Sensação de exclusão pode acarretar problemas de saúde mental a pessoas com deficiência, afirma psicólogo
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada em agosto deste ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostrou que 17,3 milhões de brasileiros com dois anos ou mais tinham alguma deficiência em 2019. O número equivale a 8,4% da população nessa faixa etária.
Segundo o IBGE, apenas 28,3% das pessoas com deficiência e em idade de trabalhar (14 anos ou mais) estavam na força de trabalho nessa época. Entre as pessoas sem deficiência, o percentual era superior, de 66,3%.
A força de trabalho é o conceito que reúne tanto os profissionais empregados (ou ocupados) quanto os desempregados (ou desocupados, que seguem em busca de novas vagas).
Para o psicólogo Flavio Vaz de Oliveira, fundador da plataforma Buscoterapia, a sensação de exclusão pode acarretar problemas à saúde mental das pessoas com deficiência.
“O sentimento de não pertencimento facilita o aumento de estresse, surgimento de ansiedade e de sintomas depressivos“, observa Flavio.
Além da menor participação no mercado de trabalho, uma das formas de exclusão das pessoas com deficiência é a falta de acessibilidade nas cidades, tanto em locais públicos como privados.
“A realidade é que nossas cidades são malconservadas, ruas esburacadas, calçadas quebradas. Para uma pessoa que não tem deficiência já é um desafio conseguir andar tranquilamente sem ter de olhar para o chão e não tropeçar. Pense, então, na dificuldade de uma pessoa com mobilidade reduzida. A falta de acessibilidade prejudica a qualidade de vida dessas pessoas. Imagine uma pessoa com deficiência visual ou um cadeirante desviando de buracos na calçada para andar, é uma missão quase impossível”, afirma.
A acessibilidade vai além de somente ter rampas de acesso ou caixas preferenciais. Ela tem de ser realizada inclusive na forma de atendimento às pessoas com deficiência. Esse é o trabalho da Inclue, uma startup fundada por duas pessoas com deficiência, Sonny Pólito e Rodrigo Piris. Devido a experiências ruins de consumo no varejo, eles decidiram lançar uma ferramenta de treinamento e um aplicativo para o público PCD (pessoas com deficiência) e também pessoas acima dos 60 anos, que podem ter mobilidade reduzida.
“Acessibilidade é um direito de todos os cidadãos. E as marcas não estão preparadas para atender as pessoas com deficiência e idosos e ainda não oferecem a elas uma boa experiência de compra. Isso faz com que tenham muitos obstáculos para consumir e pouco acesso ao varejo”, diz Pólito.
“O atendimento ajuda as pessoas com deficiência, por exemplo, a pegar os produtos que precisam, passar no caixa, acompanhar até o carro”, ressalta Piris.