Terapia online é opção na pandemia de coronavírus, mas requer ambiente adequado, explica psicanalista
Na pandemia do novo coronavírus, a terapia online se tornou uma opção tanto para pacientes que já passavam por processo terapêutico como para pessoas que estão ansiosas ou deprimidas na quarentena.
Em um gesto de solidariedade, profissionais da saúde mental têm se disponibilizado nas redes sociais para conversar com os mais angustiados.
Cláudia Catão, psicanalista e pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo) explica que, nesse momento, muitas pessoas que têm procurado a terapia online estão buscando apenas um alívio em meio ao caos.
“Nesse momento, as pessoas não estão procurando a gente para processos terapêuticos. Elas estão procurando a gente só para uma conversa, uma orientação para organizar a angústia. Às vezes, é só uma sessão”, revela.
A psicanalista diz que não é preciso esperar o medo da pandemia virar um problema sério para procurar a ajuda de um profissional. “O quanto antes puder conversar com um terapeuta, mais rápido a pessoa se organiza. É possível que a pessoa faça uma sessão só e já se sinta bem. E, se gostar, pode dar continuidade ao processo terapêutico”, afirma.
Assim como no atendimento presencial, o paciente precisa ter empatia com o profissional para que o tratamento dê bons resultados.
“A questão da dupla terapêutica é uma questão empática. O paciente vai se sentir bem ou não com o profissional, convidado a permanecer ou não. É um processo que se dá naturalmente. Essa aliança se estabelece da mesma forma no atendimento presencial ou no virtual”, diz.
No entanto, na hora de procurar um profissional para iniciar um processo terapêutico é preciso ter alguns cuidados.
“Em primeiro lugar, confira as credenciais desse profissional e se ele tem registro no conselho que diz pertencer”, observa. Se for um psicólogo, deve ser cadastrado no Conselho Regional de Psicologia do seu estado, por exemplo.
No Brasil, os serviços psicológicos mediados por tecnologias precisam seguir a resolução 11/2018 do Conselho Federal de Psicologia, que liberou a prática da terapia online no país.
Um dos pontos importantes dessa resolução, explica Cláudia, é que o profissional deve estar cadastrado do e-psi, um site do Conselho Federal de Psicologia que reúne os dados de quem está habilitado para oferecer o atendimento online.
Por causa da epidemia do coronavírus, o conselho flexibilizou apenas para os meses de março e abril que psicólogos possam iniciar os atendimentos virtuais enquanto providenciam o preenchimento do cadastro.
É importante, ressalta Cláudia, que tanto o paciente como o profissional se comportem no ambiente virtual como se estivessem em consultório.
Não é adequado que as sessões sejam feitas com um dos dois deitados na cama ou com pouca roupa, explica.
“Eu atendo de frente para o meu computador e de costas para um jardim, tenho uma iluminação adequada, estou vestida adequadamente, olho para a câmera para o paciente se sentir observado por mim. Isso tudo é um preparo”, afirma.
A psicanalista também destaca que o paciente deve ter atenção com os seus dados virtuais. “Se o profissional oferecer atendimento por WhatsApp, Skype e similares, indague sobre a insegurança desses ambientes e solicite uma opção mais segura”, alerta. Claudia só atende pacientes por meio uma plataforma exclusiva, o Consultório Virtual Seguro.
“O Skype, por exemplo, tem muito atraso, a voz picota. E é muito inseguro. Quando a gente baixa o Skype, faz o download para termos e condições, a gente concorda em autorizar que se grave trechos das nossas sessões e que os dados sejam levados. Então isso é uma prática antiética que quebra sigilo e privacidade”, afirma.