Debate sobre saúde mental deve ir além dos transtornos, diz criador da campanha Janeiro Branco

A depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, são 11,5 milhões de depressivos –5,8% da população. Esses são os dados mais recentes divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2017.

Quanto aos transtornos de ansiedade, como síndrome do pânico, fobias e estresse pós-traumático, 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o problema.

Para a OMS, no entanto, a saúde mental não é definida apenas pela ausência dessas doenças. É um estado de equilíbrio psíquico, físico e que envolve questões sociais.

É dessa forma também que pensa o psicólogo Leonardo Abrahão, idealizador da campanha Janeiro Branco, que tem como objetivo chamar a atenção da população para o tema.

A campanha foi criada em 2014 e promove ações como palestras, rodas de conversa e distribuição de folhetos informativos em todo o país.

“O objeto da campanha é a saúde mental. Com uma visão ampla que não é focada só na doença. Porque esse é um grande paradigma que a gente tem que romper. As pessoas pensam que saúde mental é doença. E saúde mental não é somente isso. As doenças, os transtornos mentais, são subconjuntos desse conjunto maior que é a saúde mental. Saúde mental vai muito além dos transtornos. Essa é a visão moderna do conceito de saúde mental”, explica Leonardo.

“Nós precisamos começar a falar sobre saúde mental com uma perspectiva que extrapole o paradigma da doença. Que passe por isso também, que ajude as pessoas a entenderem os transtornos, mas que também as ajude a olharem para dentro de si, a ter autoconhecimento, autonomia e autocontrole”, afirma.

A inspiração para a criação do Janeiro Branco veio com a existência de outras campanhas bem-sucedidas, como o Outubro Rosa (que foca o câncer de mama), e após ler o livro “Em Busca de Sentido”, do psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997).

Na obra, Frankl, que era judeu, descreve sua experiência quando ficou preso durante a Segunda Guerra Mundial em um campo de concentração nazista e fala sobre a importância de encontrar um propósito para viver, mesmo em situações extremas.

“Frankl é o pai da logoterapia, que é um tipo de terapia que trabalha a questão de sentido na existência humana”, diz Leonardo.

Com esse conceito de bem-estar em mente, a ideia de incentivar a população a cuidar da saúde mental surgiu durante uma campanha do Novembro Azul (voltada para o câncer de próstata), em 2013.

“Percebi que não havia uma campanha para a saúde mental, convidando as pessoas a pensarem sobre o tema, sobre propósitos de vida, sentido de vida e qualidade emocional de relacionamentos”, revela.

Janeiro foi escolhido para aproveitar a virada simbólica do Réveillon e do primeiro mês do ano, quando as pessoas costumam fazer planos para o futuro.

“É uma ideia simbólica de virada de ciclos. Para fazer uma pausa, dar uma respirada e pensar sobre si mesmo”, conta.

A primeira campanha aconteceu em 2014, em Uberlândia, Minas Gerais, cidade onde Leonardo mora.

Desde então, o Janeiro Branco se espalhou por várias cidades do país com a ajuda de voluntários, psicólogos e psiquiatras.

“Em janeiro de 2015, um vereador de Campinas propôs que o Janeiro Branco virasse lei, inspirando ações municipais para apoiar iniciativas.

Capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Maceió e estados como Pernambuco e Rio Grande do Sul também já estabeleceram a campanha como leis municipais e estaduais, respectivamente.

“É um processo de reconhecimento e legitimação da campanha. Estamos a caminho da lei federal também. O Brasil ainda vai ser conhecido como o berço da maior campanha que existe em prol da construção de uma cultura da saúde mental, assim como os Estados Unidos é o berço do Outubro Rosa”, diz Leonardo.

Janeiro Branco
Para saber quando as ações acontecerão na sua cidade, clique aqui e acesse o site da campanha ou acompanhe pelo perfil no Instagram (@janeirobranco) e no Facebook.