Chantagem emocional e manipulação são características do paciente com transtorno de personalidade borderline
Instabilidade. Manipulação. Chantagem emocional. Comportamento autolesivo. Essas são algumas características do transtorno de personalidade borderline, também chamado de transtorno de personalidade limítrofe.
“Como o próprio nome já diz, é um transtorno da personalidade. Ou seja, a personalidade da pessoa foi moldada de forma patológica e ela sempre foi assim. É a personalidade que é doente”, explica Elie Cheniaux, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCM-UERJ) e do Programa de Pós-graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PROPSAM-IPUB-UFRJ).
O diagnóstico do transtorno de personalidade só pode ser determinado quando o paciente completa 18 anos, mas as particularidades que o definem já estão presentes mais cedo na adolescência ou mesmo na infância.
Entre as principais características estão a instabilidade do humor, a falta de autocontrole ao se deparar com situações estressantes, a dificuldade em lidar com a frustração e a rejeição, e o senso de identidade distorcido. Tudo isso acaba gerando relações interpessoais problemáticas.
“Alguns sintomas muito comuns são o sentimento crônico de vazio, o abuso de álcool e outras drogas e o comportamento manipulador com chantagens emocionais. Também são comuns tentativas de suicídio, em geral sem a intenção real de morrer, o que está dentro do comportamento manipulador, de fazer chantagem emocional, e provocar autolesões, como usar objetos cortantes para ferir a própria pele”, diz o professor.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa do National Center for Biotechnology Information estima que 1,6% da população no país tenha transtorno borderline, sendo 75% dos pacientes mulheres.
Em uma primeira avaliação é possível que o borderline seja diagnosticado incorretamente como bipolar, mas são dois transtornos muito diferentes.
“É uma situação comum ter que distinguir o borderline do bipolar, mas são duas situações bem distintas. Em primeiro lugar, o transtorno bipolar não é um transtorno da personalidade, é um transtorno de humor. Então o indivíduo bipolar adoece a partir de um determinado momento. Ele apresenta episódios de depressão e de mania que se alternam. A doença parte geralmente de um primeiro episódio depressivo”, conta.
O curso das duas doenças também são diferentes. O transtorno de humor bipolar tem um curso episódico, em que a pessoa passa por períodos de depressão que podem durar de semanas a meses, assim como os de mania, mas ela também terá épocas de eutimia (sem sintomas), que podem permanecer por anos.
Já o curso do transtorno de personalidade é contínuo. Afinal, é a personalidade do paciente. “O borderline pode ficar depressivo em um momento, pode tentar o suicídio de repente, pode ficar agressivo de repente. É essa a personalidade dele, continuamente tem as alterações, é sempre desse jeito”, afirma.
Segundo Cheniaux, não existe uma medicação eficaz para tratar o transtorno borderline. “Alguns remédios podem melhorar a impulsividade, o controle de ansiedade e os sintomas depressivos. O tratamento é basicamente psicoterápico, que terá respostas somente a médio e longo prazo”, revela.
Um dos desafios para o paciente, explica a psiquiatra Jéssica Martani, é aceitar o diagnóstico e, por meio da terapia, iniciar o processo de autoconhecimento.
“O tratamento fará com que esses traços de personalidade fiquem cada vez menores e mais adaptativos. Não há uma cura, mas há uma maneira de lidar com as características da personalidade borderline”, diz Martani.
Para a psiquiatra, a família pode ajudar o paciente dando apoio para que ele não desista do tratamento.
Cheniaux ressalta que é importante que os parentes e amigos não retroalimentem o comportamento de manipulação e de chantagem emocional do borderline.