USP vai testar tratamento para depressão grave com campos eletromagnéticos

O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) será o primeiro centro de pesquisa da América do Sul a testar os efeitos terapêuticos da magnetoconvulsoterapia, nova técnica de tratamento para a depressão grave que já é estudada em instituições dos Estados Unidos, do Canadá e da Alemanha.

A magnetoconvulsoterapia usa campos eletromagnéticos e é destinada a pacientes que não mostram resposta adequada ao tratamento com medicamentos, com risco de suicídio.

O procedimento tem apresentado menos efeitos colaterais do que o método tradicional, a eletroconvulsoterapia (ECT), feita com corrente elétrica. A ECT, conhecida popularmente como eletrochoque, foi desenvolvida na década de 1930 para tratar transtornos psiquiátricos, é feita com anestesia geral e induz a uma crise convulsiva por meio de uma descarga elétrica.

Já a magnetoconvulsoterapia também induz a crises convulsivas, mas não por corrente elétrica e sim por meio de um aparelho que produz um campo magnético muito forte. O método também é aplicado com o paciente anestesiado, inconsciente.

“A vantagem da nova técnica em relação à ECT é que ela provoca menos efeitos colaterais, como perda de memória e déficit cognitivo. A magnetoconvulsoterapia é mais moderna, sem choques elétricos, e os pacientes recuperam sua orientação mais rapidamente”, diz André Brunoni psiquiatra e professor da FMUSP.

A pesquisa com a magnetoconvulsoterapia é coordenada por Brunoni e pelo psiquiatra José Gallucci Neto.

O objetivo é comparar a nova técnica com a ECT, que ainda é o tratamento mais eficaz e de ação rápida contra a depressão grave.

Serão recrutados cem pacientes com depressão grave que não apresentem melhora mesmo com o uso de medicamentos psiquiátricos. Metade será submetida à ECT e a outra metade à magnetoconvulsoterapia.

Os testes terão início em março de 2021. Segundo o Instituto de Psiquiatria, em breve será divulgada uma data para iniciar as triagens de pessoas com diagnóstico de depressão grave, que queiram participar do estudo. O tratamento será gratuito.

Os pacientes farão de seis a doze sessões. No final do tratamento, será verificada qual foi a melhora clínica obtida com cada uma das técnicas, além dos efeitos em relação ao déficit cognitivo e perda de memória.

“Espera-se que a melhora na depressão seja similar, mas com menor perda de memória na magnetoconvulsoterapia”, afirma Brunoni.

Segundo o psiquiatra, já existem estudos preliminares sobre a eficácia da magnetoconvulsoterapia, com resultados promissores. “A novidade desta pesquisa é a comparação com a ECT, que é o tratamento mais utilizado atualmente em casos de depressão grave”.

No Canadá, um trabalho com 23 pacientes conseguiu reduzir em 44,4% a intenção de suicídio. Na Alemanha, uma pesquisa com dez voluntários mostrou que o tratamento pode diminuir a perda de memória.

Para que a técnica esteja disponível para a população em geral, Brunoni explica que, além da pesquisa comprovar sua eficácia, será necessária a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O equipamento de magnetoconvulsoterapia foi disponibilizado ao IPq para pesquisas por meio de uma parceria com a empresa dinamarquesa MagVenture. A pesquisa receberá o apoio de um projeto da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).