Pesquisa mostra diferenças entre buscas online sobre saúde mental feitas no Brasil e em Portugal
Um estudo divulgado nesta quinta-feira (18), elaborado pela subdivisão Health+Life da agência SA365, revela aumento nas pesquisas relacionadas à saúde mental em redes sociais e mecanismos de busca no Brasil e em Portugal durante o ano passado, quando começou a pandemia da Covid-19.
No Brasil, as pesquisas sobre ansiedade saltaram de 246 mil pontos, em novembro de 2019, para 370 mil pontos, na escala Google, entre os meses de abril a julho de 2020. Esse fenômeno foi acompanhado por uma diminuição na procura por termos ligados à depressão no mesmo período, com queda de 370 mil para 280 mil.
A metodologia utilizada do estudo se baseia na netnografia, que pode ser compreendida como um modelo de pesquisa etnográfica com enfoque maior nas comunidades digitais. Para isso, foram utilizados dados de popularidade do Google Trends, postagens no Twitter e monitoramento de grupos no Facebook e de comunidades no Instagram.
O objetivo do levantamento foi entender a popularidade e os discursos em relação às doenças mentais tanto no Brasil como em Portugal.
A indicação de que pessoas possam estar mais ansiosas, mas, ao mesmo tempo, sendo menos diagnosticadas com depressão chamou a atenção dos pesquisadores, já que uma das possíveis explicações pode estar no receio das pessoas em relação à Covid-19, que deixariam de procurar ajuda médica da forma adequada devido à pandemia.
“Vemos com ceticismo essa queda nas buscas sobre depressão, especialmente porque outros indicadores apresentaram aumento no mesmo período”, afirma Renata Assumpção, gerente da divisão Health+Life.
Também houve uma retração na romantização destes problemas de saúde (textos com apelo emocional e relatando casos pessoais), com um interesse maior por parte dos usuários em aspectos mais concretos como sintomas, diagnósticos e causas.
Manifestações físicas como falta de ar e pressão alta, comumente relacionadas à Covid-19, também apareceram associadas a outras buscas sobre doenças mentais.
Os dados do estudo mostram a importância do universo digital como rede de apoio neste momento. “Entendemos como relevante a atuação da indústria e de influenciadores para facilitar o diagnóstico e encaminhar as pessoas para o cuidado de um médico”, diz Renata.
A popularidade do debate sobre ansiedade vinha apresentando um crescimento orgânico desde 2015, sem variações bruscas. Um cenário semelhante também foi observado nas pesquisas relacionadas à depressão até 2019, já que antes da pandemia esta era a doença mais citada pelos usuários de redes sociais e mecanismos de busca nos dois países.
Essa predominância podia ser muita vezes explicada por fatores como o Setembro Amarelo (campanha de prevenção do suicídio) ou ainda devido a relatos de influenciadores como o humorista Whinderson Nunes, que falou abertamente sobre sofrer de depressão, declaração que foi amplamente divulgada pela imprensa.
No período pré-pandemia, também era notável uma romantização do debate sobre saúde mental. Textos que ganhavam repercussão maior nas principais plataformas sociais como Instagram e Facebook possuíam um forte apelo emocional, com poucas informações sobre sintomas e tratamento. Além disso, havia uma profusão de comentários condenatórios ao suicídio, tratando a questão como desvio de caráter ou “falta de Deus”.
Já durante a pandemia, os debates passaram a ser menos atrelados a postagens sobre depressão e mais associados a comentários sobre casos concretos. No entanto, foi registrada uma diferença entre os públicos brasileiro e português: a repercussão midiática no país europeu direcionou a atenção para o debate de saúde pública, com enfoque maior nos sintomas. Isso diferiu do que se observou no Brasil, onde a cobertura da imprensa se concentrou mais nas histórias e relatos das celebridades em questão.