está em um relacionamento abusivo.

O abusado começa a perceber o sofrimento dele e que está perdendo sua identidade, que não age mais como agia antigamente, que não vê mais alegria nas coisas que via antes.

Às vezes, a vítima está se sentindo muito angustiada e começa a se abrir com amigos e familiares e é alertada de que está em um relacionamento abusivo.

O resgate da autoestima da vítima será trabalhado na terapia.

O abusador também deve procurar ajuda psicológica. Ele pode reconhecer seus erros e aprender que há outras formas de se relacionar com as pessoas. É comum que esse abusador seja uma pessoa de autoestima muito baixa e que também foi vítima de abuso em algum momento da vida.

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Psicanalista Maria Homem ministra curso gratuito O Amor nos Tempos do Eu, com participação de Gregorio Duvivier https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/18/psicanalista-maria-homem-ministra-curso-gratuito-o-amor-nos-tempos-do-eu-com-participacao-de-gregorio-duvivier/ https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/2021/01/18/psicanalista-maria-homem-ministra-curso-gratuito-o-amor-nos-tempos-do-eu-com-participacao-de-gregorio-duvivier/#respond Mon, 18 Jan 2021 10:00:25 +0000 https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/maria-300x215.jpg https://saudemental.blogfolha.uol.com.br/?p=578 A psicanalista Maria Homem ministra o curso online gratuito O Amor nos Tempos do Eu, com participação do colunista da Folha Gregorio Duvivier.

O workshop começa nesta segunda-feira (18) e terá três aulas, que serão transmitidas sempre a partir das 20h, pelo canal no YouTube da psicanalista.

Maria vai debater o amor pós-moderno e analisar como se desenvolvem os relacionamentos marcados pela fugacidade e pelo descomprometimento.

Na primeira aula, que terá a participação de Duvivier, a psicanalista e o escritor vão conversar sobre o amor e o desamor na época dos aplicativos de paquera e das redes sociais.

Na terça (19), Maria vai falar sobre sexo e desejo e, na quarta (20), sobre ciúme e traições.

A inscrição deve ser feita pelo site da psicanalista.

 

O Amor nos Tempos do Eu
Quando 18, 19 e 20 de janeiro, às 20h
Onde no canal Maria Homem no YouTube
Inscrição gratuita, pelo site da psicanalista

 

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